AGENDA CULTURAL

26.9.17

Tragédia de Andradina: descuido ou fatalidade

Três mulheres morrem em acidente de trabalho em curtume de Andradina

(O Jornal da Região, 26/09/2017)

Foto: Folha da Região, Araçatuba

Um acidente de trabalho acontecido às 14h de segunda-feira (25/9/2017), no Curtume Andradina, localizado no Bairro Pereira Jordão, matou as funcionárias Carla Cristina Pires Faria, de 35 anos, e Ângela Evangelista dos Santos, 43, as duas moradoras no Bairro Pereira Jordão; além de Thais Costa Martins, 29, residente no Jardim Europa. Elas ainda foram encaminhadas ao pronto socorro pelo resgate dos bombeiros e ambulância do município, mas já estavam mortas.

Hélio Consolaro* 

Na terça-feira, andando pelos escombros da pequena demolição que ando fazendo em minha casa, escorreguei e caí. O pedreiro ainda me advertiu:

- Cuidado! Tombo é uma das causas da morte de velho...
Deu-me vontade de lhe dar uma porrada naquele sujeito, como eu não mato nem barata, só fiquei no ímpeto, mas a advertência foi uma sentença. Caí mesmo. 
Eu não devia ter andado por lá sem equipamentos de segurança, aquela coisa do politicamente correto nas posturas para se evitar acidentes de trabalho. Classificadas como frescuras, mas que são válidas.
Assim, aconteceu na tragédia de Andradina. A máquina era velha, já estava para ser substituída (estava até comprada e entregue), mas precisava reformar a rede de energia elétrica. Marcou bobeira, o cachimbo caiu. Aconteceu a fatalidade (ou descuido)!
Morreram três operárias, não foram homens, são mulheres. Até o dono explicar que focinho de porco não é tomada, custar-lhe-á muito. A máquina enguiçou e se tornou assassina.
A tragédia de Andradina parece uma cena do início da revolução industrial na Inglaterra, quando não havia leis trabalhistas. O episódio poderá ser transformado num momento forte de conscientização e reflexão, tanto pelos trabalhadores, como pelos empresários, que a prevenção de acidente no trabalho em pleno século 21 não é frescura, é necessidade. 
Eram para ser cinco as vítimas, mas não havia chegado a hora de duas operárias, que faltaram ao trabalho por motivos diferentes. Nessas duas, ficou o sentimento de renascer, de o Universo ter  conspirado a favor delas. 
No feudalismo, só os escravos trabalhavam; no capitalismo o trabalho enobrece o homem, mas também, escraviza, mata.   

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