AGENDA CULTURAL

28.4.25

O Safadão do Nordeste


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor 

Quando este cronista nasceu, o Brasil saía de uma ditadura (Estado Novo) e depois veio outra, implantada pelo golpe militar de 1964. O Brasil vivia uma democracia cravada de períodos autoritários. Esta última (1964-85), comecei a contestá-la em 1969 na faculdade. Até me prenderam por subversão, participei da campanha das diretas, me elegi vereador (1983-88). Eu queria mesmo é votar para presidente! Não havia votado, só para cargos miúdos. 

Povo querendo votar para presidente. Aí surge nesse movimento um falso caçador de marajá na minúscula Alagoas que sempre contribui com cobras criadas para a política brasileira. Ultimamente, com um tal Arthur Lira. Fernando Collor de Mello encantou as mulheres com sua elegância, tinha uma vida de marajá, filho de família tradicional de Nordeste Brasileiro. 

Na verdade, o Safadão do Nordeste já era um prenúncio do bolsonarismo. A vitória de Collor organizou a política em cada município. Em Araçatuba, o oportunista foi Sidnei Cinti.  

Assim, a democracia brasileira começa de forma arlequinal, carnavalesca. Fiz a campanha do Lula, mas o caso de amor de Lula, antes do casamento, a Miriam Cordeiro, tirou o operário do páreo. Atualmente tivemos presidente com três mulheres, e as três se orgulhavam do sobrenome. 

Em 1991, após o golpe nas cadernetas de poupança, eu já estava gritando Fora Collor nas ruas de Araçatuba com cornetas em cima de um fusca. Eu também militava na política sindical. 

De repente, surge denúncia do irmão Pedro, a corrupção praticada por PC Faria e a avalanche dos caras pintadas. Nem precisa contar como terminou: impeachment e renúncia. Mais um vice assume: Itamar Franco

QUEM MATOU A ONÇA?

A onça que atacou um caseiro no interior de Mato Grosso do Sul não deve voltar à região de mata onde foi capturada. O felino está sendo tratado no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande (MS), e, posteriormente, deverá ser encaminhado para um recinto provisório ou definitivo, a ser definido pelo governo. CORREIO DO ESTADO, 28/04/20252

 Blog do Consa vai assumir a defesa da onça: atacou em legítima defesa. Ela ficou sem habitat natural, enfraqueceu-se e saiu como doida atrás de comida. Por obra da natureza matou e comeu um representante do seu agressor: um ser humano.

Certamente, a onça ajoelhou-se e agradeceu a Deus: obrigado por me mandar comida. O caseiro certamente fez seu pedido lamentoso, mas não foi ouvido. E ouvir uma voz cavernosa dizer: chegou a sua hora de destruidor morrer.  

26.4.25

Nas ruas lotadas de Roma, o testamento vivo de Francisco - por Jamil Chade


 Durante o cortejo entre a Praça São Pedro e a catedral onde foi sepultado o corpo de Francisco, as ruas lotadas de Roma para dar o último adeus se transformaram num testamento vivo do papa.

Enquanto o caixão passava e as igrejas tocavam seus sinos, milhares de pessoas nas calçadas jogavam flores, aplaudiram e choraram.

Francisco, em suas reformas, buscou romper com a lógica de uma Cúria que havia optado por preservar seus privilégios e poderes, em detrimento de sua doutrina social pelo mundo. Denunciou a hipocrisia de líderes políticos e religiosos, e por isso foi odiado por aqueles que instrumentalizam a fé.

Mas ruas de Roma estava a constatação de que parcelas importantes de cristão e ateus entenderam a mensagem do papa.

Fé e poder andam de mãos dadas no percurso da humanidade. A história da religião está repleta de noites sangrentas. Sempre me chamou a atenção como um tirano escolhia a religião que adotaria em seu reinado com base nas alianças que gostaria de construir, no poder que almejava conquistar. Tratava-se de uma decisão geopolítica, depois transformada em decreto que obrigaria cada súdito a rever suas crenças mais íntimas.

