Hélio Consolaro*
Tenho um antigo livro, capa dura, que prezo muito, chama-se “Dicionário
Escolar das Dificuldades da Língua Portuguesa”, Cândido Jucá (filho), uma
publicação do Ministério da Educação em 1965. Um predecessor de Pasquale Cipro Neto
e de todos, como eu, cuidamos das picuinhas da língua portuguesa.
Não vi relação parental entre o atual político que faz parte
do governo provisório de Michel Temer, Romero Jucá e o autor do dicionário. Nem
é preciso, o currículo acadêmico do senador fala por si, pois é um intelectual.
Um homem de estirpe, como afirmam os elitistas. Isso prova que a cultura no
sentido restrito não enobrece a alma por si, não faz o caráter.
Não sei se o leitor percebeu em meus escritos: não gosto dos
jargões políticos, principalmente do campo político a que pertenço, a esquerda.
Coxinha, golpista, etc não fazem parte do meu vocabulário para pichar adversários,
mas isso não significa que eu discorde de meus companheiros. É apenas uma idiossincrasia
de minha personalidade.
Pelas gravações das conversas do ministro do Planejamento
Romero Jucá com o presidente da Braspetro, Sérgio Machado, percebe-se que o afastamento
de Dilma Rousseff da presidência da República foi um teatro, uma arapuca, coisa
armada.
Há gente tão radical, porque radical à direita e à esquerda
são insuportáveis, que para tirar o PT e a Dilma da política brasileira faz
aliança até com organizações criminosas. O Temer não vale nada, mas para tirar
os vermelhos da administração do país valeu tudo.
Não estou dirigindo estas minhas palavras a este tipo de
gente, mas àquela que foi embalada pelo patriotismo, acreditou na mídia televisiva
e impressa, achou que estava do lado bem e até participou de caminhadas,
passeatas, atos públicos, ou seja, pôs a cara para bater. Certamente está com
um gosto amargo na boca.
Mas eu sempre avisei que a verdade não mora de um lado só, que
há gente boa em todos os partidos, como há também os sem-vergonha, que o ser
humano é um saco de tripas em todas as classes sociais. Fique tranquilo porque
a esquerda também engana a gente.
Então, caro leitor, ser cidadão não é entrar na primeira
passeata que passar defronte da sua casa, ser cidadão é ficar sempre com um pé
atrás, ser cidadão é acreditar duvidando, analisar sempre, ver para onde o
barco vai. É o próximo passo para quem embarcou em canoa furada.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário
municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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