Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
A gente lê cada coisa, às vezes tão criativa, que tais
frases acabam nos alegrando. Recebi uma notificação de um site de economia que
dizia isto: "Bilionário mora ao seu lado", que é também título de
livro.
Pensei nos meus pobres vizinhos que como eu pensam que são
ricos porque tem casa própria, um
pangaré na garagem, e todos os dias tem uma mesa farta. Não havia nenhum
bilionário entre eles, só se o sujeito disfarçava muito bem.
Na verdade, meus vizinhos (e eu também) são ricos que se
contentam com pouco, vivem a alegria, como se dizia entre os poetas árcades
"aurea mediocritas", ou seja, ter o suficiente para viver. Mas nem
todos os meus vizinhos pensam assim, porque alguns não saem da fila da
lotérica. Ainda acreditam em Papai Noel.
Mas o que vale ter um bilionário morando ao meu lado, se ele
for um muquirana, que não cumprimenta os pobres. A riqueza dele só vai me
lembrar que sou pobre. Aliás, gente de muito dinheiro se reúne num lugar só,
nos condomínios de luxo, não vai morar em bairro.
Cutuquei o cérebro para me lembrar de alguém bilionário na
minha vida, porque segundo os interesseiros, se a gente não for rico, pelo
menos sejamos parentes de um bilionário. Confesso que não vejo vantagem nisso.
Eu me lembrei de um amigo que não trabalha de empregado de
forma alguma, que sempre me diz: "Você viu algum assalariado ficar rico
trabalhando e recebendo mensalmente?"
Ele passa fome, mas carteira assinada nunca. Esse meu amigo
é leitor fissurado de biografias, como também dos filmes que reproduzem a vida dos bem-sucedidos. O sonho
dele é ser Bill Gattes.
O sujeito mora longe, mudou-se de Araçatuba, porque por
aqui, o gado é marcado. Segundo ele, não ficaria rico nunca, cada um já tem seu
destino traçado, não há mobilidade social.
Passei-lhe um zap:
- Então, cara, você é meu amigo bilionário?
Ele soltou um kkkkkk e emendou:
- Ainda não, mas não desisti. Moro debaixo da ponte, mas não
recebo ordens de patrão!
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