AGENDA CULTURAL

17.1.24

Materiais escolares

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

No meu tempo de menino escolar, meus pais compravam os materiais dos filhos na Papelaria e Livraria dos Amigos. No balcão do estabelecimento do primeiro quarteirão a rua Marechal Deodoro, conheci Rintaro  e Kunivo Takahashi. Iniciar o ano letivo com material novo era uma delícia. 

Assim fui dizendo tempo afora que queria ser professor, e fui por 40 anos. Houve uma professora que fez um levantamento em sala de aula no antigo I.E. de Araçatuba na base de levantar a mão na sala de aula, não acreditou na minha vocação profissional. Eu não devia estar bem naquele período. Ela disse: "não chega lá". E cheguei. Hoje, ela é nome de escola. Errar no magistério é uma fatalidade, o profissional fica muito exposto.   

Como professor, trabalhei em escolas públicas (ensino fundamental 2) que forneciam livros didáticos por três anos, ou seja, três alunos deviam usar o mesmo volume. E eram livros de preenchimento, mas não podiam preencher as lacunas nos próprios livros. No final de cada ano, chamavam-se os alunos, um a um, para devolver o livro que era usado no ano seguinte por outra turma. 

Até então, antes do livro didático circulatório, usavam-se a lousa e o duplicador a álcool. O livro com limitação de uso era um progresso. Então, este professor recomendava (exigia) que as respostas fossem postas a lápis no caderno.

Do Ceará, veio uma notícia com o seguinte título: "Apagadoras de livros usados fazem renda extra na volta às aulas: 12h para apagar 200 páginas".  E cobram, claro. E apagam de um tal jeito que a resposta dada pelo aluno do ano passado não apareça recalcada para o novo aluno. Trabalho de presidiária, mas está de certa forma colaborando com a educação.  

Já lecionei também em escolas  particulares, mas para o ensino médio. Apostilas caríssimas. Mais caro é o material usado na educação infantil e no ensino fundamental 1. E se fazia tudo isso em nome do alto nível do ensino.

O portal G1 deu o seguinte título ao assunto: "Meu filho tem 1 ano, e a escola pediu 1.200 folhas sulfite, diz mãe; saiba o que não pode ser exigido na lista de material escolar". Há gente abusando.

Parte de minha vida profissional como professor foi em escolas particulares. Sempre me pagaram direitinho, nunca tentaram burlar os direitos trabalhistas. Algumas delas patrocinaram atividades da Academia Araçatubense de Letras. Tanto no público como no privado há gente boa, basta ter uma relação de confiança.

Os rostos alegres à espera do material escolar hoje serão o futuro da nação. Sempre achei essa frase demagógica, mas do alto de meus 70 anos, considero-a verdadeira. Já fui o futuro, hoje sou o passado.

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