AGENDA CULTURAL

24.5.16

Enganaram você

Hélio Consolaro*

Tenho um antigo livro, capa dura, que prezo muito, chama-se “Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua Portuguesa”, Cândido Jucá (filho), uma publicação do Ministério da Educação em 1965. Um predecessor de Pasquale Cipro Neto e de todos, como eu, cuidamos das picuinhas da língua portuguesa.

Não vi relação parental entre o atual político que faz parte do governo provisório de Michel Temer, Romero Jucá e o autor do dicionário. Nem é preciso, o currículo acadêmico do senador fala por si, pois é um intelectual. Um homem de estirpe, como afirmam os elitistas. Isso prova que a cultura no sentido restrito não enobrece a alma por si, não faz o caráter.

Não sei se o leitor percebeu em meus escritos: não gosto dos jargões políticos, principalmente do campo político a que pertenço, a esquerda. Coxinha, golpista, etc não fazem parte do meu vocabulário para pichar adversários, mas isso não significa que eu discorde de meus companheiros. É apenas uma idiossincrasia de minha personalidade.

Pelas gravações das conversas do ministro do Planejamento Romero Jucá com o presidente da Braspetro, Sérgio Machado, percebe-se que o afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República foi um teatro, uma arapuca, coisa armada.

Há gente tão radical, porque radical à direita e à esquerda são insuportáveis, que para tirar o PT e a Dilma da política brasileira faz aliança até com organizações criminosas. O Temer não vale nada, mas para tirar os vermelhos da administração do país valeu tudo.

Não estou dirigindo estas minhas palavras a este tipo de gente, mas àquela que foi embalada pelo patriotismo, acreditou na mídia televisiva e impressa, achou que estava do lado bem e até participou de caminhadas, passeatas, atos públicos, ou seja, pôs a cara para bater. Certamente está com um gosto amargo na boca.

Mas eu sempre avisei que a verdade não mora de um lado só, que há gente boa em todos os partidos, como há também os sem-vergonha, que o ser humano é um saco de tripas em todas as classes sociais. Fique tranquilo porque a esquerda também engana a gente.  

Então, caro leitor, ser cidadão não é entrar na primeira passeata que passar defronte da sua casa, ser cidadão é ficar sempre com um pé atrás, ser cidadão é acreditar duvidando, analisar sempre, ver para onde o barco vai. É o próximo passo para quem embarcou em canoa furada.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP



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