AGENDA CULTURAL

6.9.21

A boca e os corpos enfraquecidos! - Alberto Consolaro

 

No vaso com sepse, se tem as hemácias em vermelhos, os leucócitos em branco e as bactérias em azul 

A todo momento bactérias entram no sangue, pois são 100 trilhões delas na pele e orifícios como boca, nariz e outros. Ao pentear cabelos, fazer barba, escovar dentes, ir ao dentista, mastigar, coçar, fazer unhas, depilar, praticar sexo e tomar banho, criamos muitas feridas microscópicas por onde introduzimos mais bactérias no sangue.

No sangue as bactérias se dão mal, pois estão dentro de mangueiras ou vasos com paredes fechadas e uma quantidade incrível de células fagocitárias e substâncias como os anticorpos. Em segundos ou minutos, são eliminadas! Somando cada segundo, no final do mês teremos 5 a 6h com bactérias no sangue por breves momentos chamados de “bacteremias transitórias”.

CORPOS NORMAIS

A boca é o local mais contaminado em uma pessoa cuidadosa. Na maioria, a boca tem mais bactérias do que deveria, pela higiene deficiente. A boca com cárie, gengivite, periodontite e língua saburrosa tem muito mais bactérias do que as bocas de pessoas sem higiene bucal, mas com dentes preservados. Nestas pessoas, a hora de comer significa colocar muitas e muitas bactérias no sangue. Ainda assim o corpo saudável dá conta de eliminá-las e isto é incrível!

Isto explica porque todo dentista quando vai tirar cálculos, tratar cárie, fazer cirurgia na gengiva ou extrair dente, ele faz uma limpeza geral na boca alguns dias antes: é o chamado preparo inicial. É para tirar a quantidade exuberante de bactérias e poupar os já saturados sistemas de defesa do sangue! Se não fizer isto, o paciente normal corre o risco de ter uma doença infecciosa nos rins, articulações, coração ou até generalizada.

 CORPOS ENFRAQUECIDOS

Em “corpos enfraquecidos” quando ocorre uma bacteremia transitória, há um elevado risco de contaminação em partes isoladas ou generalizada, pois bactérias no sangue destas pessoas sobrevivem e proliferam em várias partes. Isto leva a uma perda de controle do organismo sobre os seus sistemas e órgãos, uma anarquia biológica chamada “sepse” ou síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). Antigamente a sepse era chamada de septicemia ou infecção generalizada, mas hoje se sabe que é uma desorganização corporal que evolui rapidamente ao óbito e iniciada por bactérias.

 Os corpos estão enfraquecidos em (1) pacientes oncológicos que fazem tratamento contra o câncer, (2) diabéticos não controlados, (3) etilistas ou viciados em álcool, (4) usuários de drogas e tabagistas, (5) submetidos a corticoides e imunodepressores, (6) pacientes com idade avançada, (7) desnutridos e (8) estressados. Qualquer procedimento profissional em pacientes debilitados, requer cuidado muito especial, incluindo antibioticoterapia específica e ambiente ambulatorial e ou hospitalar para possíveis procedimentos anestésicos gerais e necessidades de terapia intensiva.

Uma simples exodontia, uma raspagem para limpeza ou abscesso, pode induzir osteomielite ou osteoradiomielite nos maxilares, situações muito sequelantes nestes pacientes. Ou ainda, um simples procedimento operatório intrabucal sem estes cuidados, podem induzir sepse fatal.

REFLEXÃO FINAL

Isso justifica porque o paciente com câncer, ANTES do tratamento quimioterápico ou radioterápico, deve ser avaliado por dentista para corrigir as alterações gengivais, cáries, remova os dentes irrecuperáveis, faça os procedimentos endodônticos e elimine os riscos exclusivos da boca. Desta forma se previne as osteomielites e a temida sepse.

Pesquisas revelam que a maioria dos profissionais não sabem diagnosticar e metade dos pacientes com sepse chegam tarde demais na UTI. Os principais sinais são febre, mal-estar, fraqueza, tremores, tontura, falta de ar e diarreia. Quanto mais cedo tratada, menor a mortalidade. O treinamento de profissionais e pacientes com informação, reduziria muito óbitos por sepse. 



Alberto Consolaro – professor titular da
USP na FOB de Bauru-SP

 

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