AGENDA CULTURAL

12.10.10

Prometeu! Tem que cumprir

Comprovantes eleitorais de Luiz Consolaro - meu pai - já falecido
Hélio Consolaro*

No dia 3, fomos ao local de votação passar um e-mail para o Tribunal Superior Eleitoral, agora, em 31 de outubro, iremos ao local de votação apenas para tuitar: clicar um número e voltar. Rapidinho...

Meu amigo Eduardo Zambon, corintiano doente, vota no palmeirense José Serra; este croniqueiro, palmeirense , vai votar na Dilma, candidata de um corintiano, o Lula.

Nessa guerra eleitoral via internet, Zambom me repassou uma mensagem bem preconceituosa:

“O segundo turno das eleições é dia 31/10, Halloween. Não perca a chance de queimar uma bruxa." Referia-se à Dilma.

Respondi-lhe no mesmo tom: “Enterremos, então, um vampiro”. Afinal, José Serra não dorme à noite, e se parece com Bento Carneiro, personagem de Chico Anísio. Ainda bem que essa briga toda termina em pizza. Se fosse no Oriente Médio, acabaria em tiroteio.

João Paulo II fez como sucessor um cardeal dos bastidores, Joseph Alois Ratzinger, a eminência parda. Dois perfis totalmente diferentes. Este, intelectual, meio travado; aquele, mais solto, dado a viajar, visitar o rebanho, sorridente. Respeitando as devidas proporções, podemos fazer um paralelo entre Lula e Dilma.

Meus pais ficaram um tempão sem votar. Depois da aquisição do título de eleitor, nunca deixaram de cumprir o dever. Nesta eleição, levei minha mãe, 84 anos, e recolhi os comprovantes de votação de meu pai, já que falecera em junho. Votar é uma demonstração de vida para os idosos.
Na época de minha militância de Teologia da Libertação, os católicos mais carolas diziam que não se devia misturar fé e política. Nas eleições atuais, com essa onda de dizer que o outro é ateu ou atéia, cada um quer provar por a + b que é crédulo. Dilma foi à missa; Serra chegou a beijar terço.

Nem tudo é tragédia, há humor também. Meu neto de 6 anos acompanhou o padrasto na hora da votação, ele queria ver como era a tal urna eletrônica e testemunhar o voto adulto. E a combinação era que o voto para o Tiririca estaria garantido.

O cabo eleitoral, sem saber a denominação e as implicações legais, pretendia um voto de cabresto, ficou observando cada teclada e nada de foto do Tiririca. Meu neto sabia que a foto de seu candidato seria sem a fantasia de palhaço.

Quando percebeu que havia acabado o ato cívico do padrasto e não viu foto do cearense, gritou para que todos ouvissem:

- Você também é mentiroso! Não votou para o Tiririca. Prometeu e não cumpriu! Depois fica falando para eu não mentir...
O pessoal da seção e eleitores à espera da vez caíram na gargalhada, e só ouviam:

- Cala boca, moleque!

Prometeu, tem que cumprir!

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Em eleição, qdo começa o horário político até o meu filho Caio já diz:
É tudo mentiroso...