AGENDA CULTURAL

4.1.14

Formadores de opinião e maria vai com as outras

Conheci a expressão "formadores de opinião", quando adentrei portas de partido legalizado, o antigo MDB na década de 80. A preocupação era conquistar os formadores de opinião. Se quiser, caro leitor, ter um conceito tradicional de "formadores de opinião", clique aqui, e leia uma definição.

Formador de opinião é o sujeito sabido que faz a cabeça do burrinho, do coitadinho. Vamos dizer que exista isso, principalmente numa sociedade onde a cidadania seja rala, mas atualmente, com tanta informação disponível, as contradições ficam mais expostas, permitindo ao cidadão formar a sua própria opinião, sem ser piolho, que vai pela cabeça dos outros.


Os "doutores" (sinônimo de sabidos) já manipularam muito neste país. Leia abaixo artigo de Luís Nassif sobre o governo de Jango Goulart.


Atualmente, se houvesse "formadores de opinião", Lula não teria sido reeleito e nem Dilma seria presidenta da República. A maior mágoa dos políticos conservadores é que os mais pobres aprenderam a gostar do PT, porque descobriram que nos governos petistas conseguem mais vantagens, a base da pirâmide social participa mais, tem vez.   

      
Segundo o Ibope, Janto teria sido reeleito em 65
Por Luis Nassif, no GGN (31/12/2013)

A primeira vez que ouvi falar nas pesquisas do Ibope sobre o governo Jango foi em um congresso da Wapor (a associação latino-americana de pesquisas de opinião) em Belo Horizonte. Participei de um debate sobre o novo papel dos blogs junto à opinião pública. Um dos papers apresentados mencionava dados gerais da pesquisa, localizada nos arquivos que o Ibope doou à Unicamp.

Nesta semana, na Carta Capital, há uma entrevista de Rodrigo Martins com o historiador Luiz Antônio Dias sobre as pesquisas. Os números são impressionantes:

· Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%).

· Pesquisa de março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores

· Havia amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais.

· Pesquisa na semana anterior ao golpe, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango.

· Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%.

· 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo.

· Entre as classes A e B, a rejeição a Goulart era um pouco maior em 1964. Ao menos 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista.

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É o mais contundente documento até agora divulgado sobre o desproporcional poder político dos grupos de mídia na democracia brasileira e latino-americana no século 20.

Quase todas as ditaduras latino-americanas foram implementadas por meio de golpes de Estado legitimados por um suposto apoio da opinião pública. E esse apoio era medido exclusivamente pelo volume de notícias veiculados nos grupos de mídia, e pela mobilização que conseguiam em algumas classes sociais. Um enorme espectro da opinião pública passava ao largo desse jogo restrito.

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Depois da redemocratização, houve vários golpes de Estado institucionalizados no continente, não apenas contra governos ditos de esquerda – como o fracassado golpe contra o venezuelano Hugo Chávez – como contra governos tidos como de direita – Fernando Collor, no Brasil, Carlos Andrés Perez, na Venezuela.

Em todos os episódios, juntavam-se interesses contrariados de grupos políticos e de grupos de mídia. Levantavam-se denúncias sólidas ou meros factoides, criava-se a atoarda, passando a sensação de que a maioria da opinião pública desejava a queda do governante.

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Segundo o Ibope, Jango teria sido reeleito em 65″

O ponto mais relevante das pesquisas do Ibope é mostrar que a chamada opinião pública midiática sempre foi um segmento minoritário indo a reboque de uma aliança que incluíam os grupos de mídia, alguns partidos conservadores e alguns interesses do grande capital.

Esse modelo, que domina o debate econômico e político em todo século 20, chega ao fim com o advento das redes sociais.

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