AGENDA CULTURAL

5.7.13

Na rua! Uma avaliação


Marcos Francisco Alves*

Ao levantarem a bandeira da corrupção partidária, esconderam  levantamento feito pelo Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE),  que revelou o Ranking da Corrupção no Brasil e o partido que ficou em primeiro lugar foi o DEM. Em seguida vieram o PMDB (segundo lugar) e PSDB (terceiro lugar). O PT ocupa a nona posição. Sobre isso, silêncio  tumular...    

Após inúmeras leituras, debates e estudos é possível iniciar avaliações sobre os significados das manifestações, permitindo identificar o  seu perfil, seus objetivos  e os participantes. Para isso é necessário separar aparência do essencial e entender o caráter espontâneo e/ou  consciente desses fenômenos. Na aparência, temos um amplo movimento  de massas com bandeiras para todos os gostos que vai, cada vez, se diferenciando.  Na essência, pelo desdobramento das manifestações, com hegemonia clara da direita, com infiltrações paramilitares ,  grupelhos ultraesquerdistas  e apoio do PIG ( após perceber que isso  traria transtornos para os governos de centro-esquerda ).  

Evidentemente que todo movimento embute   contradições,  agudizadas pela luta de classes:  a aparente estabilidade econômica e social  com avanços positivos para a população nos últimos dez anos, não significa que foram superados os entraves neoliberais contidos nos fundamentos  econômicos, desde o Plano Real,  feito para satisfazer da  classe média para cima  e que impossibilitam   superá-los e alavancar  um novo e necessário  tipo de desenvolvimento social. O modelo econômico  está esgotado  é o que indica as manifestações, pois não consegue mais suprir as necessidades que os avanços conseguidos prometiam: saúde, educação, transporte etc de qualidade para todos e isso traz inseguranças para aqueles beneficiados por esse modelo. Não é a toa que as periferias não participaram das manifestações pois  ainda beneficiadas pelos programas sociais do governo federal.

