FIQUE ONDE ESTÁ
Bancos são um bom exemplo desse mecanismo. Os grandes bancos conseguem,
através de suas gigantes campanhas de marketing e do estímulo à desinformação,
gerar o sentimento de que só existe uma forma de estar seguro: ficando
exatamente onde está. E é por isso que maioria das pessoas teme sair de seus
bancos sem sequer conseguir explicar detalhadamente quais são os riscos de
sair.
Políticos fazem o mesmo. E induzem a população a pensar que um novo no
poder totalmente desconhecido, irá destruir vidas. O mais intrigante é ver que
, mesmo que a vida das pessoas já esteja destruída -mesmo assim - elas temem
as mudanças. Percebi isso claramente no
dia em que estando em, férias no Nordeste em julho de 2018, vi um pedinte cego
caminhando com sua bengala entre os carros em um farol, pedindo dinheiro e
gritando palavras em defesa do presidente da República. A vida dele parecia
estar no fundo do poço, mas mudar parecia ser ainda mais perigoso.
Políticos usam ainda uma derivação desse artifício. Por mais estranho
que pareça, não se incomodam e chegam mesmo a estimular (dissimuladamente) o
senso comum de que “político é tudo igual”. A velha história que “todos roubam”, são todos
corruptos”, “todos têm dinheiro escondido” etc. faz com que os que estão no
poder consigam perpetuar-se. E a população, sem perceber que está caindo em uma
armadilha, reverbera o sentimento, ajudando a manter no poder aqueles que mais
criticam. Políticos são todos iguais. Podem até ser todos ruins. ( o que também não me parece provável), mas
são todos diferentes – e saber isso é um passo importante para melhorar os
representantes que exercem o poder por nós.
Quanto às nações, a lógica comum também é
parecida. Percebam como ficamos incrivelmente incomodados quando o poderio
norte-americano é posto em xeque por qualquer outra nação. Mesmo sem ter
qualquer benefício direto do domínio dos Estados Unidos (afinal estamos no
grupo das nações que financiam o seu poderio e condição econômica), defendemos
a todo custo, com nossas atitudes e ideias, a manutenção de seu status de
império soberano do mundo capitalista.
A aversão ao que é novo se manifesta de outra maneira também em nossos
dias. Outra coisa, temos uma dificuldade tremenda, que beira a impossibilidade, de mudar nossas
opiniões. Quem melhor descreve este tipo de característica é o psicólogo
norte-americano Robert Cialdini. Ele batizou esse mecanismo de reação
automática “Regra do compromisso e da consistência”. Segundo esse psicólogo,
autor de best-sellers, a partir do momento em que emitimos uma opinião,
costumamos nos tornar escravos dela.
Alguns autores chegam a afirmar que um homem hoje recebe por dia, a
mesma quantidade de informações que recebia durante toda a vida quando habitava o interior das cavernas.
Nossa vida seria, portanto, um caos se tivéssemos que, para cada uma das
decisões, reavaliar todos os cenários e passar por todo o processo decisório
novamente. Por isso, somos tão inflexíveis e cabeças-duras em nossas decisões!
Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, ex-delegado regional tributário, auditor fiscal da receita estadual aposentado, formado em administração, ciências contábeis e bacharel em Direito.
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