Escrever é entregar seus pensamentos para dividir com o outro a sua visão de mundo! |
Como virei escritor? Tem coisas que são importantes, mas nem percebemos. As reflexões resgatam fatos e condutas que foram importantes! Nas bancas de jornais e revistas, como a desejar pirulitos e doces, eu olhava fascinado para quem lá trabalhava e pensava como deveriam ser felizes, pois liam todas as revistas, jornais e livros sem gastar nada, apenas para passar o tempo.
Sonhava em ter ou trabalhar em uma banca de jornais, mas não consegui. Ficava lá um tempo enorme vendo as capas e primeira páginas. Depois descobri que vendiam cigarros e coisas quase proibidas, mas eu já era adulto. As revistas de adultos, os caderninhos de Zéfiro e derivados ficavam na parte superior, inacessível às crianças.
LIVREIRO EZEQUIEL
Na faculdade continuava o fascínio pelas bibliotecas. Queria ser mais íntimo dos livros, me associar a sua produção e distribuição, mas queria mesmo comprá-los e tê-los comigo. Também os tenho agora no computador, que evolução!
Amigo de meu irmão era livreiro e vendia livros para os alunos e professores da universidade. Foi uma descoberta sensacional e fiz uma parceria com Ezequiel. Ele montaria um armário vitrine com os livros dentro diretório acadêmico. Nos intervalos eu ofereceria os livros aos amigos e a cada dez livros vendidos, eu ganharia um de minha escolha. Assim consegui iniciar a minha singela e metamórfica biblioteca.
LIVREIRO FONSECA
Eram livros técnicos e depois de alguns anos de graduado e iniciado na vida acadêmica fiz amizade com Fonseca, outro livreiro, mas que vendia apenas obras de qualidade literária inquestionável. Obras que não tinha nas livrarias comuns como poesias, obras completas, raridades de filosofia e educação. Nem sei como se aproximou de mim, mas acho que desconfiou que eu gostava desses assuntos e assim fizemos uma longa relação leitor e livreiro.
Com os livreiros, aprendi a confiar sem muito critério, pois entregavam obras caras e passavam depois de 1 a 3 meses para ver se iria ficar com os livros e como iria pagar. Deveriam vender muito, pois é uma prática comercial quase que suicida. O seu grito de chegada era sempre o mesmo:
- Dr. Este livro tem que ser lido por pessoas como você!
LIVREIRO TOTA
O sonho de livreiro é virar editor e Tota não seria diferente. Era um dos mais eficientes vendedores de livros. Os de minha autoria, comprava às dezenas para o seu grande elenco de clientes fixos. Depois de envolver o filho em seu negócio, Tota acabou virando editor e passou a publicar também, além de vender livros. Está no mercado até hoje!
LIVRARIA E ESCRITOR
Desde cedo adquiri o hábito de ir todos os sábados em livrarias. Os funcionários já sabiam e reservavam ou apontavam para os lançamentos ou chegada de alguma obra mais rara. Essa cumplicidade me rendeu algumas obras interessantes. Depois de algum tempo, acabava fazendo lançamento de livro ou um sarau cultural que rendia boas vendas para eles! Sempre achei que livraria é casa cultural mais ampla.
Eu queria um pouco mais do que consumir livro, eu queria escrever e publicar livros. Quando achei que minha trajetória tinha algo diferente a ser revelada, dei início a esse aprendizado, iniciando-me na tradução de obras em inglês e espanhol.
Traduzindo, fui me familiarizando com a arte de escrever e montar um livro, desde técnico até o mais reflexivo e aprendi muito com o Carlão e Júnior na Dental Press Editora junto com Laurindo e Tereza.
Assim comecei a escrever de artigos a livros. Aos amigos que pedem dicas, primeiro reflita se você tem algo de novo ou diferente a dizer. Para Darcy Ribeiro, escrever é ter coisas para dizer. Se sim, ao fazer o plano da obra, lembre que o livro ou artigo é uma obra autoral, deve ser única e não uma cópia ou versão de outra que já existe. Autoral significa a sua visão de mundo, o seu jeito de olhar as coisas e a sua interpretação dos fenômenos relatados. Ah, e não se engane, não se aprende escrever lendo muito, se aprende escrevendo muito!
REFLEXÃO FINAL
Escrever é dividir o que aprendeu e criou com o maior número possível de pessoas para prolongar o tempo de duração de sua visão das coisas (para o bem e para o mal)! Se você não tem esta intenção e quer se prolongar apenas no contexto de sua família e amigos, vale a pena investir na oralidade! Kant disse: “não somos ricos pelo que temos, mas sim pelo que não precisamos ter”.
(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP-FOB Bauru-SP. consolaro@gmail.com
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