AGENDA CULTURAL

29.11.14

Jesus em Araçatuba: de Carlinhos a Marcha

Araçatuba completa 106 anos, está sendo mais festejado do que o ano do centenário, 2008, quando o município atravessava uma crise geral, inclusive com prefeito cassado. À busca de uma antítese, se estamos hoje com Jesus, naquele ano, o município estava na unha do capeta. 

Em 2014, Jesus se estabeleceu em Araçatuba. Quando alguém me diz "Jesus" nestes dias de Edara e de aniversário do município, não sei se está falando do Carlinhos ou da Marcha para Jesus, organizada pelos evangélicos. 

- Como? Você quer ingresso para o baile do Carilinhos de Jesus?  Não tenho mais ingressos. Esgotaram-se no primeiro dia de distribuição...

- Não. Quero saber onde vai ser o show da Marcha para Jesus?

- Defronte da loja Havan, na avenida dos Araçás.  

Como os festejos, tanto o laico como o religioso, serão de gente bem comportada, ninguém vai trocar o nome do Mestre, chamando Jesus de Genésio.  


Carlinhos de Jesus
O nosso Fred Astaire 

Autor do texto: Sérgio Cabral

Meninos, eu vi! Eu vi Carlinhos de Jesus, ainda menino, brilhando nos bailes de Cavalcante. O sucesso era tanto que as meninas, mesmo as que tinham cinco, seis anos mais do que ele preferiam tê-lo como par embora lá estivéssemos, nós, simples mortais mas homens feitos, para dançar com elas. Por essas e por outras, ainda bem jovem, Carlinhos já era conhecido como o "Fred Astaire de Cavalcante".

Eu o vi, já adulto, dançando na minha casa durante uma festa que pretendia trazer de volta a década de 1950, festa por sinal em que Albino Pinheiro se destacava por causa do topete que armou na base do Gumex. Dura lex sed lex no cabelo só Gumex (isso é só para os sessentões como eu). Nasceu naquela noite a ideia de uma escola de danças comandada por Carlinhos, episódio, aliás, muito bem contado pelo nosso herói.

Ei-lo dançarino vitorioso e , vejam vocês, escritor de um livro que certamente será muito lido, pois o personagem central é muito bom e o autor soube apresentá-lo com absoluta competência, ora fazendo confissões, ora relatando fatos interessantíssimos. Afinal, Carlinhos de Jesus é um grande brasileiro. Quem fez mais do que ele para projetar a dança de salão? 

Carlinhos não inventou as escolas de danças de salão, mas quem as projetou mais do que ele, mesmo levando em conta o tempo da Academia Morais, que perguntava por quantas oportunidades você perdeu por não saber dançar? Graças a ele, aprender a dançar virou matéria do currículo de todo aquele que quer ser feliz. 

Num momento do livro, Carlinhos fala sobre as virtudes terapêuticas da dança. Para confirmar tais propriedades, cito o exemplo de um querido amigo e um dos mais importantes psicanalistas que o Brasil conheceu, o saudoso Eduardo Mascarenhas, que foi aluno de Carlinhos de Jesus porque, como ele dizia (não me lembro se as palavras eram exatamente estas) “a dança conduz à felicidade”.

E as comissões de frente da Mangueira? E as comissões de frente da Em Cima da Hora? E o passista que empolgou a Avenida e ganhou o Estandarte de Ouro? Ah! Carlinhos de Jesus! Mais do que dizia o samba-enredo da Em Cima Hora em sua homenagem, não é só “o seu bailar que me seduz”. A sua vitória sobre as doenças, os preconceitos e sobre todas as dificuldades que sei que você enfrentou também me seduz.

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