Se o cristianismo foi tão revolucionário ao dar espaço para mulheres e escravos naquele seu momento de nascimento da religião e tão rebelde por falar de igualdade, é perturbador como foram necessários quase 2 mil anos, escravidão, imperialismo, a aliança entre a cruz e a espada e genocídios em nome da fé para que alguns desses princípios se tornassem leis na Justiça dos homens.

Quando me sento diante do Guernica de Picasso, sou tomado por uma profunda repulsa diante da "sacralización" do golpe de 1936 na Espanha, transformado em guerra santa. Foi necessário o abalo sísmico da Segunda Guerra Mundial para que a busca por sentido da vida reaparecesse na agenda política. Claro, enquanto o genocídio era negro, indígena ou simplesmente longe dos olhos dos centros de poder, isso não parecia uma urgência.

No Brasil, vivemos mais um capítulo do sequestro da fé para fins políticos. Na busca por controle, vendedores de ilusões transformaram a aventura legítima de uma pessoa por um sentido na vida em instrumento de poder.


Charlatães que vendem esperança como política pública, em troca de votos e dinheiro. Criminosos que, diante de uma era de incertezas que nos afeta a todos, recorrem a instrumentos de persuasão. Usam a fé para legitimar a discriminação, o racismo e a violação aos direitos humanos.

A intolerância voltou a ser uma medalha que alguns carregam com orgulho no peito, inclusive por aqueles em postos de autoridade. Locais de oração foram transformados em palanques, enquanto armas se misturam com versículos da Bíblia. Sob o manto de Deus, a necropolítica é alçada a uma estratégia de poder.

Não consigo evitar um sentimento de profunda frustração quando ouço hipócritas que falam em fé quando destroem sonhos, vidas e liberdades de meninas. De cínicos que colocam o nome "Mulher" na porta de um ministério.

O papa, porém, nos ensinou nesses últimos anos que a oração deve vir acompanhada por uma ação coerente. Em muitas partes do mundo, o que está em jogo é a sobrevivência dos valores humanistas, de um projeto de democracia.

Uma espécie de tradução de alguns dos conceitos revolucionários do cristianismo.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/04/26/ruas-de-roma-lotadas-para-cortejo-se-transformam-em-testamento-de-francisco.htm

24.4.25

Minha vida católica


Hélio Consolaro*

A morte do papa Francisco me serviu para localizar minha faixa etária, quem são meus contemporâneos.

Se eu tivesse seguido o sacerdócio, seria hoje um cardeal ou um velho padre de uma capela de asilo de idosos.

Entrei na igreja Nossa Senhora Aparecida de Araçatuba, sendo carregado, para ser batizado com roupas novas, quando monsenhor Vítor Ribeiro Mazzei disse qual seria o meu nome.

Meus avós paternos foram meus padrinhos. Ganhar presente de padrinho era uma honraria, era a espera de todo afilhado.

Na Capela São Benedito, bairro Santana, Araçatuba, depois de abandonar a roça, aprendi catecismo com o seminarista José Waltrick (mora atualmente em Aracanguá).

Estudos concluídos, fiz a primeira comunhão pelas mãos do padre José Maria, com direito a foto. Tive a primeira conversa com Jesus.,

Depois disso, entrei no reino das fitas: amarela era da Cruzada; azul, dos Marianos. Depois disso, os padres começaram  perguntar obscenidades nos confessionários.

Com tantas contradições, passei a ter orgasmos com os catecismos desenhados pelo Zéfiro e trazidos pelo mestre Laurindo.

Dentre trevas e luzes, veio o papa João 23, com seu Vaticano II. Os papas antes dele eram chamados Pios. Assim o medo do pecado abandonou o céu, tomou conta a liberdade de viver.

Casei-me em Rosana-SP com Helena Nagai, outra católica, sob as bênçãos do padre José Sometti. Formei uma família.

Enviuvei-me. Minha namorada não falta à missa aos domingos. Quando soube disso, me descobri perseguido pelo catolicismo.

Os papas se humanizaram, mas a igreja continuou vetusta, monárquica e machista.

