AGENDA CULTURAL

12.5.16

Você é do dia ou da noite, sol ou lua?


ENTREVISTA - Christophe André, psiquiatra especializado em transtornos de ansiedade no Hospital Sainte-Anne, em Paris, publicou especialmente Et n'oublie pas d'être heureux . Abécédaire de psychologie positive (E não esqueça de ser feliz. Abecedário da psicologia positiva) (Editora Odile Ja­­cob). Os conselhos de Christophe André para começar o dia com o pé direito.
Por Pascale Senk – Le Figaro

LE FIGARO - Na psiquiatria, o estado em que um paciente acorda de manhã é importante?
Christophe ANDRÉ - Sim, mesmo se muitos outros elementos devem ser naturalmente considerados: os despertares demasiados cedo, às 3 h ou 4 h da manhã, ou as grandes dificuldades para emergir.  Nos bipolares, em particular, observou-se uma grande tendência de desincronização do ritmo de vigília dia-noite. Em casos de depressão, observamos em que estado a pessoa acorda, pois este primeiro contato com o dia é um período muito sensível em que, além disso, quando há ruminações mentais ou estados negativos da mente, a situação não tende a melhorar durante o dia. Quanto às pessoas ansiosas, elas têm mais espaço. Na maioria das vezes, seus medos ao despertar desaparecem com o aumento da atividade.

Você comentou sobre os benefícios de tomar tempo para si mesmo na parte da manhã. Em que consistem?
Sim, sempre fui um madrugador, provavelmente devido a uma predisposição genética que permite que «pessoas matinais» possam apreciar o sabor do dia que está chegando e sintam a paz da casa quando todas as outras pessoas ainda estão dormindo. É como uma bolha preservada. Com a prática da meditação, aprendi também que podemos entrar em estado de ativação no início do dia, graças a esses exercícios de conscientização, programas psicológicos sobre os quais podemos contar para o restante de nosso tempo de atividade: estabilidade emocional, maior presença, altruísmo. Estes últimos se manifestam mais fortemente e facilmente quando os «aquecemos» por assim dizer, na parte da manhã.
 

Para avançar nesta direção, que outras atitudes parecem-lhe necessárias?

Não olhar imediatamente seu computador ou smartphone ao acordar! Estou realmente impressionado de ver como muitos de meus pacientes, apesar de não terem o perfil de “nerds”, admitem que seu primeiro gesto é o de se conectar à Internet. Eu digo a eles: «Vocês têm todo o tempo para isso. No entanto, o que é mais importante, é se conectar primeiramente a si mesmo e ao mundo, de uma forma mais profunda e estável, começando pelo que eu chamaria de um momento orgânico, não digital.» Fazer movimentos conscientes de alongamento ou alguns ciclos respiratórios, permite «reabitar» o seu corpo. Observaremos também aonde irão seus pensamentos, nos conectaremos em todas essas chances que temos na vida: estar vivo, ter um teto. Tantas conscientizações que permitem não cair na armadilha do rolo compressor diário.

Por quê?
É preciso cuidar para que tanto o momento de despertar quanto o de ir dormir, períodos sensíveis, não se assemelhem com o resto dos nossos dias. De fato, são momentos de transição, portanto, muito importantes em relação à nossa ecologia da mente. Trata-se de ser cuidadoso. Observe: o que é melhor na parte da manhã? Arrancar seus filhos da cama apressá-los, sem ter tempo de conversar com eles? E à noite, colocá-los para dormir, sem ter trocado duas palavras com eles? Pois bem, se considere como seus filhos! E faça o mesmo com você: aprenda a distinguir o urgente do importante.

O que mais?
Temos tendência a privilegiar o urgente, senão corremos o risco de ser punidos: não ter finalizado este assunto nos impede de ter credibilidade em uma reunião, etc., de modo que quando não fazemos o que é importante (conversar com seus filhos, cuidar de seu corpo), estamos apenas numa fase de carência, infelizes, frustrados, mas não punidos. No entanto, no final de nossas vidas, nos arrependeremos realmente de não ter tido tempo para as coisas importantes em nossas vidas. Estas necessidades fundamentais podem ser alimentadas se tomarmos tempo para nós mesmos na parte da manhã.

