AGENDA CULTURAL

16.3.23

Dente de ouro e a moda "grillz": usaria? - Alberto Consolaria

Vários modelos de “grillz” e outras formas de ouro nos dentes!

 Na moda e costumes, tudo é reinvenção! Dente de ouro é antigo e, de um jeito ou de outro, volta à cena para impactar as pessoas, chegando a custar até R$300 mil. Me faz lembrar a infância, quando ladrões saqueavam sepulturas para tirar dentes de ouro. O “ouro nos dentes” faz parte da tradição cigana como forma de guardar e ostentar valores sociais.

Ouro fascina, mas nem bancos o usam como lastro financeiro. É pura fascinação a ponto se servir como “escândalo” quando jogadores da seleção foram jantar um filé com ouro no Catar. “Ouro em pó gastronômico” é barato e acessível. Apenas mal-informados pagariam fortunas para comer este filé.

 Há mais de 50 anos, ainda se encapava dentes com facetas e coroas de ouro para fins funcionais, estéticos e ostentação pelo sorriso dourado. Até o século passado se usava como metal nobre nas próteses fixas, quando o dente ausente era substituído por uma coroa de ouro soldada nos vizinhos que estavam restaurados ou encapados por ouro. O metal contornava o esmalte que ficava visível e se restabelecia função e estética. Chamadas de “pontes fixas”, os dentes substituídos eram os “pônticos”.

Era caro pela responsabilidade e destreza exigidas do cirurgião dentista e pelo custo dos materiais usados e dos protéticos. Hoje quase não se usa mais o ouro neste procedimentos com o advento dos implantes de titânio ou zircônia. Pacientes mais “diferenciados” até pedem que sobre os implantes se apliquem coroas de ouro.

OURO NOS DENTES

A necessidade de obter cliques nas redes sociais faz com que tenhamos coisas diferentes e recicladas do passado. Entre os praticantes e fãs de ritmos atuais de música e dança, se expande o uso do ouro nos dentes como:

1.   Em alguns poucos casos, como se fazia antigamente, preparando o dente com desgastes superficiais para receber uma faceta ou a coroa inteira de uma camada de ouro. Hoje são comuns estes desgastes para se colocar material de resina ou cerâmica ou “lentes de contato” com um aspecto estético muito favorável. Às vezes, o desgaste tem que ser maior e se aplica uma faceta ligeiramente mais espessa e sem danos aos tecidos gengivais e nem prejudica a higiene bucal.

2.   Uma outra forma de ouro nos dentes, muito popular, é a compra de joias dentárias que compõe se de uma capa sobre um ou mais dentes, que ficam protegidos por uma camada de silicone interna. O próprio paciente usa no momento da balada ou em fotos como se fosse um brinco, anel, piercing e pingentes.

3.   A forma mais badalada de ouro nos dentes é o “grillz”, um acessório ou uma joia sobre os dentes, como capa metálica removível de canino a canino. Esta joia de ouro, zircônia ou prata pode ser incrustrada de diamantes e outras pedras valiosas e internamente tem uma proteção de silicone para não afetar os dentes naturais subjacentes.  Ele recobre parcial ou totalmente estes dentes, podem ter símbolos como lua, cruzes e até siglas e nomes que aparecem nas fotos e imagens. MC G15, MC Guime, Luisa Sonza, Pedro Sampaio e João Guilherme são alguns famosos que usam “grillz” ou grades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se seguir as técnicas profissionais da Odontologia, o ouro na boca não tende a fazer mal aos dentes e à mucosa, muitos menos induzir o câncer bucal que está associado ao HPV, vício de fumar, álcool, radiações solares e produtos químicos da alimentação e higiene.

As faculdades não ensinam a fazer estes componentes e acessórios de ouro para uso nos dentes. Os profissionais que executam estes procedimentos devem ser treinados e se fundamentarem biologicamente sem preconceitos com o diferente. A demanda para acessórios dentários tende aumentar e os cirurgiões dentistas devem estar preparados.

O centro da saúde bucal, com ou sem o uso do ouro, é a correta e eficiente higiene com escova e fio dental. Os bochechos antissépticos não substituem jamais a escova e fio, apenas complementa o processo. Se acessórios de ouro forem usados com cuidado, não trarão consequências maiores, como ocorre com as lentes de contato, facetas, piercings, diamantes no esmalte, tatuagens e contenções. Os “grillz” não devem ser usados o tempo todo, apenas em situações especiais e devem ser removidos para comer, beber, falar, palestrar e dormir. Eles ajudam a valorizar a boca!   

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br  


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