Os mais jovens já perceberam o sentido estratégico da aposta de Haddad e se inclinam mais a apoiá-lo. A campanha terá um embate entre o futuro e o passado.
Aldo Fornazieri - Jornal GGN
Mesmo com uma avaliação de bom e ótimo de 15% e uma avaliação negativa de 49%, o prefeito Fernando Haddad deverá passar para o segundo turno das eleições de 2016. É claro que a disputa não será fácil e que o cenário das eleições ainda está se configurando, o que impede que todas as variáveis sejam conhecidas. Também há que se levar em conta os acidentes de percurso, a intervenção do acaso e os ventos da Fortuna que sempre acontecem em processos eleitorais. Mesmo assim, já existe uma conjuntura se insinuando, revelada pelas pesquisas de avaliação, pelos movimentos dos atores, pelas ações da prefeitura e pela conduta do eleitorado. Com isso tudo, é possível apontar algumas tendências da disputa municipal da Capital paulista.
Haddad, certamente, terá que enfrentar duras adversidades neste ano que o separa das eleições. A maior delas parece ser a alta rejeição ao PT e ao governo Dilma, fator que incide também sobre a avaliação negativa da gestão municipal. O PT agrega, no plano nacional, 38% de rejeição, segundo o Ibope. Na cidade de São Paulo este número deve ser ainda maior. Mesmo assim, o PT é o partido que mantém a maior preferência junto ao eleitorado, com 12%, seguido pelo PMDB e pelo PSDB, com 10% para cada um. Isto mostra que se o PT perdeu muito, já que em 2014 chegou a ter a preferência de 36% do eleitorado, PSDB e PMDB não ganharam nada.
O que se terá então é que Haddad deverá sair com um patamar de, no mínimo, 15% das intenções de voto para enfrentar a rejeição à Administração e ao PT. É preciso considerar que ele disputará as eleições numa condição ambivalente: ao mesmo tempo em que será candidato do PT e de uma coalizão partidária, será também candidato na condição de prefeito de toda a cidade. Este segundo aspecto deverá ser reforçado na estratégia de campanha. Ele será o único candidato que terá condição de se apresentar como representante dos paulistanos na sua generalidade.
Haddad criou um novo paradigma de governança de São Paulo
Para além desse problema da política geral, será no terreno das políticas públicas onde Haddad poderá agregar vantagem significativa. O prefeito vem administrando São Paulo com coragem e ousadia, implementando políticas públicas que dividem opiniões, mas que criaram um novo paradigma de governança para a cidade que será referência para o futuro. É assim com as ciclovias, com os corredores de ônibus, com a redução da velocidade nas avenidas, com o programa “Braços Abertos”, com o fechamento da Paulista e de outras vias na periferia aos domingos etc.
As pesquisas vêm mostrando que esses programas (ciclovias, redução da velocidade, corredores de ônibus etc.) têm o apoio majoritário dos paulistanos, mesmo com uma bateria de ataques de setores da mídia, principalmente de determinados programas de rádio e TV, que se especializaram não só em atacar Haddad, mas em agir contra tudo o que diz respeito ao bem público de São Paulo. Durante a campanha, Haddad terá mais tempo e mais espaço para mostrar e convencer, de forma racional, que essas políticas são inovadoras, modernizadoras e se conectam com as tendências mundiais das grandes cidades.
Os paulistanos terão que ser chamados a se confrontar com o seguinte dilema: manter São Paulo presa ao passado e aos seus problemas quase insolúveis, ou ousar e avançar rumo a um novo ordenamento urbano que tornará a cidade melhor e garantirá melhores condições de vida? Haddad terá que apostar na sua capacidade de convencimento acerca da racionalidade, da eficiência e da necessidade dessas políticas. Os mais jovens já perceberam o sentido estratégico da aposta de Haddad e se inclinam mais a apoiá-lo. A campanha de 2016 terá, desta forma, um componente geracional, de um embate entre o futuro e o passado, entre o moderno e o anacrônico.
Porquanto as novas políticas públicas dialogam com os jovens e com setores da classe média mais modernos, Haddad terá que recuperar terreno nas periferias, onde se concentra o grande eleitorado que lhe garantiu a vitória em 2012. Essa recuperação é possível, pois a atual gestão foi a que mais investiu na periferia nas últimas décadas. Basta destacar alguns pontos: foram construídos três hospitais gerais (Vila Santa Catarina, Brasilândia e M’boi Mirim) que não saiam do papel há 20 anos; até o início de 2016 serão 30 Hospitais Dia (na periferia) que desafogarão o dramático problema da demora nas cirurgias; são 15 novas UPAS; só em 2015 já foram entregues 33 mil vagas em creches; cada CEU hoje é dotado de uma Universidade Pública; são várias obras viárias de pequeno e grande porte; Heliópolis e outros quatro bairros periféricos são os primeiros de São Paulo que foram dotados de iluminação LED.
