AGENDA CULTURAL

20.5.22

Trabalho - fator central na vida do indivíduo - Gervásio Antônio Consolaro

         

Cena do filme de Charles Chaplin: Tempos modernos

           Nos dias atuais, o trabalho aparece como fator central na vida do indivíduo, sendo reconhecido como potencial gerador de estresse – sensação de desconforto ou sofrimento psíquico por conta de uma situação desgastante.

        Mas o trabalho também é importante fonte de satisfação e realização pessoal, uma vez que trabalhar compreende pensar, conviver, desenvolver capacidades e habilidades, construir a identidade e obter reconhecimento. 

       O trabalho, assim, pode configurar-se como fonte tanto de saúde, como de sofrimento mental e potencial adoecimento. Mas, em que circunstâncias o trabalho se torna potencialmente adoecedor? Quais seriam as possíveis causas dos adoecimentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho? É possível ter saúde mental no trabalho? 

       O crescimento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho tornou-se uma das causas principais afastamentos temporários no trabalho ou aposentadoria por invalidez, fontes do INSS,

      Se compararmos o número de dias de trabalho perdidos por conta de afastamentos por transtornos mentais, em relação aos afastamentos motivados por outras doenças, os transtornos mentais se destacam pelo fato de a recuperação ser mais lenta e demorada. Segundo estudiosos da área, as depressões incluindo a síndrome de Burnout  ou síndrome do  esgotamento profissional,  são as principais causas de incapacitação ao trabalho. 

       O fato que o trabalho vem sofrendo profundas modificações no século 21, com a introdução de novas tecnologias de produção e de gestão, ou desenvolvimento cada vez mais intenso da informática e, com isso, uma maior pressão sobre o trabalhador. A necessidade de tomar decisões rápidas, a falta de controle sobre o próprio tempo e sobre o ritmo de trabalho, as jornadas prolongadas ou que invadem a vida privada, a distância entre o planejamento e a execução, o acúmulo de tarefas, a fragmentação  do trabalho etc. levam o indivíduo a sentir-se pressionado, sem que encontre, em seu repertório de respostas, o comportamento adequado para lidar com todas as demandas

      As  mudanças organizacionais têm alterado a natureza do trabalho humano e o perfil esperado do trabalhador. O desenvolvimento de uma tensão crescente e permanente é fruto da exigência de garantir um padrão de excelência na geração de produtos e serviços, o que requer trabalhadores motivados e extremamente comprometidos. Dado que essa tensão pode ser excessiva ao psiquismo e gerar estresse, ansiedade, depressão,  torna-se o componente central dos transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho.

      Mas então quando é que o trabalho é fonte de prazer?

a) Quando o indivíduo se sente útil, pertencente ao grupo e à organização do trabalho e é reconhecido por essa utilidade (julgamento da utilidade). Esse reconhecimento é dado principalmente pelos superiores hierárquicos e pelos clientes.

b) Quando o trabalho executado é reconhecido pela beleza e originalidade das soluções dadas aos entraves do dia a dia, isto é, quando as soluções que cria são únicas, singulares, originais. Esse reconhecimento é formulado pelos pares, que identificam no sujeito  “o saber-fazer” e a contribuição para o coletivo (julgamento estético).

      Aos gestores, cabem adotar uma postura de escuta atenta que permita a manifestação dos sofrimentos, das angústias, dos receios, dos medos, dos desafios, das engenhosidades diante das dificuldades e imprevistos, até a solução e resolução de problemas aparentemente insolúveis. A cooperação, o reconhecimento e treinamento proporcionam boas relações  no trabalho – entre pares e entre trabalhadores e chefias – são as chaves para um clima organizacional saudável. 

Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, delegado regional Tributário e  auditor fiscal da Receita Estadual, aposentado, contador, administrador de empresas, bacharel em Direito e pós-graduação em Direito Tributário, coach pela SBC.                g.consolaro@yahoo.com.br 

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