Hélio Consolaro*
Por 14 anos, escrevi crônica diariamente na Folha da Região,
e tinha um ganho mensal para isso. Não era pouquinho e nem poucão, o que valia
no mercado de Araçatuba. Quando fui conversar, sair do jornal para ser secretário
municipal de Cultura, 2008, a casa tremeu.
Fiz minha proposta: o jornal me pagando o salário de secretário para eu
ficar só escrevendo, não vou ocupar cargo de confiança na Prefeitura. Não
quiseram, era muito. Respondi que precisava cuidar de meus interesses.
Escrever no estilo que escrevia e ter cargo não combinava:
precisava optar – fazer história ou testemunhá-la. E assim fui para a
Secretaria Municipal de Cultura e levei minhas crônicas para o blog (Google)
que tenho desde 2006. Atualmente, sou tão lido nas redes sociais quanto na
antiga Folha da Região.
Comecei a ser cronista em jornal escrito em 1993 na extinta
Folha da Manhã, todos os dias, mas ganhando algum caraminguá. Coisa simbólica,
mas ganhava. Lá aprendi a ser cronista e me tiraram a máquina de escrever das
mãos, me emprestaram o computador. Genilson Senche comprou a Folha da Manhã e
me levou para a Folha da Região em 1995. Comprei meu primeiro computador, não
havia mais por empréstimo. Era tão caro que fiz um empréstimo bancário, mas não
fugi do desafio.
De 1993 a 1995, escrevendo todos os dias, entre as aulas
diurnas e noturnas, eu ainda era um sujeito cartesiano, apolíneo, e percebia
que o leitor exigia de mim um escritor solto, dionisíaco, que levasse a vida na brincadeira. E fui me
soltando. Cheguei à perfeição, pois apenas uma colunista social não gostava de
minhas crônicas.
As consequências dessa mudança de estilo chegou à minha
vida, passei a ser um católico nada dogmático. Até a Helena começou a reclamar
do marido. Passei a gostar mais de mim. Minhas aulas de literatura eram uma
grandeza. Eu era um cronista de texto leve, sem perder a seriedade. Deixava de
ser um tabaréu para ser mais urbano.
Se o Tito Damazo, amigo e amado, cada vez aumenta o
tamanho de suas crônicas, as minhas andam diminutas Ele anda até falando por aí
que as crônicas dele são literárias, as minhas não. Eu escrevo para ser lido no
máximo amanhã, não sou e nem faço pose de escritor incompreendido.
Também não sou como o Geraldo da Cosa e Silva e Marilurdes
Campezi, cujas crônicas são escritas para os livros. As minhas nascem nos
jornais, sites, blogs, redes sociais. As melhores, quando há, vão para a eminência,
o senhor livro.
Não estou falando mal de ninguém, apenas definindo cada
um, construído por sua história pessoal.
O gênero crônica nasceu com o jornal, no rodapé da
página. Machado de Assis publicou pela primeira vez “Dom Casmurro” em jornais cariocas,
por isso os capítulos são curtos. Assim também foi “Memórias de um sargento de milícias”,
de Manuel Antônio de Almeida.
Rubem Braga está na história da literatura brasileira
porque só escreveu crônicas nos jornais. Eu sou um cronista das redes sociais,
um blogueiro, mas também publiquei livros para ter um a ser chamado de meu. Hoje,
até os livros são digitais.
O gênero crônica evoluiu ou involuiu, não sei. Esta foi
escrita no modo antigo. Mas é assim que se apresenta no momento: curta, rápida,
para ser lida no celular.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e
escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras
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