E elas foram totalmente  espontâneas, como querem fazer  crer as mídias e os setores de direita, as  quais as  galvanizaram? Não foram.   As manifestações tiveram início sob a direção de um grupo de jovens da pequena burguesia paulista, em sua maioria ligados à ultraesquerda,   pela passe livre e avançaram  em contestação aos governos de centro-esquerda, capitaneados por Dilma. Após a repressão infantil e consciente da PM paulista, com apoio das mídias, ela extravazou e teve a  adesão de milhares de   pessoas  com  algumas bandeiras justas e trazendo  posições  contestatórias e conscientes, às vezes ingênuas,   às doenças e sequelas sociais acumuladas pelas equivocadas e claudicantes políticas econômicas, que até então as beneficiavam e que não conseguem, mesmo com os incontestes progressos sociais, romper as amarras neoliberais e avançar na transição capitalista tardia. Foram acrescentados a elas  o  repúdio à corrupção em geral, aos partidos políticos de esquerda e entidades populares seja ela mistificada ou não pela sistemática campanha midiática nacional. 
Os golpistas de sempre, viram nisso uma excelente oportunidade de desgastar o  governo Dilma mesmo quando grande parte das reivindicações eram localizadas e regionais. Ao levantarem a bandeira da corrupção partidária, esconderam  levantamento feito pelo Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE),  que revelou o Ranking da Corrupção no Brasil e o partido que ficou em primeiro lugar foi o DEM. Em seguida vieram o PMDB (segundo lugar) e PSDB (terceiro lugar). O PT ocupa a nona posição. Sobre isso, silêncio  tumular...      
                                                                                       Propalaram também a   “ausência de lideranças”, tentando justificar o caráter espontâneo das manifestações.  O curioso  é que em   todos os lugares apareceram os “cabeças” do sempre usado movimento pela redução das tarifas, em entrevistas à mídia nacional e internacional ,  não denunciando  a descarada manipulação midiática das manifestações, no início condenando a todos como “baderneiros”, logo depois as insuflando abertamente contra o governo Dilma, em transmissões televisivas 24 horas por dia, inclusive com agenda das manifestações!   
                                                                                                                       Em Araçatuba essa suposta”ingenuidade e espontaneidade facebuquiana”, chegou a ser cínica. Convocada a primeira manifestação em solidariedade ao movimento passe livre  e contra a repressão policial , essas bandeiras nem foram levantadas, concentrou-se nos governos de centro-esquerda. Em relação à polícia tucana, gélido e “espontâneo” silêncio. Pior, defendendo  um suposto “ apartidarismo”, impediu-se que quem fosse partidário participasse do evento, mas não foram  impedidas palavras de ordem de ataque aos governos de centro-esquerda. Silêncio na  geral quando eram os desmando tucanos: a privataria,  o mensalão tucano em  Minas, os baixos salários dos professores estaduais, o sucateamento da saúde  pelo governo paulista, o sistema de cotas discriminador de São Paulo, a cobrança extra de eixo do caminhões nos pedágios paulistas  ou  a defesa da reforma agrária, ingresso livre para a exposição, a Lei por uma Mídia Democrática, a sonegação de impostos por empresários e banqueiros, taxação das grande fortunas etc.   E mesmo não tendo “lideranças”, logo, logo estas  estavam dando entrevistas em uma emissora e  organizando reuniões ou as dirigindo, mantendo sempre a pauta de ataques pela direita.Recentemente, um jornal local  noticiou o esvaziamento de um desses encontros  por  “... pessoas ligadas ou simpatizantes dos tucanos, deixaram o local quando viram que não haveria críticas mais duras aos governos petistas. E deixaram elogiando o governo Alckimin.” Realmente, ‘apartidários”!                                                    
De volta ao presente: as manifestações não são espontâneas, na essência são pessoas das classes médias e da pequena burguesia,  alguns conscientes e outros inconscientes,  conduzidas por elementos da direita partidária ou ressentidos “apartidários”. Alguns participantes trazem  elementos conscientes importantes sobre reais condições da população como um todo  que a esquerda  tem que levar em consideração se quer enfrentar e  disputar, com uma agenda progressista esse espaço com a direita: é e  precisando  dialogar com as parcelas médias que estão sendo manipuladas devidas às políticas econômicas e  sociais atuais! Por isso, mesmo considerando o caráter difuso das reivindicações quase todas refletindo anseios e frustrações da classe média, sobretudo essa mais triste e conservadora que morre de medo das propostas das esquerdas e de qualquer ação que beneficie os mais pobres ,  não se deve escamotear a importância das manifestações. 
Mesmo que os apoiadores sejam empresários, alguns que escaparam escandalosamente de condenações, atores e apresentadores  globais, até a cubana Yoani Sánchez, musa da extrema-direita latino-americana e especialistas do Instituto Millenium,  o IBAD reencarnado, é necessário agilizar as manifestações que contenham as reivindicações que possuam propostas que possam enterrar as resquícios  neoliberais ainda vigentes.    
Também cabe preparar-se para o longo combate contra a instrumentalização desses movimentos  pela burguesia nacional e internacional, a chamada direita neoliberal,  os ultraesquerdistas que nunca conseguiram apresentar alternativas possíveis,   a propaganda preconceituosa contra a organização partidária e das massas. O objetivo é  absorver e diluir o descontentamento popular contra a políticas neoliberais, ainda inconscientes, buscando estimular movimentos “inorgânicos, apartidários e espontêneos” para que  esse descontentamento não evolua e  se descubra quem são os reais causadores do sofrimento popular.  A direita reacionária utiliza esses movimentos e “quase sempre... aproveitam o enfraquecimento objetivo do governo para tentar golpes de Estado”. As chamadas Jornadas de Junho refletem espaços democráticos e sociais conquistados  nos governos de centro-esquerda com  Lula e Dilma e negados nos governos de FHC.  O  pleno e justo  exercício dessa  “democracia das ruas” deve  se canalizar  em massivos protestos contra as mazelas do capitalismo brasileiro . É preciso ocupar esses espaços, politizar as massas, trazer a perifeira  e romper com  o engodo de que nos encontramos na “primeira década de governos pós-neoliberais no Brasil”  e combater o programa da direita que é a negação de tudo aquilo que melhorou no Brasil: a melhora da situação dos mais pobres, os programas sociais, a elevação do salário mínimo, a ampliação da carteira assinada, a presença do Estado para minorar os efeitos perversos da cultura dos mercados, a diminuição do desemprego etc. e repudiar o programa dela  que é privatizar os bancos públicos, aprofundar a privatização da Petrobras, suspender o Bolsa Família (como ficou claro através do boato espalhado), baixar ou eliminar o salário mínimo e extirpar tudo o que a CLT tem de bom para os trabalhadores, negar a participação popular, impedir a reforma agrária, continuar com a sonegação de impostos etc.  NÃO PASSARÃO!
*Marcos Francisco Alves é professor e militante do PCdoB, Araçatuba-SP 



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