AGENDA CULTURAL

14.1.11

O filósofo se debruça sobre o papel dos museus na sociedade contemporânea

Revista E - SESCSP - janeiro de 2011
Ulpiano Toledo
Bezerra de Menezes


Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses conhece com intimidade o tema museologia. Ele já esteve à frente do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP) entre 1989 e 1994, como também organizou entre 1963 e 1968 o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da universidade e o dirigiu também de 1968 a 1978. 

“Prefiro considerar que o museu, em vez de espaço de produção, preservação e reforço de uma memória, transforme-se num espaço de confronto, visão crítica e entendimento das memórias”, comenta Ulpiano, em entrevista à Revista E. Professor emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e docente do programa de Pós-Graduação em História Social, ambos da USP, Bezerra discorre sobre a função social e econômica dos museus ante a indústria cultural contemporânea. 

“Como o museu é inventado, sempre acreditei que sua primeira obrigação educacional seria dar a conhecer o que é um museu e como funciona”, diz o especialista, doutor em Arqueologia Clássica pela Sorbonne, na França, e ex-membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) – vinculado à Secretaria da Cultura de São Paulo – nos períodos de 1971 a 1987, 1996 a 2004, e 2006 a 2007.


Qual seria a função de um museu nos tempos de hoje?

O mais importante que posso dizer é que não convém reduzir as funções do museu a um modelo único. É uma tendência forte entre nós e convém combatê-la. Os museus, ontem como hoje, têm potencial de exercer várias funções: fruição estética, conhecimento crítico, informação, educação, desenvolvimento de vínculos de subjetividade, sonho, devaneio etc. No meu entendimento, o grande privilégio do museu é poder articular – de preferência solidariamente – essa multiplicidade de funções, científico-documentais, culturais e educacionais. Tal privilégio continua em nossos dias. 

No entanto, acrescentaria algo mais marcado pelos tempos em que vivemos e que tem na desmaterialização da sociedade um explosivo fator de controle social, desmaterialização a que o museu pode resistir. De fato, até que o projeto pós-humano se realize, a condição humana se define ainda como corporal. É o nosso modo de ser no mundo: como dizem os especialistas nos estudos da cultura material, não apenas temos um corpo, mas somos um corpo. As mediações materiais, portanto, são condição de vida biológica, psíquica e social. 

Assim, ainda se justifica haver em nossa sociedade uma plataforma especificamente dedicada a suscitar ou aprofundar a consciência do universo material em que estamos mergulhados e de que fazemos parte, mas que, por sua indispensável onipresença, passa em branco quase sempre. Ora, creio que uma das principais funções do museu é desnaturalizar essa dimensão material do mundo, isto é, mostrá-lo como produto da ação humana, dos interesses humanos, dos conflitos, valores e aspirações humanas – aí se incluindo a natureza culturalizada. 

A desmaterialização, porém, convém à nova ordem sócioeconômicocultural do capitalismo avançado e vem provocando transformações radicais, quer na cidade como espaço desterritorializado, quer no diagnóstico médico que desconhece o doente, quer na terceirização dos nossos cinco sentidos, eliminando-os da experiência social, quer, enfim, culminando no sistema financeiro, que inventou a propriedade privada mais radical e sublimadamente incorpórea. É preciso se convencer de que a desmaterialização é uma porta que se abre à dominação.


Frases destacadas da entrevista:


“Os museus, ontem como hoje, têm potencial de exercer várias funções: fruição estética, conhecimento crítico, informação, educação, desenvolvimento de vínculos de subjetividade, sonho, devaneio etc.”


“Cada vez mais, encontro fundamentos para acreditar que o museu deveria ser o lugar das perguntas, muito mais que das respostas”


“Sob a aparência da interatividade, continua-se a propor enganosamente que ver é o melhor caminho do conhecer”


“Há na internet um enorme potencial de memória coletiva vivenciada, ainda em gestação – e concomitantemente com potentes mecanismos de amnésia social”


2 comentários:

EQUIMUSEUS disse...

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Hélio Consolaro disse...

Repassei ao diretor de museus da Secretaria da Cultura de Araçatuba para analisar a proposta.