Cena do filme de Charles Chaplin: Tempos modernos
Nos dias atuais, o trabalho aparece como fator central na vida do indivíduo, sendo reconhecido como potencial gerador de estresse – sensação de desconforto ou sofrimento psíquico por conta de uma situação desgastante.
Mas o trabalho também é importante fonte de satisfação e realização
pessoal, uma vez que trabalhar compreende pensar, conviver, desenvolver
capacidades e habilidades, construir a identidade e obter reconhecimento.
O trabalho, assim, pode configurar-se como fonte tanto de saúde, como de
sofrimento mental e potencial adoecimento. Mas, em que circunstâncias o
trabalho se torna potencialmente adoecedor? Quais seriam as possíveis causas
dos adoecimentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho? É possível
ter saúde mental no trabalho?
O crescimento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho tornou-se
uma das causas principais afastamentos temporários no trabalho ou aposentadoria
por invalidez, fontes do INSS,
Se compararmos o número de dias de trabalho perdidos por conta de afastamentos por transtornos mentais, em relação aos afastamentos motivados por
outras doenças, os transtornos mentais se destacam pelo fato de a recuperação
ser mais lenta e demorada. Segundo estudiosos da área, as depressões incluindo
a síndrome de Burnout ou síndrome
do esgotamento profissional, são as principais causas de incapacitação ao
trabalho.
O fato que o trabalho vem sofrendo profundas modificações no século 21,
com a introdução de novas tecnologias de produção e de gestão, ou
desenvolvimento cada vez mais intenso da informática e, com isso, uma maior
pressão sobre o trabalhador. A necessidade de tomar decisões rápidas, a falta
de controle sobre o próprio tempo e sobre o ritmo de trabalho, as jornadas
prolongadas ou que invadem a vida privada, a distância entre o planejamento e a
execução, o acúmulo de tarefas, a fragmentação
do trabalho etc. levam o indivíduo a sentir-se pressionado, sem que
encontre, em seu repertório de respostas, o comportamento adequado para lidar
com todas as demandas
As mudanças organizacionais têm
alterado a natureza do trabalho humano e o perfil esperado do trabalhador. O
desenvolvimento de uma tensão crescente e permanente é fruto da exigência de
garantir um padrão de excelência na geração de produtos e serviços, o que
requer trabalhadores motivados e extremamente comprometidos. Dado que essa
tensão pode ser excessiva ao psiquismo e gerar estresse, ansiedade,
depressão, torna-se o componente central
dos transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho.
Mas então quando é que o trabalho é fonte de prazer?
a) Quando
o indivíduo se sente útil, pertencente ao grupo e à organização do trabalho e
é reconhecido por essa utilidade (julgamento da utilidade). Esse reconhecimento
é dado principalmente pelos superiores hierárquicos e pelos clientes.
b) Quando
o trabalho executado é reconhecido pela beleza e originalidade das soluções
dadas aos entraves do dia a dia, isto é, quando as soluções que cria são únicas, singulares, originais. Esse reconhecimento é formulado pelos pares, que
identificam no sujeito “o saber-fazer” e
a contribuição para o coletivo (julgamento estético).
Aos gestores, cabem adotar uma postura de escuta atenta que permita a
manifestação dos sofrimentos, das angústias, dos receios, dos medos, dos
desafios, das engenhosidades diante das dificuldades e imprevistos, até a
solução e resolução de problemas aparentemente insolúveis. A cooperação, o
reconhecimento e treinamento proporcionam boas relações no trabalho – entre pares e entre
trabalhadores e chefias – são as chaves para um clima organizacional saudável.
Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, delegado regional Tributário e auditor fiscal da Receita Estadual, aposentado, contador, administrador de empresas, bacharel em Direito e pós-graduação em Direito Tributário, coach pela SBC.
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