AGENDA CULTURAL

12.7.22

Você é um ser solidário? - Alberto Consolaro

Precisamos muito da caridade, e mais ainda, da solidariedade!

Neste mês, o país voltou a fazer parte do mapa mundial da fome e me fez lembrar do Programa Fome Zero em continuidade ao Programa Comunidade Solidária. Parece oportuno tocar em dois conceitos e práticas que muitas pessoas pensam ser a mesma coisa, apesar de totalmente diferentes: caridade e solidariedade.

Caridade é doar para o desamparado, doente, faminto, dependentes e desorientados, incluindo atitudes de distribuição de bens recebidos. Solidariedade é dividir, compartilhar e participar incorporando o outro, trazendo o outro para si! A caridade representa uma atitude vertical, de cima para baixo, e a solidariedade é um ato horizontal e implica em abraçar, agregar e compartilhar.

Doar alimentos para uma família é ser caridoso, não é ser solidário, mas agora é de caridade que precisam milhões de nossos compatriotas brasileiros. Como deixamos que fizessem isto com tantas pessoas? Uma humilhação que já havíamos ultrapassado!

Ser solidário dá muito mais trabalho, requer doar tempo e dedicação, requer comprometimento e envolvimento pessoal e afetivo! A solidariedade é mais ativa, participativa e nos leva a entender melhor a causa da necessidade do carente que precisa de estímulo, carinho e amor. Precisamos entender a solidariedade para que possamos exercê-la e vencer o contrário dela que é o egoísmo!

A caridade tende a ser pontual no tempo, ela mata a fome que volta a rondar as pessoas. Enquanto isto, as ações da solidariedade requerem uma ação contínua, um processo para que aquela pessoa saia da situação em que se encontra e seja dona de seu próprio destino. Dar o peixe para matar a fome é caridade, ensinar a pescar é solidariedade. Precisamos urgente de ações de solidariedade para tirar as pessoas de filas humilhantes e revoltantes em busca de um dinheiro que pouco resolve as situações de suas famílias.

CULTURA DE SOLIDARIEDADE

Precisamos criar uma cultura de solidariedade, pois infelizmente o sistema econômico competitivo e meritocrático bloqueia nosso pensamento verdadeiro de que o outro é tão importante quanto eu! Como estimular a solidariedade se me estimulam a ser o campeão e o primeiro em tudo, a bater metas mesmo que as custas de processos nem sempre saudáveis.

Até na alegria temos dificuldade de atuar com solidariedade! As pessoas não conseguem ser solidárias nos momentos de sucesso, alegria, dinheiro e, nas conquistas do outro, soltam frases típicas da “inveja escondida” na mente que o racista chama de “inveja branca”. Por exemplo, têm se as frases:

1. Cuidado, depois de muita alegria, vem a tristeza! 2. Ter dinheiro dá muito trabalho e inveja, as pessoas vão te pedir coisas e nunca mais terás sossego! 3. Este carro é muito bom, mas a manutenção e o seguro são muito caros. O preço não é justo. 4. Agora com este cargo, todo muito vai querer te derrubar! 5. Você vai ver o imposto que vai pagar! 6. Terás agora um monte de falsos amigos e parentes não te largarão! 7. Os parceiros vão querer apenas seu dinheiro! E no final encenam: - digo isto por que quero seu bem!

REFLEXAO FINAL

Incrível, a maioria das pessoas não se solidarizam com o sucesso e a alegria alheia, já na morte, derrota e tristeza todos se derramam facilmente em chorar com você naquele momento. Talvez pensem assim: serei solidário pois, afinal, não sou só eu que tenho problemas, derrotas e frustrações, ele também tem!

Sermos solidários na alegria e sucesso, pode ser o primeiro passo para se estabelecer a solidariedade comunitária em que todos se ajudem constantemente. Os verdadeiros amigos são aqueles que compartilham plenamente a sua alegria e sucesso como se fossem deles. Reflitamos: como ser caridosos e solidários diariamente? E hoje, especialmente, com os que estão passando fome, eles estão precisando! 

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru
consolaro@uol.com.br

 

Nenhum comentário: