Para honra ou desonra dos araçatubenses, conforme posição ideológica do leitor, Ivana Arruda nasceu em Araçatuba-SP. Leia! Artigo interessante.
"Eu não receberia prêmio de um governo que deu um
golpe, agiu em desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu
julgava íntegra e honesta e tem feito tantas barbaridades", diz a
escritora Ivana Arruda, que relata ter levado uma surra nas redes, ao
questionar a atitude de Raduan Nassar
247 – "Eu não receberia prêmio de um governo que deu um
golpe, agiu em desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu
julgava íntegra e honesta e tem feito tantas barbaridades", diz a
escritora Ivana Arruda, que relata ter levado uma surra nas redes, ao
questionar a atitude de Raduan Nassar. Leia, abaixo, seu artigo:
Você receberia prêmio de um governo golpista?
Por Ivana Arruda Leite - 23/02/2017
"Você receberia um prêmio de um governo golpista?"
Essa foi a pergunta que eu tive a sandice de colocar na minha página do
Facebook depois do ocorrido entrega do Prêmio Camões a Raduan Nassar.
Uma pergunta sincera e legítima que, claro, trazia embutida
minha resposta. Eu não receberia prêmio de um governo que deu um golpe, agiu em
desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu julgava íntegra e
honesta e tem feito tantas barbaridades.
Deus me livre de receber um prêmio dessa gente. Caso eu
estivesse muito dura e não pudesse me dar ao luxo de recusar a grana -ou caso
eu achasse que minha obra vale 100 mil euros, venham eles de onde vierem-, eu
pediria à comissão que depositasse o montante na minha conta e desse o assunto
por encerrado. Sem festa nem discurso.
Os primeiros comentários na minha página foram civilizados e
tentavam me esclarecer: 1) O prêmio foi dado no governo Dilma Rousseff (mas ela
já estava afastada na ocasião); 2) Quem deu o prêmio foi o Estado, não o
governo.
Só que aí os comentários foram subindo de tom, e a minha
página virou um lamaçal de ofensas e barbaridades. A alcateia petista ignara
babava e soltava fogo pelas ventas.
Como eu dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada
para sair dela o mais rápido possível, deletei o post. Vade retro! Voltem para
o inferno de onde vocês saíram. Afasta de mim, ó Pai, o visgo fétido que os
fascistas intolerantes espalham por onde andam. Fascistas, é esse o nome de
quem não admite que você tenha opinião contrária.
Sim, Raduan é um de nossos maiores escritores vivos e merece
todo o meu respeito. A devoção que tenho por seus livros é inatingível e
inatacável. Sendo ele quem é, pode falar o que quiser. Mesmo eu não concordando
com uma só palavra, dou risada e deixo para lá. O máximo que posso pensar é: os
autores geniais são homens comuns, tão sujeitos a falhas quanto qualquer outro.
Já o discurso do ministro da Cultura, Roberto Freire, me fez
morrer de vergonha, para dizer o mínimo. É inadmissível que um ministro que
estava ali para entregar um prêmio se meta num bate-boca ridículo e palanqueiro
como aquele.
Também foi lamentável a reação da plateia. Ok, eram todos
petistas, estavam ali para render graças ao escritor petista, mas as vaias e
palavras de ordem foram tão ridículas e inapropriadas quanto as do ministro.
Raduan assistiu impávido a um espetáculo lamentável. Note-se
que, em seu pronunciamento, não falou sobre literatura. Aliás, só saiu da toca
porque viu ali ótima oportunidade para fazer seu discurso político.
Ora, se Raduan pode falar, se o ministro pode falar (ou
quase), se a plateia pode vaiar, eu também quero expressar minha opinião sem
ser bombardeada pela torcida enlouquecida do burro-petismo.
Quase todos os meus amigos são petistas. No meio literário
contam-se nos dedos de uma só mão os que têm coragem de dizer que sonham com o
dia em que Lula fará companhia a José Dirceu nos banhos de sol matinais.
Mesmo assim, somos (ou éramos) capazes de sentar num boteco
e discutir a premiação do Raduan até altas horas entre gritos, dedos na cara,
deboches e incontáveis baldes de cerveja. No final, sairíamos todos bêbados e
tão amigos quanto antes.
Mas parece que discussão analógica virou coisa fora de moda.
Agora a onda é escrever no Facebook o que pensamos, correndo o risco de levar
chicote no lombo caso nossa opinião não esteja dentro do que preconiza o missal
da estrela vermelha.
A sorte é que sempre tem um "jornal golpista" que
dá espaço para desabafarmos.
Um comentário:
Fico com quem disse que quem premiou foi o estado. Daí, eu receberia. Não faria pronunciamento político e aí o escritor falhou.
Quanto a quem seja de esquerda, de direita ou de centro... coisa, mais ridícula no mundo contemporâneo
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