Comparar o isolamento da covid-19 com a segregação da hanseníase é inacreditável! |
Na época, não havia pessoas preparadas para
dissecar e dar nomes aos órgãos, partes e tecidos. Muitos anatomistas eram
botânicos que transferiam a metodologia de estudo das plantas para o homem.
Assim surgiram nomes que até hoje teimam em existir como amígdala significa
amêndoa pequena, mas tem ainda a úvula, a maça do rosto, a batata da perna e
até o pomo de Adão.
Alguns mais imediatistas reclamam que os
nomes das partes do corpo e das doenças mudam muito e que poderia ser mais
estável. Claro que não, nós e ciência evoluímos e precisamos nos adaptar e
atualizar nossos registros e formas de se referir.
HISTÓRIA TRISTE
Há pessoas, cujo processo de mudança foi
há séculos, mas elas não mudam e nem se atualizariam por uma questão de atraso
mental! Nos tempos bíblicos, a medicina era primitiva e naquela época qualquer
doença de pele era chamada e considerada “lepra”. Isto ocorreu com a psoríase,
líquen plano, vitiligo, furúnculos, alopécias viroses, micoses e outras doenças
infecciosas.
Hoje, pelas descrições estudadas sugere-se
quais doenças se estavam referindo naquele texto bíblico. Muitas doenças são
cíclicas como a psoríase que desaparece com a exposição solar e controle do
estresse emocional. Ou ocorre com o herpes e o zoster que dura semanas e some
com ou sem dor residual. Mas todas estas doenças eram chamadas de “lepra” e
seus desaparecimentos são considerados curas milagrosas.
A hanseníase ou mal de Hansen é uma doença
bacteriana infecciosa, que requer contato prolongado e próximo para se
transmitir de uma pessoa para outra, que tem remédio para a cura e controle. E
mais, as pessoas que contraem a doença não precisam mais ficar segregadas ou
isoladas do convívio familiar e social, muito pelo contrário. Durante o
tratamento e controle devem estar inseridas na sociedade.
O termo “lepra” há muitas décadas atrás,
deixou de ser usado pois foi transformado e degenerado pelo uso intenso pelos
leigos de forma pejorativa e inadequada, quase se transformando em xingamento e
preconceito. Seu uso foi recomendado ser abandonado pela triste história que
passaram os hansenianos quanto a sua dor, segregação e abandono. Vários “leprosários”
ou vilas onde viviam, ainda hoje, persistem com suas casas e estruturas que
contam a triste história desta doença.
Usar o termo “lepra” nos dias de hoje
denota um total atraso e ignorância. Não saber não é pecado para um cidadão
comum. Se não sabe sobre o assunto, é melhor permanecer calado e se informar,
pois é comum o ignorante machucar as pessoas com colocações grosseiras e
inoportunas. E, para se desculpar, ainda se diverte dizendo que deu um fora!
Mas foras ofendem e machucam pessoas! Se não se aceita isto no cidadão comum,
imagine quando ocorre, e ocorreu, com o presidente de república.
REFLEXÃO FINAL
Somente pessoas sem qualquer noção
histórica e cultural poderia comparar o isolamento social recomendado para
controlar a pandemia da Covid com a segregação aplicada aos hansenianos e ainda
chamando a doença de “lepra”! Os hansenianos eram separados a vida inteira de
sua família, amigos e trabalho!
A comparação presidencial foi impactante e lamentável.
pela USP - consolaro@uol.com.br
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