AGENDA CULTURAL

22.7.20

Fábrica de aleijados

Tela de Eugênio Sigau

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
    Antigamente, era muito comum encontrar pessoas "aleijadas". O defeito em si se chamava "aleijão". Termos que estão se tornando quase um arcaísmo, oriundos do latim vulgar. Vou usá-los para chamar mais a atenção ao problema.

Ainda há muitas expressões com resquício de nosso passado mais desumano, como o "sujeito está dando uma de joão-sem-braço", pois não havia previdência, então os aleijados pediam esmolas, viviam da caridade pública, ficavam espertos. 

Havia muitos aleijões que vinham dos locais de trabalho. Gente sem uma das mãos porque moeu-a numa máquina. Nós tivemos um presidente da República sem o dedinho por causa de acidente no trabalho.

Certas atividades eram fábricas de aleijados, como as serrarias, indústria moveleira, a construção civil, a mineração. A tragédia de Brumadinho, por exemplo, é a falta de preocupação com a segurança dos trabalhadores.  

Quando o trabalho era feito por escravos, além de não haver nenhuma preocupação com a preservação da vida de quem trabalhava, apanhava do patrão ou do feitor até morrer. Mesmo que isso fosse perda de dinheiro para a casa grande, já que os escravos eram vendidos como animais. 

Nessa época, o trabalho era abominável, sendo tarefa dos escravizados. Até hoje nos países latinos, somos escravocratas, não valorizamos devidamente as tarefas que sujam as mãos ou as roupas. Veja quanto ganha um lixeiro. Quem trabalha bem vestido, sem fazer força, tem os melhores salários.

Com a Revolução Francesa, um marco histórico da vitória do capitalismo, queda da monarquia, adoção da democracia como regime de governo, o trabalho passou a dignificar o ser humano, recebendo um salário por isso. Mas assim mesmo, durante a revolução industrial, havia jornada diária de trabalho por 12 horas, sem pagamento de horas extras.

Ainda assim, o patrão queria que o seu empregado trabalhasse sem usar combustível, pagando-lhe um salário de fome. A máquina precisa de energia para trabalhar, o operário não tinha esse direito, pois não comia o suficiente para se reenergizar para o trabalho.

Na linha do tempo, na luta dos trabalhadores, na humanização forçada do próprio capitalismo, chegamos a uma preocupação com o corpo de cada trabalhador. Não eliminamos os aleijados, porque há as anomalias de nascença e os acidentes agora acontecem nas ruas e nas estradas com os acidentes automobilísticos, apesar das cirurgias reparadoras terem avançados e surgimento, com o avanço tecnológico, das próteses mais sofisticadas.   

Segunda-feira, 27 de julho, é o Dia Nacional da Prevenção dos Acidentes de Trabalho, aproveitemos o momento para pensar como anda nossa prática preventiva. Se há patrões que não cuidam da segurança de seus empregados, há também trabalhadores que não valorizam os equipamentos de segurança (EPIs - Equipamentos de Proteção Individual) que lhe são entregues gratuitamente, usando-os adequadamente.

Aprendi alguns conceitos de prevenção ao assistir no Rotary uma palestra on-line sobre isso com o engenheiro Álvaro Cabral de Castilho Neto, pós-graduado em segurança do trabalho. Dentre outras atividades, ele cuida das atividades dos Supermercados Rondon.

Um comentário:

Zulmira A O Tinti disse...

Mto bom ! 👏👏👏👏