Hélio Consolaro*
Élvis Presley não morreu, Cristo
não morreu na cruz, escapou, assim os fãs dizem de seus profetas e ídolos.
Lampião (o Virgulino) era veado.
No livro "A casca da
serpente", de José Jacinto Veiga (o J.J. Veiga ou José J. Veiga - Jacinto
não pegava bem), Antônio Conselheiro (Antônio Vicente Mendes Maciel) também não morreu. Ressuscitou? Escapou?
Mas a história não diz que os soldados federais desenterraram e morto mesmo
deceparam a cabeça dele? Leia o livro e
saberá, caro leitor. E faço-lhe mais uma provocação: que tem a ver Antônio
Conselheiro com a serpente?
Essas duas
semanas – Natal e Ano-Novo – desde meus tempos de professor – foram as mais
preguiçosas do ano. O que mais faço nelas é ler livros encalhados em minha
biblioteca à espera de meus olhos.
“A casca da
serpente” era um livro fotocopiado, encadernado em espiral, nem me lembro como
veio parar na minha estante. Cheguei à página 75, pulou para a 85. Pensei: “Agora
que eu estava gostando da leitura, encontro um abismo, como passar para o lado
de lá?”.
Nada de texto
digital na internet. Até a edição de papel estava esgotada. Apelei para o presidente
da Academia Araçatubense de Letras que é doutor em letras e também gosta de
J.J. Veiga. Disquei o número certo. Por telefone, determinou:
- Venha buscar!
Quando cheguei em
casa, com o livro verdadeiro nas mãos, me senti imbecil. As páginas estavam
todas lá na fotocópia do livro, houvera apenas um erro de encadernação.
Na verdade, o que
me fez dividir a experiência com meus leitores foi
um trecho muito lindo escrito por J.J. Veiga no livro sobre o fato de carregar
armas:
Mas quem anda desarmado entre guerreiros nem sempre leva
desvantagem. Armamento é assim, sempre foi: serventia para uns, desvalia
para outros. Quem de outros recursos até mais cortantes e menos sujeitos a
superação, a enguiço em momento crítico, a retumbos pela culatra. E mais. Quem
carrega arma pra onde vai, parece que a presença dela, o peso, o incômodo
mesmo, acabam dando ao portador alguma certeza de que está garantido e forrado,
de que está por cima. E mais: essa certeza parece que dá na pessoa que carrega
arma uma coceira, uma vontade de recorrer à arama ao menor pretexto, como para
justificar a posse dela – e se não é para usar, por que carrego isso? Já as
pessoas que nesta vida só querem viver sem estorvar a vida dos outros, essas
não têm fascinação pelo carreto de armas. Elas acreditam e confiam mais na
inteligência e na parlamentação.
Nunca havia lido texto mais eloquente a favor do desarmamento do que esse. “A casca da serpente” vale a pena ser lido. Não se
trata de propaganda, porque não há exemplares à venda, que é uma pena.
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