Será na capacidade de evidenciar a articulação de políticas públicas entre centro e periferia que Haddad poderá pavimentar seu caminho para a reeleição. Afinal de contas, reduzir o número de mortes e acidentes nas avenidas, além de se evitar tragédias, produzindo uma enorme economia no sistema de saúde, liberando leitos inclusive, algo que beneficia os moradores de periferia. O mesmo ocorre com o aumento da mobilidade urbana e da velocidade dos ônibus: quem ganha é o cidadão mais pobre, o que mais utiliza o transporte público, que reduzirá o seu tempo de transcurso ganhando qualidade de vida. A gestão de Haddad é inovadora justamente porque é capaz de construir este arco de alianças entre políticas públicas para o centro e para as periferias – políticas públicas para toda a cidade.
Tendo um bom conteúdo para defender e realizações para mostrar, durante a campanha Haddad ficará em pé de igualdade com dois possíveis adversários que hoje se valem de suas condições de profissionais de mídia para, de forma inescrupulosa, atacar sistematicamente a gestão municipal. Trata-se de Celso Russomano e de Datena. A legislação eleitoral deveria rever esta situação: profissionais de mídia que pretendem concorrer a um cargo público deveria se afastar da atividade, no mínimo, um ano antes das eleições. Ademais, a disputa fratricida por uma das vagas que se instalará entre os vários candidatos da oposição deverá favorecer Haddad.
Sofrendo um forte cerco da mídia, do Ministério Público, do Judiciário que, de forma estapafúrdia chegou a suspender o IPTU durante um ano, e do próprio TCM, que virou um entrave às políticas públicas municipais, a gestão Haddad terá que melhorar sua comunicação, que nunca foi boa, e a postura do próprio prefeito junto ao eleitor comum. Haddad não pode apenas fazer o discurso da racionalidade de suas políticas. Precisa: 1) explicitar mais o seu caráter como político, evidenciando os valores que defende e agrega e, 2) falar de forma a tocar mais as paixões, os sentimentos, o prazer, a dor, o medo e as esperanças dos cidadãos. Saber ouvir e saber o que e como falar são condições do político prudente. E todo o líder que for prudente é também virtuoso, pois não existe prudência sem virtude e virtude sem prudência. O Brasil está sedento por líderes novos, portadores dessas qualidades.
*Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Haddad, certamente, terá que enfrentar duras adversidades neste ano que o separa das eleições. A maior delas parece ser a alta rejeição ao PT e ao governo Dilma, fator que incide também sobre a avaliação negativa da gestão municipal. O PT agrega, no plano nacional, 38% de rejeição, segundo o Ibope. Na cidade de São Paulo este número deve ser ainda maior. Mesmo assim, o PT é o partido que mantém a maior preferência junto ao eleitorado, com 12%, seguido pelo PMDB e pelo PSDB, com 10% para cada um. Isto mostra que se o PT perdeu muito, já que em 2014 chegou a ter a preferência de 36% do eleitorado, PSDB e PMDB não ganharam nada.
O que se terá então é que Haddad deverá sair com um patamar de, no mínimo, 15% das intenções de voto para enfrentar a rejeição à Administração e ao PT. É preciso considerar que ele disputará as eleições numa condição ambivalente: ao mesmo tempo em que será candidato do PT e de uma coalizão partidária, será também candidato na condição de prefeito de toda a cidade. Este segundo aspecto deverá ser reforçado na estratégia de campanha. Ele será o único candidato que terá condição de se apresentar como representante dos paulistanos na sua generalidade.
Haddad criou um novo paradigma de governança de São Paulo
Para além desse problema da política geral, será no terreno das políticas públicas onde Haddad poderá agregar vantagem significativa. O prefeito vem administrando São Paulo com coragem e ousadia, implementando políticas públicas que dividem opiniões, mas que criaram um novo paradigma de governança para a cidade que será referência para o futuro. É assim com as ciclovias, com os corredores de ônibus, com a redução da velocidade nas avenidas, com o programa “Braços Abertos”, com o fechamento da Paulista e de outras vias na periferia aos domingos etc.
