Hélio Consolaro*
Inseri neste blog no dia
07/10/2015, um texto intitulado “Então, a CPMF” quando já aparecia o médico Joanis
Samuel de Almeida, o mesmo que foi demitido pela ASF (Associação Saúde da
Família). Motivo alegado: cometeu discriminação ideológica
e política com pessoas nas quais mantinha contato profissional. Ele não é
funcionário público.
Escrevi na época: “Na assembleia
de orçamento participativo ocorrida no dia 06/10/2015, 20h, terça-feira, na
Emeb Fausto Perri, bairro Alvorada, Araçatuba, o médico do bairro (atende na
UBS) usou a palavra e desbancou o atendimento da saúde no bairro de uma forma
bem contundente.
Em muitas coisas, ele tinha razão, noutras, se tratava de questão ideológica [...]”
O vice-prefeito Carlos Hernandes
(PMDB), representando na assembleia o prefeito Cido Sério (PT), numa atitude
inusitada, nunca feita antes, fez um discurso político naquela oportunidade, rechaçando
o discurso do médico. Na época, o Dr. Samuel estava acompanhado por duas
senhoras da alta sociedade araçatubense. Elas entraram e saíram em silêncio do
recinto, estavam dando retaguarda ou apoio moral ao jovem médico.
Naquela oportunidade, ele não
citou nomes, apenas discordou, que é uma possibilidade de qualquer cidadão que
participa de assembleias de Orçamento Participativo. Não se pode brincar de
democracia, ela vai até as últimas consequências, e a brincadeira não pode terminar
no meio. Disseram as más línguas que ele era protegido de Cidinha Lacerda,
ex-secretária de Assistência Social de Araçatuba.
Na minha vida, procurei nunca ser
ingrato, a ingratidão é um mau sentimento, mas também radicalizei muitas vezes
na minha juventude, chegando a ser um inocente útil.
O padre usar o altar; o pastor, o
púlpito; o professor, a sua cátedra; e o médico o poder da farda branca para
fazer política partidária não ajuda na construção da democracia. A sociedade
precisa de lugares neutros para respirar, se livrar das disputas políticas.
Durante os 37 anos de magistério,
procurei não usar a cátedra para fazer proselitismo partidário, embora a minha
militância política fosse ostensiva na cidade. Quando algum aluno me perguntava
alguma coisa sobre política, eu me limitava a responder ao perguntado.
No 3.o Congresso de Agentes
Comunitários, conforme vídeo exposto pela Folha da Região, o médico fugiu do
tema propositalmente, levou até eslides prontos do “Fora Dilma”. Ele não
respondeu a perguntas, nem se exaltou com o momento. Não. Ele veio preparado
para fazer o proselitismo, tudo planejado.
Não estou defendendo que ele seja
queimado em praça pública, mas as ações de um profissional precisam ser norteadas
pelas boas maneiras. A democracia é regime político que mais precisa de
disciplina, principalmente de autodisciplina. Essa fogosidade ideológica do
jovem médico precisava de limites, porque a verdade não mora apenas de um lado.
Se se discute se nas repartições
é justo pôr o crucifixo, já que o poder público é laico, não se pode instrumentalizar
esse mesmo espaço para questões partidárias, muito menos quando se usa a farda
branca.
O radicalismo político (diferente
da radicalidade) às vezes toma conta da alma humana, principalmente da
juventude.
A pessoa cai nesse poço e não
consegue sair. A moderação chega com a idade. Quando chega, a maturidade se torna
um poço de sabedoria. Se mesmo velho, continuar porra-louca, é bom consultar um
psiquiatra.
Dr. Samuel é jovem, está se
construindo. Esse imbróglio em que se meteu fará parte de sua trajetória. Se fosse
meu filho, eu diria: “Tome mais cuidado na próxima. A sociedade está querendo
lhe jogar a máscara de arrumador de confusão. Não a vista! Vai sofrer muito com
ela, mas a escolha é sua. Não me leve a sério, sou um velho”.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista,
escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Surpreendente final, a ultima frase me confunde ...acho. O pai nao está seguro do seu conselho? O pai acha que a fogosidade da juventude é boa?
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