AGENDA CULTURAL

10.7.25

Amigos da seresta - viver bem a velhice

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

No comecinho de julho, dia 4, ano de 2025, fui convidado a assistir ao show de retorno ao mundo artístico de Araçatuba do grupo "Amigos da Seresta", apresentado no teatro municipal Castro Alves. Fomos alegres, eu e Fátima.

Há gente que gosta do grupo, outros passam longe. Isso é normal, principalmente quando as faixas etárias são diferentes, mas não custa nada um crédito motivador para o vovô ou para a vovó. Afinal, para ao punk, passamos pela seresta, que revela um mundo mais tranquilo.   

Podemos classificar que o grupo está na faixa etária da terceira idade, gente aposentada que precisa fazer alguma coisa, principalmente arte. Saber viver a velhice é uma arte e precisa da ajuda dos mais novos. Aquele velhinho ou aquele velhinha foi um jovem talvez rebelde em sua juventude.

Os velhinhos (e velhinhas) estavam bem-vestidos, com roupa de ver Deus no culto dominical. Palco é palco, merece todo o respeito, e velhinhos também.  As mulheres visitaram a cabeleireira, cabelo armado; os homens com seu chapéu, característica de seresteiro. Aliás, quando usei chapéu por um período, me inspirei neles.

Todos estavam radiantes diante da possibilidade de se apresentar a uma plateia densa, que não tinha preguiça de aplaudir. Alguns tiveram vida de músico profissional, outros foram eternos amadores. Só cantar, só tocar ou tocar e cantar. Cada um com seu talento              

Os netos (bisnetos), filhos, filhas, genro, noras. Todos presentes, aplaudindo. Um dos cantores me disse: "Somos velhos, mas ainda cantamos". O grupo Amigos de Seresta é uma porta importante de participação da terceira idade que teima em dar sentido à velhice. Quem teve algum pendor artístico na juventude, solta a franga na terceira idade, principalmente na dança.

A história do grupo foi organizada pelo escritor biógrafo Arnon Gomes no livro "35 anos do grupo Amigos da Seresta", publicado em 2023, quando seu presidente mais longevo no cargo era Aurélio Rosalino. O livro é um registro histórico muito importante.

Na política cultural do município, passamos um tempo que era melhor pagar uma fortuna para trazer Michel Teló do que investir verbas num grupo de idosos na recuperação  da autoestima.

Não tem nada não. Deus escreve nas linhas tortas da história. A partir do dia 4/7/2025, as forças estão recuperadas, surgiram novos dirigentes do grupo, mais democráticos. Viva a saudade, viva a seresta.

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