AGENDA CULTURAL

3.2.19

Prostitutas do templo - resenha de livro

Personagens Tara e Mukta (tela de  Nath Araújo)
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Ao fazer a resenha de um livro lançado pela primeira vez em português, escrito em 2017 nos Estados Unidos, como "Todas as cores do céu", de Amita Trasi,  é quase impossível realizar uma análise mais profunda, porque o resenhista gosta de buscar referências para seus comentários. E elas não são encontradas.

Durante um ano assinei TAG Curadoria; agora, TAG inéditos. A direção do clube fornece poucos subsídios para seus leitores do segundo grupo (Inéditos) justamente porque os livros são lançamentos recentes e não foram submetidos a estudos literários mais profundos. Estou nessa situação ao término da leitura de "Todas as cores do céu", mês de dezembro, mas vou tentar.

Gosto muito de resenhas que abordam a forma de construção do livro, que não fique apenas na explicação do conteúdo. Pode ser um recurso simples, como as citações de nomes, lugares e anos ao iniciar cada capítulo de "Todas as cores do céu".

As personagens da narrativa vão vivendo o mesmo enredo como tese de determinismo social de Hippolyte Taine. Exemplo: Mukta, sendo filha de prostituta, lutou para descobrir o seu pai, mas não se empenhou em descobrir o pai de Asha, mesmo sendo a mãe dela, apesar de desconfiar que fosse Arun Sahib. Mukta aderiu ao costume de dizer que filho de prostituta não tem pai. Não há saída.

O livro apresenta dois personagens narrador: Mukta e Tara. O mundo feminino indiano é apresentado por dois prismas, uma mulher da casta inferior e a outra de casta mais elevada. Casta e classes sociais são mais ou menos sinônimas. Essa habilidade da autora leva o leitor a ser partidário das mulheres acontece porque não há um personagem narrador masculino. Amita Trasi não foi desonesta nisso, trata-se de um recurso retórico na construção da narrativa.

Muitos costumes apresentados no livro já são proibidos por lei na Índia, mas estão arraigados na sociedade, como é o caso da deusa Yellamma consagrar as meninas órfãs como prostitutas do templo. A lei proíbe, mas o povo pratica. É isso mesmo, como acontece no Brasil com o racismo. 
Escritora Amita Trasi

Podemos chamar "Todas as cores do céu" de um romance de tese.  Amita Trasi não defende nenhuma revolução armada ou coisa parecida, mas o engajamento das pessoas na luta contra essa situação na Índia, via ONGs, trabalhos sociais em parceria com o governo local, embora também denuncie a corrupção no poder público de lá.

Amita Trasi agarra o leitor pelas ventas e consegue levá-lo até a última linha do livro. Apesar de meu conhecimento de montagens de narrativa, ela me encheu os olhos de lágrimas em certos momentos da leitura. 

Recomendo a leitura do livro "Todas as cores do céu", Amita Trasi, uma indiana que foi morar nos Estados Unidos. Apesar de ser uma obra "água com açúcar", ela nos ajuda a refletir o momento político em que vivemos no Brasil.  
    

Um comentário:

Arthur Claro disse...

Este livro parece bom. Acho que vou anotar para não esquecer.

Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com