A brasileira Elisabete
Weiderpass chefia a Iarc/OMS ou Agência Internacional para a pesquisa sobre o câncer da OMS
AUMENTO INCRÍVEL
No Brasil, de 2020 para 2040 haverá um aumento de 70% no
número de casos e de 80% na mortalidade pela doença. No mundo todo, o aumento
já foi comparado a um tsunami de casos. Os benefícios conseguidos nos novos
tratamentos serão para poucos pelos custos apresentados. A saída seria reduzir
a exposição das pessoas aos fatores de risco, que na verdade são conhecidos por
todos.
Para a pesquisadora, nenhum país está preparado para um
aumento de casos deste tamanho que advém do aumento da população mundial e da
taxa de envelhecimento. O câncer, de um modo geral, é uma doença do idoso,
sendo o diagnóstico feito, em média, aos 66 anos.
A taxa de mortalidade do câncer depende do sistema de
saúde de cada país e da causa mais prevalente na população. Na África e Ásia, a
causa mais importante ainda é a partir de agentes infecciosas, como o HPV,
muito relevante. Outro exemplo é a Índia, onde o câncer de boca está associado
ao tabaco por colocarem fumo na boca e ficarem o dia inteiro mascando-o. Este
vício começa na infância e dura décadas. Quando o câncer é diagnosticado, está
tão avançado e sem cura.
CAUSAS E PREVENÇÃO
Talvez o fator mais importante seja o aumento da
exposição de pessoas aos fatores de risco do câncer. O consumo do tabaco em
suas diferentes formas é responsável por 20% dos casos no mundo e continua a
aumentar, mais entre as mulheres.
A Convenção para o Controle do Tabaco de 2003 da OMS foi
assinado por quase todos os países, inclusive o Brasil, mas eles não seguem
como deveriam, afirma Elisabete. Um exemplo além da legislação, é o preço do
tabaco, que ainda é muito barato e deveria ter impostos mais caros.
O álcool é responsável por 8% dos casos de câncer, mas os
profissionais de saúde ainda não têm consciência do que o álcool causa tumores
de esôfago, fígado e mama, assim como o câncer colorretal, cavidade bucal e
faringe. Até bem pouco tempo, afirma a pesquisadora, a comunidade médica dizia
que o álcool trazia benefícios cardiovasculares, mas as pesquisas atuais
contradizem claramente essa ideia.
A prevenção pode evitar 40 a 50% dos cânceres. O câncer de colo de útero é evitável em 100%, de pulmão 90%, por exemplo. Evitar a exposição solar e a vacinação contra o HPV são formas de prevenção. Uma dificuldade de prevenção é a ação contrária da indústria de pesticidas, herbicidas e alimentos ultra processados. Ultimamente temos ainda a indústria de refrigerantes após termos publicado que os aspartame é potencialmente carcinogênico.
Outras causas destacados pela pesquisadora são o consumo
de carnes processadas, a exposição ao benzeno, radiação ionizante, poluição e
asbestos (amianto). Outra leva de causas bem definidas são os alimentos fritos
a altas temperaturas, carne vermelha, exposição ao glifosato e DDT, obesidade e
vida sedentária. Destaca-se ainda as emissões eletromagnéticas na faixa de
radiofrequências emitidas em toda a tecnologia atual. Aos que querem mais
detalhes, ela sugere entrar no site iarc.who.int.
REFLEXÃO FINAL E TERAPIAS
Perguntada sobre as novas terapias contra o câncer, Elisabete Weiderpass revela-se otimista enquanto avanço científico, mas diz que não são disponíveis para a população como um todo. Ela não enxerga nas novas terapias uma forma de reduzir a curto e médio prazo a mortalidade pelo câncer. E afirma que, se tivesse uma varinha mágica, ela a colocaria na prevenção, o que salvaria muito mais vidas e investiria em pesquisas para implementar estas possibilidades de prevenção.
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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