Alguns pregadores se apresentam modernos, sorrisos largos, mas são armamentistas, defendem seu patrimônio em detrimento da vida.

Como disse um estudioso de assuntos eclesiásticos, Francisco é mediático, preenche as telas da Globo, mas a igreja estrutural é conservadora e carrancuda, está de mãos dadas com os evangélicos conservadores. Aguardemos seu sucessor. Haverá retorno ou continuidade da ruptura? Rezemos. A minha vida continuará católica.

*Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba, de Andradina, Penápolis e  Itaperuna.

17.4.25

Na igreja dos fariseus


Hélio Consolaro*

Esse caso é verídico. Se aconteceu com você, não me acuse, caro leitor, porque nos templos é onde há uma multidão de fariseus, pecadores batendo no peito dizendo que está salvo, enquanto os outros estão na unha do capeta. Aliás, na hora dos cultos e das missas não há capeta para todo mundo, pois o demo é invocado por todos os pregadores.    

Então, caro leitor, na primeira fila da igreja, na hora da missa estava sentada uma família do bem e sobrou um lugar na ponta do banco. Um morador de rua resolveu entrar na igreja (é um direito dele) e ocupar justamente aquele lugar vago. A família, de pronto, levantou-se, deixando o mendigo sozinho. Uma desfeita. A homilia estava pronta para o padre, Deus ouviu suas preces, a inspiração chegou, mas não aproveitou, não teve sensibilidade.

De pronto, também, o morador de rua levantou-se e de pé fez sua pregação, bem melhor que a do padre:

- Fariseus! O seu Deus é o mesmo Deus a quem rezo! Gente de pouca fé, vem à igreja para cumprir a burocracia canônica.

O cara era culto. E o padre que não era esperto, ou não quis arrumar problemas com seus dizimistas, não se aproveitou da situação para usar o exemplo mandado por Deus para fazer a pregação.

Um afrodescendente, um moreninho (como costumam dizer os preconceituosos), saiu lá do fundo, levou o mendigo para se sentar-se ao seu lado. O morador de rua foi todo satisfeito, rindo para a assembleia. Não foi gente do bem quem o acolheu, era um simples como ele. 

Além de fariseu, havia na missa repressores, defensores da ordem, pois entraram na igreja dois soldados. Conversaram com o padre e foram embora.

O ponto cego está na quebra da formalidade, a missa virou uma bagunça. Para defender nossos interesses, quebramos a ordem de qualquer rito.

LENDAS DE UM ORTOPEDISTA

Toda cidade que preserva seus causos, sua história, suas lendas, aparece no acervo a de um médico ortopedista que ao fazer uma cirurgia, não marcou direito qual membro ia operar e fez besteira: trocou o lado, em vez do esquerdo cortou o direito.

Passei por isso nessa quarta-feira. Dr. Maurício Perina me convenceu a consertar meu joelho bichado. Apesar de saber da competência do cirurgião, pedi que queria ter prova concreta de que ele ia consertar mesmo o direito.

Não se fez de rogado, nos momentos finais, na mesa de cirurgia, descobriu a minha perna esquerda com as letras garrafais: NÃO escritas na pele da perna em pincel atômico. Com isso, a anestesia tomou conta de mim.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Academia Araçatubense de Letras

7.4.25

Trocar o joelho

Robôs humanoides são vistos como uma potencial solução para a solidão entre idosos

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Rezei muito quando era moço, enquanto criança também. Na vida adulta, voltei a rezar. Na velhice, estou vivendo da reza acumulada. Não é de tanto ajoelhar-me em oração que preciso trocar uma das rótulas, por ironia do destino, a da direita desgastou mais, está podre.

Estou a caminho do hospital da Unimed de Araçatuba como um carro vai para a oficina trocar o amortecedor. Fugi dessa cirurgia como o diabo foge da cruz, mas aos 76 anos, não aguentei mais. 

Na leitura da papelada de minha última avaliação médica (check-up), Dr. Gabriel Cortopassi, me disse com toda pompa de uma mensagem de que um médico gosta de dizer ao paciente: você está bem, parece um garoto de 20 anos, e tem mais 20 para viver. Está provado que ser linguarudo é saudável.

