AGENDA CULTURAL

16.9.23

Câncer no mundo, dados incríveis - Alberto Consolaro

A brasileira Elisabete Weiderpass chefia a Iarc/OMS ou Agência Internacional para a pesquisa sobre o câncer da OMS 


Elisabete Weiderpass é uma brasileira brilhante e chefia a Iarc/OMS ou Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer da OMS. A entidade é responsável por investigar as causas dos cânceres e produzir estatísticas sobre este grupo de doenças para o mundo. Em visita ao país, ela deu entrevista à Revista Pesquisa Fapesp (n.220, ago 2023), para o editor Ricardo Zorzetto, relatando dados incríveis para o cidadão conhecer e influir nas decisões de governos.

AUMENTO INCRÍVEL

No Brasil, de 2020 para 2040 haverá um aumento de 70% no número de casos e de 80% na mortalidade pela doença. No mundo todo, o aumento já foi comparado a um tsunami de casos. Os benefícios conseguidos nos novos tratamentos serão para poucos pelos custos apresentados. A saída seria reduzir a exposição das pessoas aos fatores de risco, que na verdade são conhecidos por todos.

Para a pesquisadora, nenhum país está preparado para um aumento de casos deste tamanho que advém do aumento da população mundial e da taxa de envelhecimento. O câncer, de um modo geral, é uma doença do idoso, sendo o diagnóstico feito, em média, aos 66 anos.

A taxa de mortalidade do câncer depende do sistema de saúde de cada país e da causa mais prevalente na população. Na África e Ásia, a causa mais importante ainda é a partir de agentes infecciosas, como o HPV, muito relevante. Outro exemplo é a Índia, onde o câncer de boca está associado ao tabaco por colocarem fumo na boca e ficarem o dia inteiro mascando-o. Este vício começa na infância e dura décadas. Quando o câncer é diagnosticado, está tão avançado e sem cura.

CAUSAS E PREVENÇÃO

Talvez o fator mais importante seja o aumento da exposição de pessoas aos fatores de risco do câncer. O consumo do tabaco em suas diferentes formas é responsável por 20% dos casos no mundo e continua a aumentar, mais entre as mulheres.

A Convenção para o Controle do Tabaco de 2003 da OMS foi assinado por quase todos os países, inclusive o Brasil, mas eles não seguem como deveriam, afirma Elisabete. Um exemplo além da legislação, é o preço do tabaco, que ainda é muito barato e deveria ter impostos mais caros.

O álcool é responsável por 8% dos casos de câncer, mas os profissionais de saúde ainda não têm consciência do que o álcool causa tumores de esôfago, fígado e mama, assim como o câncer colorretal, cavidade bucal e faringe. Até bem pouco tempo, afirma a pesquisadora, a comunidade médica dizia que o álcool trazia benefícios cardiovasculares, mas as pesquisas atuais contradizem claramente essa ideia.

A prevenção pode evitar 40 a 50% dos cânceres. O câncer de colo de útero é evitável em 100%, de pulmão 90%, por exemplo. Evitar a exposição solar e a vacinação contra o HPV são formas de prevenção. Uma dificuldade de prevenção é a ação contrária da indústria de pesticidas, herbicidas e alimentos ultra processados. Ultimamente temos ainda a indústria de refrigerantes após termos publicado que os aspartame é potencialmente carcinogênico. 

Outras causas destacados pela pesquisadora são o consumo de carnes processadas, a exposição ao benzeno, radiação ionizante, poluição e asbestos (amianto). Outra leva de causas bem definidas são os alimentos fritos a altas temperaturas, carne vermelha, exposição ao glifosato e DDT, obesidade e vida sedentária. Destaca-se ainda as emissões eletromagnéticas na faixa de radiofrequências emitidas em toda a tecnologia atual. Aos que querem mais detalhes, ela sugere entrar no site iarc.who.int.

REFLEXÃO FINAL E TERAPIAS

Perguntada sobre as novas terapias contra o câncer, Elisabete Weiderpass revela-se otimista enquanto avanço científico, mas diz que não são disponíveis para a população como um todo. Ela não enxerga nas novas terapias uma forma de reduzir a curto e médio prazo a mortalidade pelo câncer. E afirma que, se tivesse uma varinha mágica, ela a colocaria na prevenção, o que salvaria muito mais vidas e investiria em pesquisas para implementar estas possibilidades de prevenção. 


Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br   

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