AGENDA CULTURAL

22.11.15

Marido faz carta ao 'EI' em homenagem à esposa morta em Paris: 'Não terão o meu ódio'

Antoine Leiris perdeu esposa em ataque ao Bataclan na última sexta-feira (13/11/2015) e escreveu recado ao grupo extremista compartilhado milhares de vezes nas redes sociais



A mulher de Antoine Leiris foi uma das 129 vítimas fatais dos ataques em Paris na última sexta-feira (13). Ela estava na casa de shows Bataclan, palco da maior das carnificinas.
Tomado pela dor da perda, Leiris escreveu um texto que viralizou nas redes sociais: uma carta em homenagem à esposa e também um recado ao grupo que se autodenomina "Estado Islâmico" e que assumiu a autoria dos ataques: "Vocês não terão o meu ódio". Assista ao vídeo.
"Na noite de sexta-feira, vocês roubaram a vida de um ser humano excepcional. O amor da minha vida, a mãe do meu filho. Mas vocês não terão meu ódio", era o início da carta de Leiris.
"Vocês querem que eu tenha medo? Que eu dê um olhar desconfiado aos meus irmãos na rua? Que eu sacrifique minha liberdade em troca de segurança? Vocês perderam. Mesmo jogador, mesmo jogo."
O filho de Antoine Leiris e sua esposa tem apenas 17 meses de idade. Na carta, o pai promete cuidar do bebê e ensiná-lo a também não responder com ódio.
"Somos apenas nós dois, meu filho e eu. Mas somos mais poderosos que todos os exércitos do mundo. (...) A cada dia, esse pequeno garoto irá insultá-los com sua felicidade e liberdade. Porque vocês também não terão o ódio dele." 
Leia a carta de Antoine Leiris: 
Vocês não terão o meu ódio. Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excecional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho, mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.
Por isso eu não vos darei a prenda de vos odiar. Vocês procuraram-no mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira. Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela nos vai acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no países das almas livres a que nunca terão acesso. Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar-vos, eu quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio. 

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