AGENDA CULTURAL

3.7.24

A neblina tomou conta da cidade


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza. A neblina torna as coisas maravilhosas. OSCAR WILDE

A neblina tomou conta da cidade. As nuvens baixaram ao rés do chão. Não se via a um metro do nariz. O próximo passo é uma incerteza.  

Assim foi terça-feira, 02/07/2024. Era dia da Sandra ajeitar a casa, veio de Bis, estava apavorada com o nevoeiro. A cada acelerada vinha o desconhecido, apesar de ser um caminho rotineiro.

A namorada também reclamou, pelo zap, de que Araçatuba parecia Londres, ou São Paulo no tempo da neblina. Eu respondi que o tempo sombrio me assanha a inspiração, é romântico. Até ouvi o lobo uivar.

No meu tempo de menino, ir à escola, a pé, andando vários quilômetros por estradas, cruzando a neblina, era uma aventura. As recomendações maternas redobravam.

A neblina vem nos lembrar que os humanos ainda somos natureza, põe no mesmo nível  o lobo e o homem, contesta o cristianismo que quer esconder o nosso lado animal. Deus está em tudo, é também natureza. 

A neblina não é uma enchente do Rio Grande do Sul que quis nos educar na dor. Ela nos traz solitários para dentro da nuvem rala, é um acolhimento, dizendo que nós somos parte dela. 

Estranho é caminhar na densa névoa:
Solitária está cada planta ou pedra,
Nenhum arbusto enxerga o seu vizinho,
Cada um está só. HERMANN HESSE
   

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