Eles não se lembraram dos conselhos do pai e da mãe: "Não mexa nas coisas dos outros..."
Hélio Consolaro*
Roubar energia é um furto engraçado, porque não se carrega nada, é como roubar a alma ou o sangue de alguém. A energia elétrica dá vida a objetos, põe-nos em movimento. Como conseguimos armazená-la, vendemo-la. Quem a tem, segura-a; quem não tem, quer comprá-la (ou roubá-la).
Explico o óbvio porque muitas pessoas de Araçatuba e Birigui, como este cronista, ficaram estupefatas diante da notícia dos "gateiros" que usavam energia da CPFL sem pagar o valor devido.
Não quisemos atirar o primeiro pau nos gatos, pois alguns são nossos amigos ou moram no quarteirão de casa. "Como o cara foi fazer isso!?" - é o pensamento que logo veio à cabeça.
Enquanto a imprensa local e regional noticiava, não encontramos tanta gravidade, mas quando saiu no Fantástico, a denúncia ficou mais forte. O Brasil inteiro ficou sabendo. Escutei na rua: "Os gatos caíram no pau".
Tomara que nenhum dos denunciados tenham participado de passeatas contra a corrupção, porque seria a desmoralização do movimento.
Para não pagar contas elevadas com seus estabelecimentos comerciais e industriais deram um jeito. A fornecedora, a CPFL, aproveitou a onda de combate à corrupção para fazer a denúncia, se vingar dos malfeitores, pois faziam isso há seis anos. Por que só agora?
Quem não quer pagar menos contas para sobrar dinheiro no fim do mês? Mas nem todos tiveram o atrevimento de fazer gato. Eles não se lembraram dos conselhos do pai e da mãe: "Não mexa nas coisas dos outros..."
Gambiarra, gato, essas coisas são próprias de lugares pobres, favelas, por exemplo. Gente grande, tida como bem de vida, fazendo o mesmo que o Zé Mané! Isso nos deixou pensativos.
A gente sabe que, quando somos patrão, pagamos pela energia dos empregados. A força do trabalho é energia transformando a natureza em mercadoria, mas há também quem pague mal os trabalhadores, roubando-lhes energia. Quem explicava isso era um tal de Karl Marx.
Patrão roubando patrão é um negócio estranho ao sistema. O negócio é pagar o prejuízo, contratar um bom advogado, diminuir o patrimônio e morrer de vergonha, se é que ainda temos esse sentimento. Ou então fazer uma promessa para São Dimas.
REPORTAGEM DO FANTÁSTICO
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
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