A falta do diálogo é antessala da frustração e infelicidade que geram conflitos, guerras e cenas patéticas! |
Ensinar e aprender a falar com palavras certas e frases bem-feitas faz parte do dia a dia de muitas crianças e faz uma grande diferença. E adultos dirão: nossa como essa criança é articulada, só porque se expressa com palavras bem faladas em seus fonemas e com uma concordância verbal própria da sensível e poética língua portuguesa.
ENTRELINHAS E IRONIAS
Parece-me importante não ensinar as
crianças a falar nas entrelinhas e nem se comunicarem com manhas e trejeitos.
Entrelinhas são ideias e intenções não explícitas ou diretamente expressas em
uma conversa ou texto. A possibilidade de não se conseguir o que quer é muito grande,
pois nem todos entendem esta forma esquiva de expressar. Não se consegue ser
feliz falando entrelinhas ou com manhas e trejeitos.
A mesma coisa acontece com as ironias e
sarcasmos. Se em alguma conversa a ironia não for utilizada com maestria, ela não
será compreendida e pessoas serão ofendidas e a comunicação humana que foi o
primeiro objetivo não se completou, então não valeu a pena! Antes de usar
ironias e sarcasmos sempre pergunto rapidamente: para que vou fazê-la? E em
geral, não tem sentido pelo risco de não ser compreendido e aí uso uma
linguagem direta! Não acreditem que ironias e sarcasmos são coisas de
inteligentes! Eles não usam ironias e sarcasmos, esta ideia é uma mentira!
Em política é comum as entrelinhas e os
trejeitos e, por isto tantos se sentem traídos ou são chamados de traidores.
Porque não sermos diretos e sinceros, sem ser sinsericidas? Expressar
diretamente o que queremos e sentimos permite que os outros saibam de nossas
expectativas. Se formos importantes para aquela situação ou pessoas, assim
teremos o que queremos!
TAPA NO OSCAR
O tapa de Will Smith no comediante do Oscar
por uma piada inoportuna sobre sua esposa, mostra o que uma falha de linguagem
pode provocar. Se no lugar do tapa, tivesse pegado naturalmente o microfone, o
que não lhe seria negado no contexto, poderia ter tomado uma atitude
maravilhosa dizendo: “- Pessoal, prestem atenção por gentileza, fazer piadas
sobre as deficiências, aparências físicas e doenças de outras pessoas são
simplesmente cruéis! A próxima vítima pode ser você ou quem ama!” Ao voltar
para o lado da amada, teria sido ovacionado de pé.
Piadas, zombarias e “bullyings” com
raríssimas exceções, estão carregadas de preconceitos, maldades e vinganças
compensatórias. Podem ser engraçadas, mas alguém ficou magoado, triste e
envergonhado. Se tem alguma pendência com alguém, fale diretamente, é muito
mais produtivo e humano. Ensinem isto às crianças.
Muitos homens e mulheres não aprenderam
quando criancinhas que devem dialogar. Os pais quase sempre eram impositivos e
autoritários, onipresentes e onipotentes, e crianças aprendem tudo! Quando
crescidos tornam se pessoas que odeiam discutir relações o que exige reconhecer
limitações, expressar desejos e medos, ou seja, se mostrar frágil. E se alguém
tenta insistir no diálogo, quase sempre passam a ser mudos, grosseiros ou
violentos, pois não aprenderam a falar! E tome violência e intolerância.
REFLEXÃO FINAL
Líderes, quase sempre, são mal-amados e não
sabem dialogar, são autoritários, grosseiros e violentos! Usam e abusam das
ironias, sarcasmos e zombarias! Precisamos ensinar as crianças a falar, mas é
muito mais urgente, ensinar “de novo” os adultos a conversar, escutar e ser
sinceros! Muitos dirão ser muito chato ficar falando de problemas! Claro que sim,
mas a falta do diálogo sincero sobre eles, é a antessala da frustração e
infelicidade, gerando conflitos, guerras e cenas patéticas como a do Oscar!
Reflitamos.
Alberto Consolaro - professor titular pela USP - consolaro@uol.com.br
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