AGENDA CULTURAL

11.1.14

Pode ser o último

Hélio Consolaro*

O livro “Raul Abelinha; e outras quimeras”, de Rafael Batista, é um livro de gênero misto, havendo nele crônicas, contos e poemas. O autor se diz mais prosador do que poeta, de seus 20 anos, está enveredando na poesia e no teatro.

A Canal 6 Editora, Bauru, não assina a edição, embora a impressão seja de boa qualidade, papel polén soft, com orelhas e 190 páginas de 14cm por 21cm. Edição à altura da Objetiva, Record, etc. Com o prêmio do Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Araçatuba, Rafael Batista pagou a edição. Está sendo vendido nas livrarias por R$ 30,00.

O livro tem o prefácio de Aline Leão, graduanda do curso de letras da Universidade Federal de São Paulo, que o abre citando Antônio Cândido. O livro é dedicado à Amanda Stuck (a parte em verso); e a prosa, nada mais que ao escritor argentino Jorge Luís Borges.

A primeira orelha é assinada por Amanda Stuck, falando do autor, da qual destaco o melhor trecho: “O que mais gosta e sabe fazer, é escrever. E assim o faz. Desenha palavras com sossego e da simplicidade traz os berros, e das dores traz o alvor, dos cantos faz um verso, da estrada, o amor”. A segunda orelha traz sua breve biografia. A quarta capa é assinada por Lucas Fernandes.     

“Primeiras quimeras”, a primeira parte do livro e conforme informações do Rafael Batista, com textos mais antigos. “Conhecendo o amor” revela experiências do narrador com o amor, surpreendendo até o leitor de mais idade.

Nas partes seguintes, terceira e quarta, Rafael Batista me surpreendeu, porque suas personagens são pessoas marginalizadas, moradores de rua, como fazem os grandes escritores. Ele não quis retratar o mundo das festas, do glamour, mas as mazelas sociais, o ser humano vivendo a miséria até as últimas consequências. Ele nos surpreende com trechos bonitos de prosa poética.

O espaço físico são as imediações da Praça São Joaquim, Araçatuba, cujos bancos se tornam camas de mendigos à noite. Rafael chega a citar o Mercado Municipal, avenida João Arruda Brasil. Embora não cite a praça, ele me confessou se tratar dela. Raul Abelhinha é o mendigo que o autor elegeu para gastar mais páginas com ele no livro.  

Os poemas de Rafael Batista são na sua maioria curtos, havendo poemas de até dois verbos, mas há os longos. Exemplo de poema curto: “Fubá// O sabor/ de lembrar a vó/ num bolo de fubá”. Não chegam a ser haicais, porque ele não segue a técnica dos japoneses. Pelo poeta citado no livro, gosta muito de Mário Quintana.

Se Rafael Batista resistir aos embates da vida prática, encontrar a poesia nos lugares mais lúgubres como demonstrou no livro ser capaz, não desistir nunca de ser um escritor, ele terá tudo para sê-lo, e dos bons.

O maior incentivo que ele pode encontrar agora é conseguir leitores para o seu livro, porque há gente consumindo best-sellers e torcendo o nariz para as obras de autores locais. Mas não basta apenas comprá-las, precisamos lê-las. “Raul Abelinha; e outras quimeras” é o primeiro, mas não pode ser o último.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP     



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