Com tantos anos pela frente, resolvi aligeirar meus passos. Deixar de ser caquético. Havia muita estrada para andar, festa para curtir.

Como disse minha filha: você está indo para o hospital como se fosse ao dentista extrair um dente. Enfrentar os problemas com alegria é a melhor alternativa.

Esses dias que antecederam a cirurgia me levaram às reflexões, eu me lembrei até da tia Hermínia. O desgaste da patela se deu devido a um genuvaro (pernas tortas, perna de alicate). O jogador Garrincha teve outro tipo de curvatura na perna. 

No meu caso, a esquerda endireitou (essa figura de linguagem se chama oxímoro), e a direita continuou curva, atrapalhada, me deixou com dois centímetros a menos, daí a produção de artrose, que produz dor. Ando a poder de analgésico robusto. Além da questão estética.  

Anos atrás. Eu via minha tia Hermínia (já idosa na época) na sua casa arrumando a cozinha quase dependurada na pia, por que os seus joelhos doíam muito. As duas pernas eram tortas. E não sabia que o destino me reservava o mesmo, um genuvaro pouco menos agressivo.

Com a atual tecnologia, cada velho se transforma num robô: óculos, transplantes dentários, aparelho auditivo, prótese de joelho, fêmur, além do tadalafila. As mulheres além das cirurgias plásticas, aplicação de botox etc.

Melhor mal acompanhado do que sozinho, nem que seja por um velho robotizado.      


2.4.25

O risco de ser adolescente hoje


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Assisti à série de quatro episódios ADOLESCÊNCIA, sucesso de 100% na crítica, 91% do público. Percentuais nunca vistos. Esquerda e direita aprovaram o seu conteúdo. Ela questiona a paternidade atual.

Sensibilizou até o governo inglês, que está mudando as coisas no país por causa da série. Não houve fato real, a série baseia-se em fatos reais.

Foi filmada em plano-sequência, ou seja, uma técnica de filmagem que registra uma cena inteira sem cortes de câmeraÉ uma técnica que pode tornar uma obra audiovisual mais realista e rica. Não existe mistério.

Pela internet, os portadores de baixa auto-estima encontram explicação na teoria do 80/20 e e se engajam na rede manosfera (misoginia - odeia as mulheres). Aparece na série o termo "incel", "incel" — celibatários involuntários, os homens que culpam as mulheres por seu fracasso sexual.

Alguns ícones são a figura de comprimido, símbolo dos "red pill" (referência à pílula que revela a verdade em "Matrix"), e o emoji de "100" — referência à teoria 80/20.

As escolas na série são apresentadas como jaulas, um ambiente de desamor, com professores desestimulados que precisam explicar coisa para quem não fez nenhuma pergunta, não tinha nenhuma dúvida a ser tirada. 

Os dois primeiros episódios são mais policiais, o terceiro é tenso, conversa dele com a psicóloga e o quarto apresenta a família viajando numa vã (pai, mãe, filha) 

SINOPSE

A vida da família Miller muda drasticamente quando Jamie (Owen Cooper), de 13 anos, é preso sob a acusação de assassinar uma colega de escola. Seu pai, Eddie (Stephen Graham), luta para compreender o que aconteceu, enquanto a psicóloga Briony Ariston (Erin Doherty) tenta desvendar a mente do garoto. O inspetor Luke Bascombe (Ashley Walters) lidera a investigação, determinado a descobrir a verdade por trás do crime. À medida que o caso avança, segredos são revelados e a linha entre inocência e culpa se torna cada vez mais tênue. A pressão da mídia e a opinião pública transformam a vida dos Miller em um pesadelo, colocando em xeque os laços familiares e a confiança entre pai e filho. Dirigida por Philip Barantini, a série marca mais uma colaboração entre ele e Stephen Graham, após o elogiado O Chef. Com uma abordagem intensa e realista, Adolescência explora o impacto devastador de uma acusação tão grave na vida de uma família, deixando no ar a pergunta: o que realmente aconteceu?

