AGENDA CULTURAL

17.8.23

Por que escrevi um livro sobre ossos? - Alberto Consolaro

Os ossos foram apresentados em suas estruturas normais, variações e quanto às doenças da maxila e mandíbula


A boca era vista como o local dos dentes e porta de entrada de alimentos. Ao dentista cabia extrair os dentes, limpá-los ou tratar as cáries, restaurando-os. Depois vieram os tratamentos de canais, a preocupação com as gengivas e tecidos de suporte, a ortodontia e até que se chegou aos implantes, que mudaram tudo.

A boca é o quarto a sexto lugar mais frequente de câncer no corpo, mas o cirurgião dentista que podia tratar o câncer de forma autônoma, perdeu esta possibilidade há duas décadas. Agora, ele pode participar do tratamento das neoplasias malignas de boca, mas no contexto de uma equipe liderada pelo cirurgião de cabeça e pescoço, um médico que se especializa em oncologia desta parte importante e complexa do corpo.

O cirurgião dentista também podia diagnosticar e tratar as doenças de glândulas salivares maiores como a parótida, submandibular e sublingual, mas também perdeu esta autonomia para o cirurgião de cabeça e pescoço. Essas perdas advêm de um conjunto de fatores, mas principalmente pelo ensino nas faculdades e outras instituições não formarem adequadamente os futuros profissionais para atuarem nestas áreas, deixando a sociedade sem cobertura especializada para tratar os pacientes com estas doenças, e são muitos.

Sem a quem procurar e sem receber uma atenção adequada, os pacientes ficavam à deriva até encontrar um profissional treinado e competente para ser diagnosticado e tratado. Esta deve ter sido, e foi, a principal razão para a medicina ter abarcado estas duas áreas que “pertenciam” à odontologia.

LIVRO DOS OSSOS MAXILARES

Ao redor dos dentes e da boca temos os ossos maxilares, a articulação temporomandibular, o seio maxilar, a orofaringe, a cavidade nasal e dentro dela temos a língua, e embaixo da boca, temos os espaços submandibulares e parafaringeanos, por onde muitos produtos bucais são drenados, especialmente nas infecções e inflamações.

Os ossos maxilares fazem parte da face e se relacionam com o ossos cranianos. O que acontece com os dentes, afetam diretamente os ossos maxilares e sequencialmente, pode afetar todo o entorno da boca, incluindo abscessos cerebrais e mediastinais, promovendo em casos extremos até óbitos de pacientes. Pode se dizer, sem exageros, que a odontologia é uma especialidade da medicina, e assim o foi por um bom tempo em alguns países da Europa. Com a instalação da União Europeia, houve uma uniformização e todos os países passaram a ter uma odontologia à parte da medicina.

A interface dentes, boca, ossos maxilares e as demais partes da cabeça e pescoço nos levou à percepção de que a odontologia e a medicina poderiam se beneficiar, se houvesse um livro que se preocupasse com sua normalidade e doenças. Que abarcasse um capítulo robusto sobre as (1) fissuras e outros distúrbios do desenvolvimento, (2) sobre o osso na oncologia e suas repercussões de seu tratamento na odontologia como a químio e radioterapia, (3) que discorresse com profundidade e aplicabilidades as osteomielites, osteítes e periostites e muitos outros assuntos ósseos. São 660 páginas, incluindo muitas ilustrações e crônicas científicas para ser lidas e usadas (www.dentalgo.com.br).

DUAS REFLEXÕES FINAIS

1. Muitas vezes, o médico e cirurgião dentista trabalham e dependem do osso para o sucesso do tratamento instituído, mas falta tempo e oportunidade para que ele se fundamente mais e se atualize sobre este maravilhoso tecido ósseo com sua dinâmica encantadora. Este foi o objetivo do livro escrito para o clínico de todas as áreas envolvidas na saúde e doenças da cabeça e pescoço e, que tem nos ossos maxilares, o centro de sua atuação.

2. Totalmente digital, acessível no celular, tablet e computador, com o preço de R$150 reais, o objetivo dos autores e da editora foi difundir o conhecimento sobre o assunto para todos. Chegou-se ao ponto de questionarmos se seria feito uma venda do livro ou, na verdade, uma distribuição, pois é quase gratuito pelo que a obra entrega ao leitor. 

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br  

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