Rosas de Ouro 2020 |
Neste carnaval de 2020, também me fantasiei. Eu era um nobre, minha casa era meu castelo e Araçatuba, o meu reino. Era o jogo do faz-de-conta, porque nunca quis ter nada além de minha casa.
Eu sei que há muita gente que não tem nada e perde tudo nas enchentes. Esse pessoal tem a minha solidariedade. Sei de tudo isso, mas o carnaval é a festa onde o "eu" é um déspota.
E eu me acho dono da cidade, todas as ruas e lugares públicos são meus. Servem-me água, energia elétrica, recolhem o esgoto de meu castelo e muitas outras coisas.
Na véspera, fui a uma bodega, onde um nobre do reino promovia um caraoquê. Afinal, estava só, a baronesa havia viajado. Fui de carruagem alugada, Uber.
Pus a mim mesmo a mesa do café. Não tenho vassalos, é bem melhor não ter que mandar em ninguém. O meu castelo ainda está habitável. Uma vassourada ali, uma passada de pano ali, arrumar a cozinha da pia.
Na terça-feira de manhã, acordei tarde. Afinal, era o descanso de um barão. Peguei minha carruagem e fui até o palácio da viscondessa para ver como estava a velhinha. O meu irmão, o barão de Tralalá, tinha ido buscá-la para o almaço. Fiquei aliviado, uma obrigação a menos.
Assim, fui ao castelo Rondon cujo conde serve os convivas com bons pratos, buscar uma comida pronta. Com R$ 10,00 almocei no meu castelo como príncipe. Nem notei a falta da baronesa.
Às vezes, as pessoas reclamam de tudo, vivem mal-humoradas, com úlcera e câncer. Eu me contento com aquilo que o rei deposita mensalmente no banco da aldeia.
A baronesa estava preocupada e passava mensagem pelo celular, a toda hora, perguntando como eu ia almoçar. Como acontece a ela, muita gente tem preocupações inúteis.
Durante o almoço, eu me refestelava no sofá, vendo as súditas mostrando a quem quisesse ver suas tuberosidades calipígias no carnaval da televisão.
Quando a moleza da sesta chegou, tive um pesadelo: a baronesa chegando, pondo ordem no castelo.
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