Carnaval de rua volta com tudo e deixa gostinho de quero mais em Araçatuba, 2024 |
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O Carnaval é a festa mais popular do Brasil.
De fato, não conheço nenhuma festa em qualquer parte do mundo que canalize
tanta energia durante quatro ou cinco dias. Como dizem, tudo termina na
quarta-feira e a partir daí a contrição, até à Páscoa, 47 dias de sacrifício em
não comer carne, assim mandou por séculos a Igreja Católica Romana.
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Dizem que quem trouxe essa festa de “Carnis
Levale” para o Brasil foram os portugueses a partir do século XVI, que lhe
chamavam “Entrudo”. Pois, se não fossem os portugueses, quem seria? Não consta
que os índios conhecessem o Carnaval. Mas não foram os portugueses que
inventaram o desfile das Escolas de Samba. Isso parece que foram os clubes de
futebol do Rio de Janeiro, lá pelos anos 20 ou 30 do século passado.
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Mas se o cristianismo, pela mão da Igreja
Romana é o herdeiro dessa festa da subversão da ordem, isso quer dizer que
havia festividades pagãs semelhantes. Não só havia, como se perdem no tempo em
termos de antiguidade. Parece que a evidência mais antiga vem da Mesopotâmia,
Babilônia, mas estendeu-se pelas outras civilizações, a grega e a romana.
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Na Babilônia era a festa das Saceias. Nessa
festa um prisioneiro assumia o lugar do rei, agia como rei, governava como rei,
durante cinco dias. No final da festa era morto.
Algo parecido com as festas católicas do
Espírito Santo, ainda hoje realizadas nos Açores e alguns locais do Brasil, em
que um prisioneiro, ou um menino, assumia a condição de rei e presidia à mesa
farta de comida para distribuir pelos mais pobres. Era costume assar um boi
inteiro.
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Na Grécia e em Roma eram as festas de Dioniso
e Baco, em que se bebia vinho, se dançava e se usavam máscaras para representar
outras entidades, que não aquelas que ali estavam. Na Grécia antiga, nas peças
de teatro, conhecidas como “Tragédias e Comédias”, todos os atores
representavam usando máscaras, para que a sua identidade fosse irreconhecível e
a personagem fosse a que a máscara representava. Os atores eram só masculinos.
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As máscaras têm sido usadas até aos dias de
hoje durante esta época festiva. O Carnaval de Veneza é o exemplo mais
eloquente sobre esse costume de usar máscaras para, supostamente, esconder a
sua verdadeira identidade. Evidentemente que não escondia, mas dava ao usuário
essa sensação.
Durante a Idade Média era frequente o uso de
máscaras em bailes elegantes, um disfarce para as loucuras que elas protegiam.
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O imenso sucesso da festa carnavalesca no
Brasil, pode ter a ver com as constantes crises psicossociais que o país tem
atravessado, com o profundo desequilíbrio da população e outros fatores de
natureza cultural. Segundo a psicologia, quanto mais um país sofre mais
necessidade tem dessa folia, desse esquecimento das agruras da vida.
*Manuel Orlando Pina, escritor português, residente em Araçatuba e membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Araçatuba
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