AGENDA CULTURAL

19.5.20

Quem sabe se a pandemia não seja uma necessidade

 




Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP

Uma chinesa de Xangai deu um depoimento interessante sobre a pandemia do coronavírus: "O céu ficou absolutamente azul, um azul maldivas. A gente passou a ouvir os pássaros”. No Brasil, as emissões de carbono caíram 25,2% no pico da quarentena, que aconteceu entre 20 de março e 3 de abril de 2020.  Na quarentena, nem tudo é prejuízo.

Parece que um ser superior, que muitos o chamam de Deus ou a própria Terra, que alguns admitem ser um ser vivo, esteja nos dando um recado: vamos mudar o jeito de viver, diminuir a velocidade de nosso cotidiano? Mas a gente não enxerga, não obedece, não faz uma leitura correta dos fatos.

Diz a sabedoria popular que Deus escreve certo em linhas tortas. Os teólogos, mais sofisticados, dizem que a vontade divina se revela no percurso da história. Basta entendê-la.

Os milagres acontecem, basta ter olhos para vê-los. Eles não aconteciam apenas no tempo histórico de Jesus Cristo, mas tropeçamos neles na atualidade. A ciência é uma estrada por onde caminham os milagres. O problema que há gente que não ausculta nem seu próprio corpo, como vai ouvir o planeta... 

Há aquela frase cristã: quem não aprende no amor, vai reconhecer o erro na dor. E assim, o discurso tecnológico da nova geração foi derrotada por um vírus, miudinho em comparação ao nosso tamanho, levamos um coice de mula de um merdinha. 

Há quem defenda que a Terra de vez em quando se sacode para se livrar dos inconvenientes. Como o cachorro pulguento, chacoalha o corpo para expulsar tais insetos conforme pode; com excesso de habitantes, a Terra promove uma calamidade para que diminua o número de habitantes. Não foi à-toa que tudo começou na China, país superpopuloso.     

Já li nalgum lugar que a pessoa simples, que não quer ostentar poder, nem através da comida, não esbanja, é o ser mais ecologicamente correto. A gente tem a mania de discorrer sobre a justiça social e a distribuição de renda como se todos os seres humanos num futuro próximo pudessem ter o padrão de consumo da classe média norte-americana.

Se essa tese se concretizar um dia, teremos a destruição do planeta. Não queremos que a população empobreça, mas que haja uma distribuição equitativa da riqueza cuja proprietária é a Mãe Terra: Gaia. 

Aumentar o consumo é arrancar cada vez mais a riqueza da Terra, numa atividade extrativista. É destruí-la. O padrão de consumo da classe média é esbanjador, basta perguntar para um lixeiro que recolhe os detritos domésticos de nossas cidades. O lixo dos condomínios ricos é volumoso. 

Tomara que a pandemia não tenha uma passagem em vão, seja uma lição para a humanidade, para que não sejamos tão malignos. Vamos dar uma alegria ao criador, mostrando que seu plano está dando certo, que ele não nos vire as costas, não nos abandone, pare de nos castigar.       

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