Monumento Berranteiro, edificado na Praça Nove
de Julho, em frente ao Recinto Paulo de Lima Correia, em Barretos-SP
Outro dia foi o Anésio Berranteiro, Anésio Augusto Costa, agora chegou a vez de Osvaldinho Berranteiro dizer adeus, e por aqui não surgem novos valores no berrante, porque há dois fatores que determinam o sumiço da atividade.
Primeiro: bois de grandes chifres
não produzem tanta carne e cada vez mais se mocham os bois;
Segundo: berrante é um profissional
na condução das boiadas pelas estradas de chão por esse Brasil afora (não é o
patrão); atualmente a boiada é transportada.
Em Barretos, terra do peão de
boiaideiro, há o berranteiro artístico, que toca músicas no berrante, ilustra
música caipira (a raiz), por isso por lá há uma moçada de rodeio que assopra no
chifre. Era o que fazia o Seu Osvaldinho. Agora só existe o silêncio.
HISTÓRIA DO OSVALDINHO BERRANTEIRO
Osvaldo Lúcio da Silva, conhecido
como Osvaldinho Berranteiro, era um vivente folclórico de Araçatuba, enfeitava
as queimas do alho com o toque de seu berrante. Conheci esse pessoal quando
exerci a função de secretário municipal de Cultura em Araçatuba.
Osvaldinho nasceu em Presidente
Alves-SP, no dia 03 de fevereiro de 1939, mudando-se ainda menino para
Araçatuba. Começou com a lida do gado ainda garoto, aos 10 anos de idade.
Foi integrante de várias
comitivas boiadeiras e viajou para muitas cidades e estados levando o gado para
ser comercializado. O Seu Osvaldo diz que chegou a fazer viagem de “oitenta
marchas”, ou seja, oitenta dias viajando.
Sua função era conduzir o gado
através do toque do berrante, um para cada situação. “Tenho boas recordações
daquele tempo – dizia Seu Osvaldinho – o trabalho era pesado, mas sempre gostei
da minha profissão.”
Seu Osvaldo conta que viajou no “lombo de mulas” com as comitivas boiadeiras para cidades do interior de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais levando boiadas para serem comercializadas.
Dormiam ao relento, perto dos animais, alimentavam-se com a comida preparada pelo cozinheiro da comitiva e enfrentavam sol e chuva para chegar ao destino. Por vários anos, Seu Osvaldo viajou para representar Araçatuba em rodeios e festas do gênero, onde fazia o toque do berrante para recordar os tempos áureos das comitivas boiadeiras.
Ao longo dos 83 anos de idade,
quatro filhos, vários netos e bisnetos,
contou com orgulho sobre suas viagens, as tropas e os diversos amigos que
conquistou em todos esses anos. Seu Osvaldinho, ao lado do Anésio, eram
considerados os berranteiross “mais velho” da região de Araçatuba.
A cultura tropeira não volta mais, foi a vida de muita gente numa época, mas devemos preservar a sua memória para interpretar melhor o presente e o futuro. A doença foi calando Seu Osvaldo devagar, até deixá-lo na horizontalidade silenciosa. A inquietude foi sua marca.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ
3 comentários:
Assim vai silenciado nosso passado
E vamos preservando nossa história, ilustrada por nossos queridos amigos.
Descanse em paz, sr Osvaldinho! Que seu berrante ecoe nas estrelas !
Muito obrigada por sua amizade e dedicação à cultura boiadeira.
Tudo passa a ser questão de época , até o toque do berrante vira folclore...
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