AGENDA CULTURAL

26.3.19

Um casamento americano: um drama da negritude



*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatujba-SP

Você, caro leitor, que gosta de histórias ambientadas em nosso tempo, precisa ler “Um casal americano”, de Tayari Jones, que já escreveu quatro livros e tem Barak Obama como seu leitor.  Ela apresenta em seus livros o “novo Sul”, pois mora em Atlanta, sai, portanto, do tema da Guerra Civil.

A autora é tão jovem que nasceu em 1970, quando o selecionado brasileiro conquistou o tricampeão do mundo e este croniqueiro já estava no segundo ano de faculdade. E mais: há personagem vidrado em SUV, aquele jipe caríssimo.

Leia o resumo, para conhecer um pouco mais da história. Com ele, não pretendo estragar o prazer de ninguém (spoiler). Na narrativa, não há um personagem branco, todos são negros. Também é um casal americano por isso, não há a miscigenação como ocorre no Brasil. Há momentos da leitura que até nos esquecemos disso, mas nem por isso a questão racial norte-americana fica ignorada. No enredo, a justiça impede a felicidade de Roy e Celestial.

Há uma outra perspectiva de leitura: não se trata de um casal de negros americanos, mas de americanos, independentes da cor nos seus sentimentos. Não há personagem vilão na história, o triângulo amoroso Roy-Celestial-André tem um agente vil: a realidade social.
 
Tayari Jones
RESUMO: recém-casados, Celestial e Roy moram em Atlanta, Geórgia, e são a personificação do sonho americano: ela é uma artista em ascensão e ele, um jovem executivo. Mas, durante uma viagem ao estado de Louisiana, Roy é preso e condenado a 12 anos de reclusão por um crime que não cometeu. Separados pela injustiça racial, os dois precisam encontrar uma forma de salvar seu casamento e superar as circunstâncias.

O livro está dividido em três partes: A música da ponte, Prepare uma mesa para mim,  Generosidade. Cada capítulo tem o nome de um personagem que é o seu narrador, portanto, há três narradores de primeira pessoa.

Enquanto Roy fica preso, seria quase impossível tocar a narrativa apensas com as visitas semanais de Celestial ao presídio. Então, na primeira parte (A música da ponte), a autora usa o artifício das cartas. Roy escreve e Celestial responde, por elas os fatos andam.

Um bom livro, bem montado, com um final espetacular, em que o triângulo amoroso se desfaz, um exemplo de narrativa. E também excelente para os leitores que querem conhecer os Estados Unidos por dentro, principalmente aos mais jovens. Edição: TAG e Arqueiro, 365 páginas, excelente encadernação, com marca-páginas e um pré-estudo encartado. R$ 55,90. Tradução: Alves Calado.

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