VOCÊ QUER SE TORNAR UM MADRUGADOR?
Por Pascale Senk – Le Figaro
PSICO – Para realizar seus sonhos, uma solução seria adiantar seu despertador. Mas como?
Vamos sonhar um pouco: vamos imaginar que temos uma 25ahora para viver, e inteiramente livre quanto ao seu conteúdo. O que faríamos? Um refúgio de paz para redigir nossas lembranças, escrever poemas ou preparar uma viagem de volta ao mundo? Uma sessão de exercícios leves ou de abdominais? Cada um com seus sonhos. Neste caso, enquanto refletimos alguns já aproveitaram desta hora de liberdade. Todos os madrugadores: Michel Cymès que tem «as melhores ideias relativas às suas emissões matinais », o psiquiatra Christophe André, que aproveita para «conectar-se a si mesmo » , a política Chantal Jouanno, que dedica tempo à corrida. Eles fazem depoimentos a respeito de sua «morningophilie» (aqueles que gostam de madrugar) e o que ela muda na sua existência, no livro estimulante de uma recente convertida, Isalou Beaudet-Regen, (La Magie du matin. L'heure de plus qui va changer votre vie,  (A Magia da manhã. A hora à mais que vai mudar sua vida) (Editora Leduc. S).

No entanto, esta mulher da área de comunicação que tem uma formação de filósofa, tem uma longa experiência: «Eu levantava tarde ou então, quando era preciso me arrancar da cama, tudo ocorria na pressa, na última hora, reclamando, ela admite. De manhã, isso sempre foi um mistério para mim. Como era possível apreciar este momento, sendo que objetivamente, o lado de reinicialização da máquina, é francamente bastante desagradável? Acordar cedo, sobretudo no inverno, é realmente um exercício de estilo!» É praticamente impensável para aqueles que já passam uma hora no transporte ou devem cuidar  do despertar «on time» de dois ou três filhos.

Morningophiles (adeptos do despertar cedo)
Por conseguinte, Isalou Beaudet-Regen entrevistou centenas de pessoas sobre o assunto: «por que e como você se levanta?», entrevistas que deram origem a uma crônica na France Inter em 2008 e um blog http://www.365mornings.com.

Esta será sua primeira rodada de transformação em madrugadores. A segunda, sua vida diária, com um marido que ela qualifica de «007 da manhã» e, finalmente, uma das últimas mensagens de sua mãe prestes a morrer: «A vida ajuda a quem cedo madruga ». A refratária entende então que adiantar seu despertador em uma hora – qualquer que seja sua agenda – é a chave de uma vida escolhida.
Hoje, ao ter radicalmente mudado de ponto de vista, Isalou Beaudet-Regen pertence ao movimento ascendente dos «morningophiles», aqueles que entenderam que a forma como se levantam influencia o seu dia e dá outra qualidade de vida à sua existência. Nos Estados-Unidos, é o conferencista Hal Elrod, com sua bíblia Miracle Morning (Editora First) incitando multidões com um espírito mais drástico, a levantar-se às 5 horas da manhã, que incorpora esta nova tendência.

Mas como alcançar esta mutação? «Sabemos que a genética influencia nossa tipologia circadiana e nos dá uma personalidade mais matunina ou vespertina, diz Aurélie Meyer-Mazel, psicóloga especialista do sono. No entanto, a maioria de nós tem um perfil mais neutro, o que significa que podemos nos adaptar. É então a dimensão psicológica que prevalece.» Ouça: se você tiver uma motivação profunda, um projeto que você leva a sério, você vai conseguir. «Pois não se trata apenas de acordar uma hora mais cedo  para fazer mais da mesma coisa , diz Isalou Beaudet-Regen. Este tempo que se libera deve ser consagrado para si e dedicado ao que desejamos realizar para dar sentido à nossa vida.»

A “siesta”, uma aliada da saúde

De um ponto de vista «técnico», optar por liberar uma hora de manhã é o método mais tentador para iniciar sua mutação. «Mas cuidado, se somos francamente da noite, não é preciso insistir e forçar sua natureza , adverte Aurélie Meyer-Mazel. Assim, podemos efetivamente começar por levantar uma hora mais cedo mas permanecer atento as suas reações durante o dia e observar-se para entender qual é  a quantidade de sono que precisamos. Se a média para se sentir bem é de 7h30, alguns precisam de mais. Basta dizer que os jantares até a meia-noite se tornarão mais difíceis de aceitar para estas pessoas.»

O outro ponto de apoio para tal estilo de vida é a “siesta”, que aparece cada vez mais como uma aliada incomparável da saúde. Mas como agir quando trabalhamos com outras pessoas? «Se não pudermos deitar, isso não importa, diz Aurélie Meyer-Mazel. Uma pausa de 10 a 20 minutos, especialmente com os olhos fechados, é suficiente. Sem necessariamente cair no sono, o estado de relaxamento regenera e ajuda a continuar como se fosse um novo dia.» Uma 25.a hora, um novo dia no primeiro dia. Tantos espaços a se liberar se quisermos ter mais controle sobre a vida que, com a aceleração de tudo, tende a escapar.

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