AGENDA CULTURAL

17.8.22

Junto e misturado

Foto: Regiane Rocha/Secom Palmas

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Conversar com os botões, quando não se usava camiseta. Uma expressão que significa manter um solilóquio, um diálogo consigo mesmo. Essa cultura da conversa interior, aquele momento de reflexão sobre a vida, ouvir a voz de dentro, mantém nossa saúde mental.

Falar sozinho, ao contrário de ser loucura, é um hábito até de organizar os pensamentos. Algumas apenas mexem os lábios. Ao escrever crônicas, este blogueiro conversa sozinho, ou melhor, pratica diálogo com leitores imaginários.

Aquela sumida que você dá, caro leitor, na sala de espera do consultório, pensativo, esperando atendimento, ou até mesmo naquele barulhento ponto de ônibus, chegando a se assustar quando alguém lhe cutuca, é um momento forte de reflexão. Você até fica descansado depois daqueles minutos de imersão no seu interior. 

Ninguém para de pensar, o cérebro vive trabalhando conforme suas exigências. Se tiver algum problema insolúvel, durante o seu sono, ele vai encontrar a solução. No outro dia, vem a luz mágica. Muitos atribuem isso ao Espírito Santo, mas o mais importante é que problemas foram resolvidos. O mundo divino não cobra direitos autorais.   

Só pensar nos boletos, nas contas a pagar, como comer amanhã, resumindo: passar o tempo pensando em satisfazer as suas necessidades primárias, não constrói a espiritualidade de nossas vidas. Todos têm o direito de filosofar, de deixar o pensamento voar, mas antes precisam alimentar o seu corpo fisicamente.  

Comecei a escrever crônica todos os dias em 1993, no antigo jornal Folha da Manhã,  de Araçatuba. E fui assim, passando pela Folha da Região, até 2008. Como amadureci, tendo que escrever diariamente, era o privilégio de ter esse tempo de reflexão. Teoremas da vida insolúveis eram resolvidos nestes momentos. 

Por que, caro leitor, me deu vontade de escrever sobre isso? Ouvi falar em Brasília de demônios durante a semana, ou melhor, chamando assim seus adversários, batendo no peito que eram melhores. Eu acho que esse pessoal terceiriza sua interioridade e pagam o dízimo para isso.   

Confesso que não divido o mundo em duas partes, porque não tenho nenhum demônio de estimação. Sou mais Sócrates: o conhecimento de si é a base para todos os outros conhecimentos sobre o mundo. 

Aliás, sabe-se que Lúcifer era amigo de Deus, da cozinha, frequentavam a mesma casa. E continuam morando juntos dentro de cada um de nós. 

Como canta Zeca Baleiro nos tempos atuais: "O mercado tá de olho é no som que Deus criou/ Com trombetas distorcidas e harpas envenenadas/ Mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do Senhor". Tudo junto e misturado.

OUÇA A MÚSICA DO ZECA BALEIRO CLICANDO AQUI:  HEAVY METAL DO SENHOR  

2 comentários:

Anônimo disse...

Legal a pessoa manter diálogo de si para si, já fiz isso, parece que há algo a ser ajustado.O problema são as pessoas achar que piramos é que precisamos de psiquiatra. Kkkkk

Anônimo disse...

Dizem que o excesso de muitos afazeres são coordenados ao falarmos com nós mesmo, mas tem que haver prudência para não sermos rotulados de birutas.