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A forma expulsiva dos dentes monoradiculados explicam algumas saídas súbitas dos dentes para fora dos alvéolos ósseo |
Talidomida era para grávidas, evitava vômitos e as deixavam tranquilas. Nos animais não provoca efeito colateral e sua ação teratogênica só ocorre em humanos. Quase banida, provocou comoção mundial pelas 12 mil crianças nascidas sem membros ou cérebro. A covid já matou milhões.
Antes que MacBride, médico australiano, relacionasse a
talidomida com as anomalias, um médico alemão precipitado logo publicou artigo
e deu seu nome para a doença: “síndrome de Weidemann”. Depois, foi um vexame.
Não nos precipitemos na descrição das doenças e técnicas novas.
Há “notícias” de pessoas que após a covid, perderam um ou
outro dente que saía do osso sem causa aparente. São relatos fortuitos de
pessoas que os repórteres perguntavam para um profissional explicar
“precipitadamente” que na covid haveria também microtrombos e microêmbolos no
ligamento periodontal que une o dente ao osso. Muitas pessoas me perguntam:
pode isto? Me senti ao lado de Galvão Bueno: pode isto, Arnaldo?
CAUSAS
A perda súbita de um dente ao sair do alvéolo sem muito sangramento pode ocorrer quando:
1º. For um dente decíduo cuja raiz reabsorvida ficou muito
curta, podendo se soltar frente a um alimento duro ou pequena batida conhecida
como concussão.
2º. Se for dente permanente que ainda não completou sua
formação, a raiz pode estar mais curta e o osso flexível. Frente a uma batida
pequena, o dente pode ser expulso.
3º. Se o dente for monoradiculado, o ligamento pode não
segurar o dente no alvéolo em casos de moldagens/moldeiras e, acidentalmente, o
dente sai na mão do profissional, especialmente pré-molares inferiores.
Felizmente ocorre raramente!
4º. Dente com periodontite significa que há perda de
suporte ósseo. O paciente nem sabe que tem pela aparência, mas o dente ficou
sem boa parte do osso. Um esforço maior na alimentação, pode levar a perda do
dente como ao morder uma bala de menta!
5º. Um acidente frequente é o traumatismo de dentes durante
os procedimentos de anestesia geral e intubação pela boca, inclusive para
outros fins como dar função respiratória. Na hora, o que vale é salvar a vida
do paciente; se o laringoscópio, tubos e outros apetrechos bater nos dentes,
naquele momento não é prioritário! Em muitos casos, os dentes ficam com
mobilidade e ninguém percebe, nem o paciente que está inconsciente, como os de
covid.
6º. Durante a internação para terapia intensiva, os
pacientes precisam ter a boca higienizada e quem faz isso são cirurgiões
dentistas, fisioterapeutas, enfermeiras e outros. Mas, a higienização nunca é
igual a feita pelo próprio paciente consciente. Isto agrava certas situações
que o paciente já tinha como gengivites e periodontites.
7º. Pequenas batidas ou concussões podem lesar seriamente
os tecidos dentários e periodontais como abrir garrafas com os dentes ou outras
embalagens. O dente pode sair do alvéolo ou ficar lá justaposto. Ao chegar em
casa, o dente sai na mão!
8º. Violência doméstica e urbana gera situações de
constrangimentos e podem fazer com que as pessoas mintam ao relatar o ocorrido
para outra pessoa. A covid pode servir de desculpa para justificar estas perdas
dentárias.
REFLEXÃO FINAL
Os trombos e êmbolos da covid também ocorreriam nos vasos do ligamento periodontal e o dente ficaria solto? Teoricamente poderiam, apesar: (1) do ligamento periodontal ter metade do seu volume ocupado por vasos, (2) dele ter várias fontes sanguíneas e (3) ser um evento fácil de se confirmar com 32 dentes em cada boca e milhões de pessoas afetadas, mas não se têm relatos nas revistas científicas.
Antes de se atribuir a perda súbita de dentes à covid, precisamos descartar todas as outras possibilidades. Nas análises das “notícias” sobre o assunto, não seria difícil achar outra causa para a perda destes dentes: sejamos rigorosos nas análises!Alberto Consolaro – Professor Titular da USP -FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br
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