AGENDA CULTURAL

1.2.21

Voltaremos a ser "limpinhos"? - Alberto Consolaro

 


Nas aulas procuro valorizar o humor e inteligência que são siameses e digo uma verdade cruel: "Não éramos tão limpinhos quanto se imaginava".  A vida  surpreende nos mínimos detalhes. Andando pela casa, eis que um exemplar de jornal de 2016 me aparece caído no piso ao escapar de uma caixa e lá me deparei com um artigo que escrevi muito antes da pandemia. São mais mil artigos e foi cair este e compartilho alguns parágrafos com vocês!

POEIRA E GOTÍCULAS

“O pai dizia: - não esfreguem a mão nos corrimões, não sentem ou rolem pelo chão. – Mas pai, é gostoso e tá 'limpinho'. Neuroticamente aquele pai dizia mil vezes ao dia: O cão faz cocô e xixi no chão, depois vem a chuva e o sol e eles se transformam em pó.

 E eu continuo. Vento vem e leva-os para as paredes, corrimões, maçanetas e tapetes. A poeira invisível é sedimento de tudo a se depositar em todos locais, incluindo superfície de flores, frutos, legumes e folhas. Secreções humanas como suor, saliva, lágrimas e sêmen, sem contar o sangue, também secam e viram pó e poeira.

Um grão de poeira pode ter muitos vírus, bactérias, fungos e parasitas. Um espirro tem 20 mil gotículas de saliva ou perdigotos que viajam até 4m de distância. Viver é correr perigo. As partículas de poeira e saliva têm de tudo! Se você diminuir o contato com poeira, diminui a chance de ter doenças, simples assim! Chineses e japoneses usam máscaras nas ruas e viagens! Imaginem as plaquinhas dentárias para dormir, os aparelhos, próteses, modelos e moldes dentários!

MÃOS E COMIDA

Observe uma pessoa: Quantas vezes coloca a mão na boca, nariz, ouvido e olhos em um minuto? E onde estava esta mão antes? Uma senhora disse: - mas não faço sexo a anos, como posso ter pego esta doença? Acreditando nela, eu pergunto: Quantas pessoas a senhora cumprimentou com as mãos neste último ano? Onde estavam estas mãos que a senhora cumprimentou? Muitas estavam secas e algumas fresquinhas úmidas! Quantas destas pessoas o cumprimento foi com beijinhos? Onde estavam estas suas faces antes da gentileza do beijinho? E se estas pessoas fizeram sexo logo antes do cumprimento, você acabou envolvida nisto!

Outra situação: passeie pelos restaurantes em que comidas ficam expostas com centenas ou milhares de pessoas nas “praças de alimentação”, perambulam entre elas conversando e levantando poeira, gotículas de saliva e espirros. E quando pega o bebê no colo e se beija esta criança? Onde estava este adulto antes???

CARINHO E SEXO

O sexo representa trocas de carinhos, carícias e intimidades com as mãos, dedos, boca, nariz, queixo e tudo que a imaginação permita! São secreções como saliva, suor, lágrimas e outras em toalhas, lençóis e objetos que possam ser utilizados. Sexo é tão marcante que se pedir emprestado um celular de alguém, pode estar fazendo sexo com ele, pois o celular tem secreções do dono! Quando e como foi acionado este celular na última vez? Tela de celular é shopping para microrganismos, incluindo capinhas e películas.

Objetos com secreções secas e poeira podem transmitir doenças. Alguns microrganismos como vírus da Aids e bactéria da sífilis são muito frágeis no ambiente e dificilmente contamina sem contato direto mucosa-mucosa, mas a maioria resiste minutos e dias como o vírus do papiloma, do herpes e H1N1, ou até ficam latentes anos fora de corpos e secreções, como vírus da hepatite e a bactéria da tuberculose.

FOGUEIRA DE MÁSCARAS

Viver é respirar, aspirar poeira e gotículas alheias, mas estamos superpovoados nas cidades: é muita poeira e gotículas. A Terra original não era assim. Diminuir as possibilidades de contágio com boas práticas de higiene e limpeza pode diminuir muito o risco, mas evitar totalmente só com vacinas, mas não as temos para todas doenças!”

Amigos me dizem que depois da pandemia irão fazer uma fogueira de máscaras! Sinto muito, vai demorar para nos livrarmos das máscaras e álcool gel, pois: 1º) com o derretimento das geleiras e abertura das florestas e cavernas, cada vez mais microrganismos novos estarão entre nós com doenças novas, 2º) Vivemos muito aglomerados e processando muito alimentos, tudo em condições inadequadas.

REFLEXÃO

Não éramos tão limpinhos quanto pensávamos!


Alberto Consolaro – Professor Titular da USP -= FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br

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