As pesquisas vêm mostrando que esses programas (ciclovias, redução da velocidade, corredores de ônibus etc.) têm o apoio majoritário dos paulistanos, mesmo com uma bateria de ataques de setores da mídia, principalmente de determinados programas de rádio e TV, que se especializaram não só em atacar Haddad, mas em agir contra tudo o que diz respeito ao bem público de São Paulo. Durante a campanha, Haddad terá mais tempo e mais espaço para mostrar e convencer, de forma racional, que essas políticas são inovadoras, modernizadoras e se conectam com as tendências mundiais das grandes cidades.
Os paulistanos terão que ser chamados a se confrontar com o seguinte dilema: manter São Paulo presa ao passado e aos seus problemas quase insolúveis, ou ousar e avançar rumo a um novo ordenamento urbano que tornará a cidade melhor e garantirá melhores condições de vida? Haddad terá que apostar na sua capacidade de convencimento acerca da racionalidade, da eficiência e da necessidade dessas políticas. Os mais jovens já perceberam o sentido estratégico da aposta de Haddad e se inclinam mais a apoiá-lo. A campanha de 2016 terá, desta forma, um componente geracional, de um embate entre o futuro e o passado, entre o moderno e o anacrônico.
Porquanto as novas políticas públicas dialogam com os jovens e com setores da classe média mais modernos, Haddad terá que recuperar terreno nas periferias, onde se concentra o grande eleitorado que lhe garantiu a vitória em 2012. Essa recuperação é possível, pois a atual gestão foi a que mais investiu na periferia nas últimas décadas. Basta destacar alguns pontos: foram construídos três hospitais gerais (Vila Santa Catarina, Brasilândia e M’boi Mirim) que não saiam do papel há 20 anos; até o início de 2016 serão 30 Hospitais Dia (na periferia) que desafogarão o dramático problema da demora nas cirurgias; são 15 novas UPAS; só em 2015 já foram entregues 33 mil vagas em creches; cada CEU hoje é dotado de uma Universidade Pública; são várias obras viárias de pequeno e grande porte; Heliópolis e outros quatro bairros periféricos são os primeiros de São Paulo que foram dotados de iluminação LED.
Será na capacidade de evidenciar a articulação de políticas públicas entre centro e periferia que Haddad poderá pavimentar seu caminho para a reeleição. Afinal de contas, reduzir o número de mortes e acidentes nas avenidas, além de se evitar tragédias, produzindo uma enorme economia no sistema de saúde, liberando leitos inclusive, algo que beneficia os moradores de periferia. O mesmo ocorre com o aumento da mobilidade urbana e da velocidade dos ônibus: quem ganha é o cidadão mais pobre, o que mais utiliza o transporte público, que reduzirá o seu tempo de transcurso ganhando qualidade de vida. A gestão de Haddad é inovadora justamente porque é capaz de construir este arco de alianças entre políticas públicas para o centro e para as periferias – políticas públicas para toda a cidade.
Tendo um bom conteúdo para defender e realizações para mostrar, durante a campanha Haddad ficará em pé de igualdade com dois possíveis adversários que hoje se valem de suas condições de profissionais de mídia para, de forma inescrupulosa, atacar sistematicamente a gestão municipal. Trata-se de Celso Russomano e de Datena. A legislação eleitoral deveria rever esta situação: profissionais de mídia que pretendem concorrer a um cargo público deveria se afastar da atividade, no mínimo, um ano antes das eleições. Ademais, a disputa fratricida por uma das vagas que se instalará entre os vários candidatos da oposição deverá favorecer Haddad.
Sofrendo um forte cerco da mídia, do Ministério Público, do Judiciário que, de forma estapafúrdia chegou a suspender o IPTU durante um ano, e do próprio TCM, que virou um entrave às políticas públicas municipais, a gestão Haddad terá que melhorar sua comunicação, que nunca foi boa, e a postura do próprio prefeito junto ao eleitor comum. Haddad não pode apenas fazer o discurso da racionalidade de suas políticas. Precisa: 1) explicitar mais o seu caráter como político, evidenciando os valores que defende e agrega e, 2) falar de forma a tocar mais as paixões, os sentimentos, o prazer, a dor, o medo e as esperanças dos cidadãos. Saber ouvir e saber o que e como falar são condições do político prudente. E todo o líder que for prudente é também virtuoso, pois não existe prudência sem virtude e virtude sem prudência. O Brasil está sedento por líderes novos, portadores dessas qualidades.
*Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
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