2025 | Policial, drama, suspensa
Título: Adolescência (Netflix)
Criado por Jack Thorne, Stephen Graham
Elenco: Setphen Graham, Owen Cooper, Ashley Walters  
Nacionalidade: Reino Unido 

      

30.3.25

Foi presa por que estava lendo

Carolina Maria de Jesus 

 Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Há gente que gosta de ler biografias, aliás há pessoas que exageram, só gostam delas. A escritora brasileira (naif) Maria Carolina de Jesus (1914-1977) desde criança gostava de ler dicionário. Trata-se de um gosto esquisito, mas instrutivo, era o único livro que tinha. 

Ela nasceu em Sacramento, Minas Gerais. Nome bem católico. Hoje a escritora é o orgulho da cidade, mas no seu tempo de anonimato, foi a vergonha, chegou a ser expulsa.

Carolina de Jesus sentou-se na soleira da porta da sua casa em Sacramento com o dicionário no colo e foi lendo. De repente, fora abordada por soldados e presa porque estava lendo. Foi acusada de estar lendo o livro de São Cipriano. Ela dizia que não, que era um dicionário, mas os soldados não sabiam ler, ela não pode provar que dizia a verdade.

-Que livro é este, o do São Cipriano, que não pode ser lido por todos? - pergunta o leitor. 

Trata-se de ocultismo, bruxaria, que facilmente foi ligado no Brasil à cultura africana. Desde 1937, por iniciativa do constituinte Jorge Amado, há liberdade religiosa também para os negros, mas esse incidente com Carolina de Jesus aconteceu bem antes.    

Foi levada para a cadeia pública aos 12 anos. Apanhou porque estava lendo. Sua mãe foi a seu socorro, mas também ficou presa. Apanhou também. Sacramento virou um inferno. Negro lendo, negro era gente do trabalho, pessoas para serem espancadas. A princesa Isabel já assinara a libertação há alguns anos, mas foi apenas um ato burocrático. 

A menina, em torno de 12 anos, rebelou-se e foi para São Paulo, à procura da Estação da Luz sem a mãe, que não quis participar da aventura. Dizem que Carolina de Jesus saiu a pé, chegou a São Paulo caminhando. Criolo ainda não cantava "não existe amor em SP"

Veio atrás de seus direitos humanos, por ser pobre e preta também tem direito à literatura. Foi morar na Favela Canindé, capital paulista. Virou escritora, transformou-se na vedete da favela.

Num país em que uma menina negra apanhou porque estava lendo, isso há 100 anos, até que evoluímos, pois o combate ao racismo chegou aos campos de futebol.  

Carolina de Jesus era vocacionada para a literatura, queria exercer esse direito. Lutou, escreveu "Quarto de despejo - diário de uma favelada". Enquanto foi cordata, recebeu o prestígio da grã-finagem; quando passou a falar a verdade com todas letras, voltou à marginalidade. Se fosse viva seria uma fanqueira.    


25.3.25

Peixes envenenados na quaresma

Peixes podem se afogar? Apesar de parecer impossível, a resposta é sim. E as mudanças climáticas podem tornar isso mais comum. IA

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Há gente, por interesse (ou ignorância), que não adota o termo mudança climática. Negam.

Os partidários da terra plana têm horror ao termo “mudança climática”, que carrega uma carga semântica ideológica. Não acreditam que o ser humano esteja depredando o planeta. A desgraça acontece por obra de Deus, não há remédio. Se não chove é só fazer promessa para São José. São os negacionistas do meio ambiente.

Com esse significado para o termo "mudança climática", os grandes proprietários continuam destruindo o planeta sem nenhum limite ou punição: apodrecer os rios, envenenar a Terra com agrotóxicos. Deus deixou a Terra para o homem dominar, ou melhor, destruir.

Os ovos estão proibitivos ao preço que chegaram, as galinhas, com tanto calor, já não botam tanto em série. Devido ao clima, não há milho para todas. Na verdade, nos transformamos em exploradores vorazes dos galináceos. O pouco de ovos que sobrou no Brasil, o Trump ofereceu um dinheirão por eles, assim os granjeiros preferem vendê-los aos norte-americanos. 

