AGENDA CULTURAL

27.5.18

Escravidão: o ser humano não é gente boa lá e cá

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Hélio Consolaro*

Estou atrasado com a leitura dos livros da TAG-Experiências Literárias, surgiram outros compromissos literários. Como me meto a escrever sempre alguma coisa sobre os livros lidos por mim, fica a obrigação, a cobrança de mim mesmo: acabou de ler, leia as resenhas alheias, as apreciações e escreva o seu texto.

O livro do mês de abril faz parte da literatura norte-americana, do autor muito premiado Colson Whitehead, "Underground Rail Road - Caminhos para a Liberdade", traduzindo a expressão inglesa do título: subterrânea estrada de ferro", que na verdade não era uma estrada de ferro, mas uma rede secreta abolicionista que ajudava pretos escaparem da escravidão sulista para o norte e para o Canadá. Como escreveu Sérgio Rodrigues: Colson fez uma metáfora.

SINOPSE 
Cora é uma jovem escrava em uma plantação de algodão na Georgia. A vida é infernal para todos os escravos, mas especialmente terrível para Cora. Uma pária até entre outros africanos, ela está chegando à maturidade, que a tornará vítima de dores ainda maiores. Quando um recém-chegado da Virgínia, Caesar, revela uma rota de fuga chamada, a ferrovia subterrânea, ambos decidem escapar de seus algozes. Mas nada sai como planejado. Cora e Caesar sabem que estão sendo caçados: a qualquer momento podem ser levados de volta a uma existência terrível sem liberdade.  

O meu livro de referência da literatura norte-americana sobre escravidão era "A cabana do pai Tomás", da abolicionista Harriet Beecher Stowe, que foi novela no Brasil nos anos 69-70. Também já assisti a alguns filmes, como: "12 anos de escravidão", "Amistad" e recentemente o filme de Quentin Tarantino "Django livre". 

No Brasil, há poucas obras literárias sobre a escravidão (poemas, romances, contos). A primeira lembrança são os poemas de Castro Alves e alguns contos de Machado de Assis. Fiquei surpreendido em saber pela leitura que os portugueses exerciam o tráfico negreiro também nos Estados Unidos.

Há um livro infanto-juvenil cuja autora a santista Isa Silveira Leal ganhou o prêmio Jabuti com ele "O menino de Palmares", em que cenário é o Quilombo de Palmares. Como professor de Português, adotei-o em vários anos o livro  para que a moçadinha aprendesse sob forma de narrativa a escravidão do Brasil. Isso foi na década de 80.

A fazenda Valentine no livro de Colson representava uma experiência de território livre pode ser comparada aos nossos quilombos, embora a experiência dos negros brasileiros fosse mais ousada.

A minha leitura da obra de Colson Whitehead foi tranquila, porque é uma narrativa bem construída cujos elementos se cruzam com fidelidade. Não se trata de uma história que se lê num só fôlego, pois o autor também tem uma preocupação de contribuir com a história real da escravidão norte-americana, portanto, rica em detalhes. Caiu tanto no gosto popular nos EUA que disputou o primeiro lugar nas vendas com o livro de Barak Obama.

O livro prova mais uma vez que escravidão é uma prova de que o ser humano não é gente boa. Uma boa indicação da curadora Cora Rónai.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ

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