Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Sempre ouvia falar da hidroginástica, exercícios físicos na água, na piscina ligeiramente aquecida. O ortopedista me pôs em xeque: caminhar, tomando anti-inflamatório ou parar com as caminhadas matinais. Assim deixei a Helena caminhando sozinha.
A nova opção era a hidro, mas como não sei nadar, enrolei dois anos para frequentar piscina três vezes por semana. O Cridão me arrastou pra lá. Logo ele, sujeito entrevado.
A turma das 14h é composta de idosos mais tronchos; das 15h, velhinhos ainda inteiros. Lá há duas piscinas com sessões conjuntas, dos homens e das mulheres. Os tarados também envelhecem.
Entrei na piscina na quentura da eleição de 2018. Já cortei o problema pela raiz, não fale de política se quiser ser meu amigo. E assim, a hidroginástica é um ambiente alegre, momento de terapia.
Na sessão das 14h, há um velhote, pançudo, baixinho, com apelido de Jacaré. Na troca de turmas, eu sempre digo:
- Não estou na turma das 14h porque não entro em lagoa que tem jacaré!
No vestiário, se dão as conversas mais apimentadas. Não é muito diferente de um banheiro escolar. Na hidro, os meninos renascem nos velhos.
Quem come picadinho de urubu, não tente gemer no vaso sanitário, pois vai ser xingado por aqueles nomes lindos.
Como há um baixinho na turma, o bullying sempre é feito em cima ele, mas a criatura dá motivos, conversa demais durante as sessões, irrita. Além disso, é o único corintiano diante da maioria absoluta de palmeirenses.
O Jacaré, além de ter um apelido exótico, é corintiano encardido da turma das 14h. Quando sai do banheiro, arrumadinho diante da turma das 15h, traz uma toalha do Corinthians nas costas e insultando:
- Quem vai beijar o manto?
Vira uma gritaria geral. Eu grito todas as vezes: "Essa toalha é fedida". Jacaré e o Baixinho Invocado, dois corintianos encardidos, quando se encontram no corredor, vivem cochichando.
Mas outro dia a instrutora (sempre é esperada a mais linda) tirou fotos com as crianças que fazem natação e postou na página da academia. E escreveu como legenda: "Estes são meus peixinhos". Por isso, estava o maior cochicho no banheiro dos velhos:
- Com os velhos cascudos, ela não tira foto!
Aí, um dos colegas que fala pouco acrescentou:
- Já que estamos falando de peixe, o melhor é falar "velhos traíras!". Só risadas.
Diante de tanta balbúrdia, o dono da academia foi ao banheiro e perguntou:
- Qual é o problema?
Todos se calaram, como se fossem um bando de moleques pegos em flagrante. Que bom! Revivíamos nossa vida escolar.
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