As camélias carregam uma simbologia muito forte no mundo |
Para saber se é questionador, responda qual é a história que levou à escolha do seu nome? A maioria não sabe responder, mas pode trazer à tona histórias lindas, singelas, pitorescas e até reveladoras.
No meu bairro, todas as ruas têm nome de
flores e a maioria nunca deve ter visto aquela flor que empresta o nome para
localizar sua casa. As pessoas têm dificuldade de explicar o nome da sua rua,
cidade e estado, mas ao procurar saber, se aprende muito!
CAMÉLIAS NO MUNDO
A camélia é uma flor emblemática de força,
idealismo e liberdade. Ela pode durar vários dias depois de colhida, mas, se
tocada, cobre-se de manchas escuras. As folhas, resistentes e brilhantes, são
muito decorativas e serve de acompanhamento para outras flores em arranjos e
buquês.
As camélias têm dezenas de espécies nativas
nas florestas da Índia, Sudeste Asiático, China e Japão. Se apresentam em
formas diversas nas cores brancas, vermelhas, rosadas ou raramente amarelas.
Oferecer camélias significa uma paixão avassaladora, amor eterno e desejo
ardente.
No Oriente, a camélia representa a
feminilidade, sendo muito retratada nas artes decorativas. A planta foi levada
para a Itália em 1739, pelo padre botânico Camellius (Georg Joseph Kamel), de
cujo nome, saiu o da flor.
Alexandre Dumas Filho em 1848 publicou o
famoso livro “A Dama das Camélias”, que narra o drama e o romance de uma
cortesã por um rapaz da sociedade com todas as dificuldades que ela sofre até o
leito de morte por esse amor. A obra foi inspirada no romance do escritor com a
cortesã Marie Duplessis, contando-se com o fato de ser ele próprio, um filho
extraconjugal de Alexandre Dumas. Em 1853, Giuseppe Verdi conheceu o sucesso
mundial imediato com a ópera La Traviata, utilizando-se das camélias em sua trama.
Na França, a camélia foi imortalizada por Coco Chanel, que a usou como símbolo de sua arte, sempre entregando-a como um presente elegante para homens e mulheres, traduzindo assim a beleza e harmonia, mas especialmente a fidelidade e longevidade. Ela foi dona de uma das mais renomadas casas de alta costura da França desde 1916.
No Brasil, as camélias se tornaram um
símbolo do movimento abolicionista e quem usasse a flor na lapela ou a
plantasse no seu jardim, estava a favor do movimento antiescravagista. Eram
cultivadas no Quilombo do Leblon, localizado em uma chácara na zona sul que
pertencia ao comerciante português José de Seixas Magalhães, onde os escravos
fugitivos cultivavam estas flores para que levasse as “subversivas” camélias
para a Princesa Isabel, com as quais adornava seus vestidos.
Rui Barbosa foi uma das figuras mais
influentes da época e plantou à frente de sua casa no Rio, três pés de
camélias, que lá estão até hoje, agora um museu muito visitado da Fundação Casa
de Rui Barbosa. No livro “As camélias do Leblon e a abolição da escravatura”, o
historiador Eduardo Silva conta esta linda história.
O simbolismo das camélias esteve presente
na assinatura da Lei Áurea, quando o presidente da Confederação Abolicionista
se aproximou da Princesa Isabel e lhe entregou um buquê de camélias
artificiais. Em seguida, chegou às mãos da Princesa um outro buquê, agora de
camélias naturais, vindas diretamente do Quilombo do Leblon. Rui Barbosa
definiu esta cena como "A mais mimosa das oferendas populares".
REFLEXÃO FINAL
Conhecer e valorizar o significado e o
simbolismo das coisas é abrir-se para novas experiências e saberes
maravilhosos, mas, infelizmente, deixa-se de fazer alegando falta de tempo,
ausência de hábito e até mesmo, comodismo! Gil e Caetano já cantaram lindamente
“As camélias do quilombo do Leblon”, vale a pena ouvir esta música.
Na luta contra a discriminação pela cor da pele, violência contra a mulher e outros preconceitos, bem que se poderia resgatar as camélias como o símbolo unificado desta conscientização. Seria impactante!
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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