AGENDA CULTURAL

26.5.18

Caminhões pararam, mas o trem continua

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Hélio Consolaro*

Estou aqui pensando com meu computador sobre a locaute dos caminhões. Greve é movimento paredista de assalariados, locaute é de empresários. Afinal, quem tem um caminhão daquele tamanhão (apenas um) já é autônomo. Greve ou locaute, não estou discutindo a legitimidade do movimento, apenas o conceito. 

Mas há caminhoneiro parado por vários motivos: ou porque o contexto não permite que ele vá para a estrada ou então o patrão mandou parar. O patrão está fazendo locaute.

Todo movimento paredista é político, ainda mais num ano eleitoral, nem que a direção não queira isso, é uma consequência natural. Ele vai prejudicar ou beneficiar alguém.

O governo do PT segurava a agressividade do mercado, pondo a Petrobrás para produzir mais petróleo ou subsidiando os preços altos; já o governo do PMDB abraçou os preceitos neoliberais, deixando o mercado regular os preços, aí, com o Trump governando os Estados Unidos e desgovernando o mundo, ninguém aguentou. Ferrou!

Assim, estamos mirando no exemplo da Venezuela, mesmo com a liderança da esquerda preso. Como explicar isso? Na verdade, nesse mundo globalizado, os efeitos negativos ou positivos das decisões mundiais caem no colo de quem está governando, seja de esquerda ou de direita.

Nesse mundão sem perspectiva, cada um se vira para achar motivo para viver neste vale de lágrimas. Alguns aguardam o céu, outros esperam o seu time ser campeão, e assim empurramos nossos dias.

Mas o assunto aqui não é filosofia, trata-se de locaute dos caminhoneiros que não querem aceitar mais que o capital estrangeiro metam a mão nos bolsos deles por meio do aumento especulativo dos combustíveis. 

Há quem ainda acredite nas mudanças, que esse trem vai melhorar. Já perdi muito tempo com isso. Subi no trem em 1948, já passeei pelos vagões e vou descer sem ter contribuído com quase nada.

Os caminhões pararam, fizeram uma pausa para recompor prejuízos, mas o trem continua o seu caminho.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Itaperuna-RJ

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