AGENDA CULTURAL

25.7.20

Festas virtuais com peladões


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP


Sempre escrevi que a cidade pulsa depois da meia-noite, principalmente depois do advento da energia elétrica e da iluminação pública. Apenas os puritanos acham que todos dormem depois desse horário. 

Apesar de ser católico de formação, cultivando sempre a espiritualidade, entre o sacro e o profano, fico com o último. O sacro é um saco.

Eu me lembro de um vizinho idoso da casa de meus pais, com quem vivia, gritava o dia inteiro: “É um saco!”. Acabei incorporando tal interjeição. Pegou até um apelido: “Véi Saco”.      

Leio que em Araçatuba anda tendo festas em condomínios horizontais com a presença de ex-jogadores famosos. O pessoal mais jovem não aguenta ficar sem as baladas. 

E o prefeito precisando mudar a cidade de faixa, melhorar o seu desempenho no combate à doença (e conseguiu). Mesmo em situação de risco coletivo, há os que gostam de viver como se não houvesse amanhã.

Radialistas e sites noticiosos pegaram no pé das autoridades, exigindo fiscalização da Prefeitura que, segundo eles, tem olhos apenas para ver as festas dos pobres. Casa de conjunto habitacional “Minha Casa, Minha Vida” não promove o distanciamento social e suporta toda a família em fins de semana. 


Então, há gente que insiste em dizer que a pandemia mia para todos, mas não mia não. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco, principalmente na hora do tratamento. Farra na periferia é boteco e baile funk, mas dificilmente a polícia deixa acontecer em tempos de pandemia.


Para os mais cautelosos, há festas on-line sendo promovidas por aí, verdadeiros bacanais pelo sistema de videoconferência, sem risco de contaminação. Imaginar é a saída, não engravida, nem se contamina com as DSTs. E agora, não pega a covid-19.

Durante o dia, usa-se a plataforma para trabalhar, home office; à noite, a mesma sala se transforma em local de diversão, com momentos de sacanagem. 

Cada usuário paga o seu linque e festeja em sua sala, sendo visto apenas na janela virtual por centenas de participantes. Pelados, peladões e masturbação. Nem sempre, caro leitor, sala de porta fechada significa trabalho árduo.


Sempre foi assim, o bem e o mal 

percorrem as mesmas estradas. 

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