AGENDA CULTURAL

16.7.22

O que os donos do poder não querem que você saiba - Gervásio Antônio Consolaro

   Resolvemos, a partir de hoje,  fazer resenhas de capítulos de alguns livros, principalmente do escritor Eduardo Moreira, bastante interessantes e atuais.

FIQUE ONDE ESTÁ

      Bancos são um bom exemplo desse mecanismo. Os grandes bancos conseguem, através de suas gigantes campanhas de marketing e do estímulo à desinformação, gerar o sentimento de que só existe uma forma de estar seguro: ficando exatamente onde está. E é por isso que maioria das pessoas teme sair de seus bancos sem sequer conseguir explicar detalhadamente quais são os riscos de sair.

     Políticos fazem o mesmo. E induzem a população a pensar que um novo no poder totalmente desconhecido, irá destruir vidas. O mais intrigante é ver que , mesmo que a vida das pessoas já esteja destruída -mesmo assim - elas temem as mudanças.  Percebi isso claramente no dia em que estando em, férias no Nordeste em julho de 2018, vi um pedinte cego caminhando com sua bengala entre os carros em um farol, pedindo dinheiro e gritando palavras em defesa do presidente da República. A vida dele parecia estar no fundo do poço, mas mudar parecia ser ainda mais perigoso.

     Políticos usam ainda uma derivação desse artifício. Por mais estranho que pareça, não se incomodam e chegam mesmo a estimular (dissimuladamente) o senso comum de que “político é tudo igual”. A velha  história que “todos roubam”, são todos corruptos”, “todos têm dinheiro escondido” etc. faz com que os que estão no poder consigam perpetuar-se. E a população, sem perceber que está caindo em uma armadilha, reverbera o sentimento, ajudando a manter no poder aqueles que mais criticam. Políticos são todos iguais. Podem até ser todos ruins.  ( o que também não me parece provável), mas são todos diferentes – e saber isso é um passo importante para melhorar os representantes que exercem o poder por nós.

     Quanto às nações, a lógica comum também é parecida. Percebam como ficamos incrivelmente incomodados quando o poderio norte-americano é posto em xeque por qualquer outra nação. Mesmo sem ter qualquer benefício direto do domínio dos Estados Unidos (afinal estamos no grupo das nações que financiam o seu poderio e condição econômica), defendemos a todo custo, com nossas atitudes e ideias, a manutenção de seu status de império soberano do mundo capitalista.

     A aversão ao que é novo se manifesta de outra maneira também em nossos dias. Outra coisa, temos uma dificuldade tremenda, que  beira a impossibilidade, de mudar nossas opiniões. Quem melhor descreve este tipo de característica é o psicólogo norte-americano Robert Cialdini. Ele batizou esse mecanismo de reação automática “Regra do compromisso e da consistência”. Segundo esse psicólogo, autor de best-sellers, a partir do momento em que emitimos uma opinião, costumamos nos tornar escravos dela.

     Alguns autores chegam a afirmar que um homem hoje recebe por dia, a mesma quantidade de informações que recebia durante toda a  vida quando habitava o interior das cavernas. Nossa vida seria, portanto, um caos se tivéssemos que, para cada uma das decisões, reavaliar todos os cenários e passar por todo o processo decisório novamente. Por isso, somos tão inflexíveis e cabeças-duras em nossas decisões!

Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, ex-delegado regional tributário, auditor fiscal da receita estadual aposentado, formado em administração, ciências contábeis e bacharel em Direito.                      g.consolaro@yahoo.com.br 


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