Dois mascarados sem máscara |
Aqui em casa me pediram para levar limão galego para para a comadre Elvira. A recomendação foi pesada:
- Não é para descer, ficar tomando cerveja, estamos em pandemia. É buzinar e entregar o saquinho de limão.
Antes de eu chegar à garagem, outra recomendação:
- Não se esqueça da máscara.
E respondi:
- O porta-luvas está cheio de máscaras!
E fui. Chegando lá, estranhei a vizinhança do lado direito, um pessoal com panca de roqueiros mal-encarados, daqueles bem sacudidos, carregados de tatuagens, aglomerados na frente da casa. Quando chegou um deles com máscara, deram-lhe um cacete, meteram a mão na cara dele, tirando-lhe a focinheira aos gritos:
- Você é homem ou maricas, vagabundo. Aqui só tem macho! É pra obedecer!
Entreguei os limões para a comadre Elvira, que também usava máscara, e perguntei:
- Novos vizinhos?
- Ganhamos esse presente nessa pandemia. São bolsonaristas com todo o vocabulário do chefe. Barulho até a madrugada, nada de boas maneiras, uns mascarados... Dizem que por onde passam, não pagam aluguel. Quero ver agora sem o auxílio emergencial...
- Mascarados? Mas não usam máscara? - perguntei.
Elvira respondeu baixinho na janela de meu carro com vidro pouquinho descido:
- Mascarados porque são metidos a besta. Bem diferentes dos bolsonaristas aí da frente, que até já xingam o presidente que elegeram.
A turma de camiseta regatas me encarou, vinha pra cima, quando acelerei o carro e fui embora para evitar o pior.
Chegando em casa, liguei para o compadre Jurandir.
- O que houve com as feras que moram ao seu lado, estavam com cara de nada amigos e vieram para o meu lado.
Ele respondeu:
- Não gostaram de seu jeito. Incompatibilidade ideológica.
E caímos na risada.
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