AGENDA CULTURAL

20.6.14

Ter equipamentos culturais na cidade

Centro de música e artes de Araçatuba, projeto do arquiteto Márcio Fontão, ocupando a área da antiga pedreira Baguaçu de Araçatuba

Hélio Consolaro*
Em Parati-RJ, a Flip brota do chão. Ela não é instalada em construções de cimento armado, mas em tendas. Até os grandes auditórios com traduções simultâneas para cada participante funcionam em grandes tendas alugadas para o evento. Essa forma de instalar dependências para um evento está se tornando uma rotina no Brasil.

Se por um lado, não se investe em grandes obras que ficam
ociosos nos demais meses do ano, com uma cara manutenção, as instalações provisórias também ficam caras para os promotores, encarecendo os eventos.

Sílvio França, coordenador da Unidade do Sesc de Birigui, que abrange também Araçatuba, declarou num dos jornais que a cultura de Araçatuba está bastante dinâmica, no caminho certo, mas faltam equipamentos culturais no município. Concordamos com ele.

Araçatuba, por exemplo, precisa de um terceiro teatro público para grandes plateias (construção prevista no plano de governo do segundo mandato do prefeito Cido Sério (PT), um centro de convenções e um parque para a prática de caminhadas. Restaurar o Centro Cultural Ferroviários deve ser o próximo passo. Essa restauração faz parte do plano de governo do prefeito Cido Sério (PT) do seu segundo mandato.

 A Prefeitura de Araçatuba ficou mais de 20 anos pagando conta da transferência dos trilhos, cuja obra foi realizada antes da Lei de Responsabilidade Fiscal, quando um prefeito transferia as dívidas de seu mandato para os futuros prefeitos. Isso proporcionou uma estagnação na construção de equipamentos culturais e esportivos.

Os trechos abaixo, da revista E do Sesc, vêm confirmar as nossas palavras. A falta de equipamentos culturais no município ou a concentração deles no centro da cidade é uma questão de mobilidade urbana também. Exemplo: espetáculos no teatro municipal Castro Alves em dias que o comércio funciona à noite ou mesmo durante o dia provoca congestionamento e não lugar para estacionar os carros.     

Maria Aparecida Perez**

“A tendência é apontarmos a dificuldade de acesso sem considerarmos a falta de formação para a compreensão e o interesse pela diversidade e complexidade da cultura. O que faz parte de uma política de formação de público, isto é, preparar as pessoas para a criação, crítica e experimentação, para que possam ser mais que espectadores, possam refletir sobre o que veem e sobre as suas sensações”, diz Maria Aparecida. “Os motivos para a baixa frequência cultural se somam, mas o principal, na minha visão, é a concentração de equipamentos culturais nas áreas centrais das cidades, quando existem. Esses equipamentos, além de se concentrarem nas áreas centrais, geralmente são privados, o que nos remete à questão de acesso, uma vez que o custo é alto para a maioria da população. Ao valor da entrada somam-se gastos com transporte, tempo de deslocamento etc. Se for um passeio familiar, aumenta o recurso a ser investido e as famílias comparam os gastos e terminam por cortar o que consideram recreação ou supérfluo. Essas atividades não são vistas como parte de um processo educacional.”

**Socióloga especializada em administração pública

Gustavo Venturi***

“É importante separar dois aspectos entre os que incidem de modo mais determinante para a baixa fruição cultural observada: de um lado, a questão da falta de acesso, percebida pelos entrevistados como ausência de equipamentos culturais na cidade e/ou dificuldade para chegar aos equipamentos mais próximos; de outro, a falta de interesse, de costume ou de gosto por determinadas formas de expressão cultural. A dificuldade de acesso pode significar tanto ausência ou precariedade dos transportes públicos, sobretudo em municípios médios e grandes, como, ainda, impedimentos em função do custo dos deslocamentos”, afirma Gustavo. Já a questão do interesse,na opinião do coordenador, está relacionada à educação escolar, mas também aos demais processos de socialização. “É preciso entender o gosto pela arte, o prazer estético e o senso crítico como frutos de processos de desenvolvimento que não são inatos. Para que se realizem, dependem de contextos e vivências que estimulem ou facilitem sua emergência e desenvolvimento”, acrescenta. “Nesse sentido, mesmo que não haja clara consciência dos efeitos de uma omissão não deliberada, é verdade que uma sociedade que descuida desse aspecto da formação de seus indivíduos objetivamente é uma sociedade que valoriza pouco a cultura.”

***Professor da USP, consultor da Fundação Perseu Abramo

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário Municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

Aleluia!
Até que enfim ouço sobre o aproveitamento daquele espaço. Projeto lindo. Pena que acho que nós não o veremos realizado