O café, que não se trata de alimento de primeira necessidade, é mais um costume, uma tradição, vem caindo sua produção devido às mudanças climáticas desde 2021. A falta de água é considerada o pior dano para a lavoura.  

Vietnã, grande produtor de café, enfrenta dificuldades para encontrar terras adequadas para aumentar a produção. A seca no Vietnã afeta a produção local e pressiona o preço global dos grãos. 

Já estávamos com dois problemas, agora surgiu o terceiro. Os peixes estão morrendo afogados! Como? De tanto a gente jogar merda nos rios e córregos, de excesso de agrotóxicos na plantação, os peixes não resistem. Nem café, nem ovos e nem peixes, em plena quaresma. A mudança climática vai nos matar de fome.

Não estou falando lá de longe, o meu cenário é a região Noroeste do Estado de São Paulo, o rio Tietê, a granja Katayama, a torrefação de café Brasil. Até outro dia não se negava água para ninguém, hoje vender água é um grande negócio.

Se não der para comer peixe na Semana Santa porque até o curimbatá está envenenado. Reze assim mesmo, porque o grande culpado dessa desgraça não é Deus, somos nós mesmos, os seres humanos.

A profecia do velho pajé Tamãi, personagem do livro “Apenas um curumim” já está se concretizando: “Dia virá em que caraíbas ficarão com sede, muita sede, e não terão água para beber: os rios e lagoas e valos e regatos e até a água da chuva estarão sujos e podres. E chorarão. E continuarão com sede porque a água do choro é salgada e amarga...” (Werner Zotz)


20.3.25

PONTO CEGO: Confederação pró-armas em Araçatuba



Hélio Consolaro - Rádio Cultura FM 95,5

Foi realizada no dia 8 de março, no Hotel Mariah, em Araçatuba-SP, organizada pelo lLAN - Instituto Liberal da Alta Noroeste a CONFEDERAÇÃO PROARMAS.
O prefeito de Araçatuba Lucas Zanatta foi o mestre de cerimônias, com a presença do deputado federal Marcos Pollon, Campo Grande-MS, líder evangélico , o bispo Marcelo Toschi, (Igreja Amor e Cuidado), o presidente do PROARMAS São Paulo, Rodrigo Duque, além de Paulo Kogos, Tatiane Costa e Capitão Benitez!

O PROARMAS, oficialmente Associação Nacional Movimento Pro Armas (AMPA), é uma associação com sede no município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, que alega ter o objetivo de produzir conteúdo sobre armas de fogo e atuar pelo acesso civil às armas de fogo.
O PROARMAS foi fundado pelo advogado sul-mato-grossense, Marcos Pollon que é deputado federal pelo estado do Mato Grosso do Sul.
O ponto cego é que numa democracia cada grupo tem a liberdade de se organizar, mas quando se trata de armas, ficamos com um pé atrás. https://youtu.be/onMhlsLkJKg?si=btKdD6mHPlCC3b7d

PONTO CEGO: Lenhador apenas mudou de nome

 



Hélio Consolaro

Rádio Cultura - 95,5 FM - Araçatuba
Quarteirão onde funcionou por alguns anos, bem lá atrás, um cemitério e outrora "almoxarifado da Prefeitura, depois a sede da Acrepom. E agora é propriedade particular em construção. Um quarteirão enorme entre as ruas Marcílio Dias (dois quarteirões), a Gonçalves Ledo e Rangel Pestana.
Ontem ou anteontem, as árvores da calçada da rua Marcílio Dias, plantadas há uma década por um grupo idealista de cidadãos araçatubenses, autorizado pela Prefeitura fez plantio de várias árvores.. Elas estavam grandes, começando a fazer sombra. A empresa que iniciou a construção arrancou todas. Foi autorizada pela Prefeitura? Não importa se com ou sem autorização da burocracia, a qualidade de vida em Araçatuba caiu. O lenhador apenas mudou de nome.