AGENDA CULTURAL

3.4.21

O novo normal será tempo de maluco beleza

Clá Imagem: Instituto de Psicologia da USP

Controlando a minha maluquez/ Misturada com minha lucidez (Raul Seixas /  Cláudio Roberto Andrade de Azevedo)

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Normal, normal ninguém é. "De perto, ninguém é normal", canta Caetano Veloso em Vaca profana. Millor Fernandes foi mais preciso: como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.

Se fosse no século passado, diria que todos os humanos têm um parafuso solto, mas como estamos no século 21, é melhor atualizar a linguagem, passando para a informática: todas as pessoas são bugadas, só variando o nível, algumas menos e outras mais.  

A moda agora é falar em sanidade mental em tempo de pandemia. Psicanalistas, terapeutas, psiquiatras estão com suas agendas cheias. Mas há quem diga que há gente dando uma de doida só para sair de casa, as crises dão geralmente acontecem à noite.

Meus amigos não se cansam de falar em videoconferências, telefones, mensagens de zap que suas mulheres aprenderam a fazer pão no isolamento social e já estão gordos de tanto comer massa. É pão quentinho todos os dias. 

O Francisco Antônio, outro amigo, disse que sua companheira dobrou o gasto com supermercado durante a pandemia. Faz comida para todos os parentes e vizinhos, como pretexto de começar uma conversa no zap e depois entregar o prato pessoalmente.

Tenho um amigo que vivia só, num apartamento. O cara já era meio deprê, mas o boteco salvava a situação. Com pandemia, ele foi tomado por um medo medonho do vírus, compra tudo por telefone, via internet. Nem preciso contar que ele chamou a sua falecida mãe por várias vezes. Buteco? Nem pensar.  

Aqui em casa, baixamos o decreto: nada de profissionais estranhos. Como só tínhamos a faxineira bissemanal, ela perdeu o emprego. Sobrou mais um pouco dos serviços domésticos para mim. E a pecha de aposentado foi fatal. 

Pais de adolescentes estão abençoando os que só ficam isolados no quarto, participando de jogos e de outras atividades on-line, despreocupados com baladas. 

As rezas são feitas virtualmente, como missa, reza do terço. Até o par de testemunha de Jeová me passa mensagens bíblicas por zap. Tenho amigos que até eram meio sem religião, viraram beatos. De cada três palavras ditas, duas são de louvação ao Senhor.

Virtualmente se intensificaram as sacanagens. Sexo sozinho ou a distância é a moda pandêmica. Amores clandestinos cortados. Plataformas de videoconferências sendo usadas para bacanais.

O mundo não vai mesmo voltar ao que era, o novo normal será bem diferente: tempo de maluco beleza. 

Nenhum comentário: