AGENDA CULTURAL

22.11.18

Personagem é filha do sequestrador de sua própria mãe


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

De repente, chega a caixa da TAG Inéditos com o livro "A Filha do Rei do Pântano", 284 páginas, título homônimo de um conto de Hans Christian Andersen, cuja autora é a norte-americana Karen Dionne. 

Karen é uma autora de 65 anos, pouco conhecida no Brasil, que se tornou bastante conhecida nos Estados Unidos só em 2017, com esse livro se  passando a ser best-seller. 

Em páginas pretas, letras brancas, ela vai contando a história de Hans Christian Andersen no início de certos capítulos, cuja intenção é fazer um prenúncio muito vago do que vai acontecer na sua própria história. O interessante é que o conto do escritor inglês reproduzido no livro de Karen Dionne muda de nome,  se chama "A cabana". Vou explicar o porquê mais adiante. 

Hans Christian Andersen  (1805-1875) é um dos maiores escritores da literatura universal. Imortalizado por seus mais de cento e sessenta contos, escreveu também seis romances e mais de mil poemas. O sujeito não fazia outra coisa a não ser escrever.

O conto de Andersen, "A filha do rei do pântano", conta a história de Helga que cresceu sem saber de sua grande missão na vida: ela era a flor capaz de salvar seu avô, um rei egípcio, de uma grave doença. Durante o dia uma bela menina, à noite se tornava um feio sapo. Com a ajuda e o carinho de sua mãe adotiva, Helga precisará deixar aflorar o que de mais especial há dentro dela. 


Livro aberto, capítulo 5, onde há uma página preta com parte do conto de Hans Christian Andersen

Já a protagonista da história da autora norte-americana tem o nome de Helena, cujo pai é um descendente indígena e a mãe uma dinamarquesa (Viking). 

Esse paralelismo entre o conto (história curta) de Hans Christian Andersen e o romance (história longa) de Karen Dionne deixa o resenhista em dificuldades para adiantar o livro para o leitor.

No final, a narradora, Helena, diz que vai escrever um livro de sua história para as filhas e ele vai se intitular "A cabana", que é  o nome dado ao conto "A filha do rei do pântano" do escritor inglês. Na verdade, o livro de Karen Dionne devia se chamar "A cabana" por que sua história se passa no entorno de uma casa com essas características. A escritora faz esse jogo para valorizar seu livro e deixá-lo mais interessante.

Na narração da história de Karen Dionne, a autora em certos momentos escapa do passado e entra no presente, ou vice-versa, sem deixar sinais claros para o leitor. Essa simbiose entre passado e presente enriquece a narrativa.

SINOPSE: a mãe de Helena, personagem principal, é raptada com apenas 14 anos e levada para o meio de uma floresta, vai morar numa cabana. É bom lembrar que raptar mulher para casar é um costume entre os índios. 

O livro, despretensiosamente, mostra o choque de civilizações. Roubar a moça para se casar com ela, quando os pais punham objeção no casamento, era uma prática no século passado.

Sendo aí mantida durante doze anos, obrigada a viver em condições desumanas, sem acesso a outras pessoas, sem acesso a televisão, roupa, banho, nada. Sozinha com o seu raptor de cultura indígena vê-se grávida e mãe de uma criança que nasce e cresce a absorver aquela vida.

Helena, a criança, cresce, sem conhecer a história do rapto, aprende a caçar, a manejar armas, a defender-se, não conhece nada do mundo a não ser aquilo que um punhado de revistas "National Geographic" lhe mostra. 

Nesta revista aparece muito os índios brasileiros Yanomami, por isso o Brasil é várias vezes citado no livro.

Helena não sabe, mas essas revistas têm mais de 50 anos. Nada é como ela imagina ser. Idolatra o pai, um pai que maltrata a mãe. Uma mãe que ela aprendeu a desprezar. Até ao dia em que tudo muda.

Já adulta Helena mudou de vida, vive no mundo actual e construiu uma família feliz.

Mas, apenas até ao dia em que o seu pai escapa da prisão e lhe mostra que só ela o pode deter. Paremos por aqui, vamos ler o livro (sinopse: blog "Livro de vidro").

Confesso que fui me entusiasmando pela leitura à medida que ela avançava, como sempre um livro no começo é meio chato. Nem todos os autores têm a preocupação de segurar o leitor nos capítulos iniciais. Vale a pena queimar os olhos em "A filha do rei do pântano", de Karen Dionne.





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